Tudo o que diz respeito à experiência do jornal pra mim ainda vem com uma carga muito grande de emoção, de sensação de perigo, de instabilidade, de expectativa
09-11-2024 às 11h:51 – Rufino Fialho Filho*
O livro? Acho que podemos conversar sobre estes temas, livro e o lançamento de um jornal diário, que seria uma maneira de você ir guardando subsídios e se organizando.
Não há melhor estilo do que o objetivo, que é o estilo Jack London, Hemingway, Graciliano Ramos, Wander Piroli (no google você encontra coisas ótimas do Wander).
Em qualquer das opções – drama, comédia, sátira, bom que fossem todas – há espaço para a objetividade, para a clareza seguindo os conselhos, propostas, do Ítalo Calvino para este nosso milênio. Ser claro. Seja clara. Seja objetiva. Seja objetiva, curta, direta.
Pronto, o estilo está definido e é o melhor estilo. Estilo que você tem de sobra e sempre teve.
Emoção é vida.
Exemplo: “Tudo o que diz respeito à experiência do jornal pra mim ainda vem com uma carga muito grande de emoção, de sensação de perigo, de instabilidade, de expectativa quanto ao próximo susto e, ainda, de decepção e de exaustão e repulsa”.
Distanciamento? Qual a distância necessária? Acho que nem mesmo os historiadores sabem. Um dos melhores relatos sobre 1964 que li, foi o livro Sexta-feira,13, de Aliomar Baleeiro, que fora ministro da Justiça de Jango. O golpe foi no dia 1º de abril e o livro estava na rua em novembro, editado pela O Cruzeiro – a revista tinha uma editora.
No calor da hora é também uma distância, talvez a melhor, desde que tenha o ingrediente do jornalista, o relato direto e objetivo dos fatos.
Numa situação destas ninguém julgará ninguém.
Escreva, relate, avalie, fale as coisas, descreva as situações e as pessoas, recolha dados necessários para esclarecer o leitor.
Vamos começar pelo personagem principal. Escreva sobre o Fritz Utzeri, a sua relação pessoal e profissional com o Fritz, o sonho desse médico que se tornou um jornalista apaixonado e um colunista de mão-cheia de palavras, ideias e sonhos.
Entre neste sonho do Fritz Utzeri de largar as águas de Ipanema, abandonar o surf (já imaginou o grande Fritz surfando?) do Leblon e deslizar, rápido e redondo pelas turbulentas águas da famosa e internacional Halfed, a rua mais famosa de Juiz de Fora e que acaba em Ipanema.
Conte dele o que você soube (sem se preocupar em confirmar, o homem é lenda também) e o que você conviveu, a sua lealdade ao texto e à notícia, as avaliações dele sobre o trabalho da redação e o comando.
A comédia e a sátira têm seus dois principais personagens, os nossos Bouvard e Pecouchet (Flaubert): J. Paulo x Ivanir, gente, gente boa gente demais. O dois e a galera, aqueles jovens atentos e capazes de enquadrá-los em suas sínteses (os gritos, as palavras de ordem etc.).
Omar Peres, figura central, merece uma análise a parte e você foi na mosca. Escreva, para mim, uma descrição, uma memória, da cena: a chegada. A chegada – este é o título desta matéria. Registre os antecedentes, a compra da tv e o que era a tv, a ideia do jornal – isto depois que você abrir sua matéria com a cena. Depois descreva a fazenda – dê uma passada rápida nas histórias que contam sobre Omar no mundo, Rio e adjacências, ele no governo Itamar etc.
“O jornal “Panorama” surgiu em 30 de novembro de 2003 com a promessa de ser um forte concorrente para o “Tribuna de Minas”. Inicialmente era impresso em formato standard, passando, após oito meses de existência, para o formato tablóide. Dessa forma, o espaço das publicações foi reduzido e pouco tempo depois a circulação passou a ser gratuita.
Em 2007, o jornal era impresso no formato berliner. Este jornal integrava as Organizações Panorama, que também é constituída pelo site “IPanorama”, a Rádio Panorama e a TV Panorama, hoje TV Integração. Seu presidente, o empresário Omar Resende Peres. A última edição do jornal foi publicada em 31 de outubro de 2008. O jornal circulava diariamente.”
Vamos continuar?
Um diálogo:
– Esta história do Ernesto é sensacional. Omar o identificou?
– Omar identificou Ernesto, pelo menos não demonstrou isso. Ele é dissimulado quando quer e acho que teve a oportunidade de identificá-lo, até mesmo porque a criou: num determinado momento, e não sei em quê contexto, perguntou:
“Quem aqui já morou em BH?”
Ernesto, lógico, levantou o dedo. E era apenas ele e a filha do Poti. Ali, Omar teve oportunidade de confirmar que se tratava do filho da sua editora Ana Goulart. Já tinha estado com ele várias vezes e, numa delas, chegaram a conversar. Ernesto, também, que não é bobo nada, ficou na dele, não buscou aproximação. Só comentou com a colega dona da festa que o conhecia, pois sua mãe já havia trabalhado no Panorama. E acho que a coisa morreu ali.
Bom amigo, eu não tenho esse senso de humor de imaginar o Fritz rolando sobre as ondas de Ipanema. Ele tem muito humor. É uma pessoa interessantíssima quando deixa transparecer o seu lado satírico, sarcástico e até mordaz.
Quando fala da obesidade, por exemplo, tem coisas engraçadíssimas para contar. É fuga, né? Taí., é uma pessoa com a qual gostaria de reatar relações.
Quanto à cena, ou as cenas, da fazenda, não dá apenas um caso, mas uma cena mesmo de novela de TV. Fomos para lá num sábado cedo, em ônibus fretado pelo Omar e todos felizes, como garotos em excursão de escola: cantando, jogando baralho, fazendo bagunça.
Fritz, ao lado da mulher, na primeira poltrona, quieto, talvez pensando na responsabilidade que tinha contraído para si.
…