A Democracia moderna está posta como regime político onde todos podem participar de modo igual e, portanto, colaborar na eleição e renovação permanente dos gestores públicos
Rogério Reis Devisate*
Trump venceu! Esmagou a adversária, conquistando a maioria dos votos dos delegados e da votação popular, com o seu partido dominando o Senado e obtendo vantagem na Câmara.
A visão do mapa eleitoral dos Estados Unidos mostra que os Democratas obtiveram bons resultados basicamente nas costas Leste e Oeste, onde estão, por exemplo, Nova York e Califórnia, respectivamente. Entretanto, o que naquele mapa chama a atenção é a dominante maré vermelha, que ali não tem significação comunista ou socialista e, sim, republicana. O nome Trump tem origem germânica e o radical da palavra tem a significação de trunfo, trompete ou triunfo.
Como trunfo, uma vantagem em relação a alguém ou alguma coisa. Como trombeta ou trompete, nas terras alemãs da origem do seu sobrenome, pode significar “Siegestrompete” ou a trombeta da vitória. Como triunfo, o sucesso, a aclamação. Como verbo, Trump significa ultrapassar.
Curiosamente, portanto, na etimologia e semântica, a palavra Trump traz consigo esses significados que, entre si, combinam-se e traduzem o mesmo sentido. Coincidentemente, rasgou os limites que algumas pesquisas e críticas faziam à sua candidatura e excedeu as expectativas.
Talvez – contra os prognósticos mais significativos das últimas semanas – tenha sido despertada a necessidade de se votar em quem falava dos valores nacionalistas e significativos do jeito americano de ser – o tal do American Way of Life. Isso pode confirmar que as pessoas podem ter forças para lutar por melhorar de vida, mas, inegavelmente, usam-na com mais vigor para não perder o que conquistaram, diante das ameaças representadas pelo crescimento da China e dos movimentos do seu comércio internacional.
Para alguns, a razão pode ter sido superada pela emoção, enquanto, para outros, a Democracia pode estar em risco ou, ainda, significar que as promessas levadas pelos democratas não tomaram o sentido empírico. Por isso, o retorno dos republicanos, via urnas, talvez justifique, exatamente, a entrega de tanto poder, por meio desta votação esmagadora, não só no âmbito da Presidência, mas, também, do Senado e da Câmara.
Noutras palavras, tudo isso significa uma grande delegação de poder governamental, que lhe permitirá fazer e realizar qualquer projeto.
Curiosamente, aqui, nosso Presidente declarou que achava melhor que Kamala vencesse aquelas eleições. Esperemos que isso não signifique trava nas relações nossas com os EUA, nessa segunda Era Trump, ainda mais com tanto cacife eleitoral.
A questão é que essa massiva votação – em Trump e no Partido Republicano – não pode ser vista, sob qualquer ótica, como desafio ou contrariedade à Democracia Americana. Pelo contrário, se a vontade popular é valor relevante nos regimes democráticos, este resultado significa exatamente uma ode à Democracia.
É, de fato, valorização, celebração e louvor à causa democrática, em votação livre e sem questionamentos pela oposição – sobre fraudes ou coisas afins.
Democracia não é correspondente à vitória das forças pseudo esquerdistas. A Democracia moderna está posta como regime político onde todos podem participar de modo igual e, portanto, colaborar na eleição e renovação permanente dos gestores públicos elegíveis. Se fosse de modo diferente, significando apenas que aparentes esquerda ou direita pudessem corresponder ao seu significado, teríamos não igualdade de todos, mas uma cláusula excludente e diferenciadora.
Atenção, portanto, à interpretação do significado das coisas, para que seja adequada como valor absoluto e não permita torto conceito.
Consta que Trump avançou 10 pontos sobre o eleitorado latino, em relação à sua votação de 2020, tendo, agora, conquistado 45% desses importantes votos, segundo divulgado em pesquisa de boca de urna. Este é um fator muito interessante, se pensarmos nas questões relacionadas aos temas protecionistas e sobre imigração.
Aspecto relevante também está na manutenção do seu nome em evidência durante esses anos da gestão Democrata, quando ocupou as manchetes dos jornais, ainda que por acusações e processos – aparentemente enterrados agora, pelo salvo-conduto da eleição presidencial.
Interessante detalhe, para considerações sobre as motivações para a sua esmagadora votação, está em matéria (Folha, 06.11.2024) que diz que a vitória de Donald Trump vinga os americanos excluídos, já que a “metade mais pobre do país segue estagnada, enquanto renda se concentra no topo”.
Por último, com a crescente força da China e da Rússia e a corrente mudança do perfil dos Brics, fala alto no íntimo dos trabalhadores americanos a proteção dos seus valores e da indústria e empregos.
Cabe, agora, reconhecer sua acachapante vitória e parar de se desvalorizar por suposta não significação democrática, apenas por não ser afeto à ostensiva visão esquerdista.
Que as relações sejam as melhores possíveis, já e doravante, com reciprocidade e respeito à Soberania de cada povo, com os mais significativos e prósperos relacionamentos políticos e econômicos, em homenagem ao livre comércio e à riqueza, autonomia e desenvolvimento das nações e em prol da paz global.
* Rogério Reis Devisate é advogado/RJ. Membro da Academia Brasileira de Letras Agrárias, da União Brasileira de Escritores e da Academia Fluminense de Letras. Presidente da Comissão Nacional de Assuntos Fundiários da UBAU. Membro da Comissão de Direito Agrário da OAB/RJ. Defensor Público/RJ junto ao STF, STJ e TJ/RJ. Autor de vários artigos jurídicos e dos livros Grilagem das Terras e da Soberania, Diamantes no Sertão Garimpeiro e Grilos e Gafanhotos: Grilagem e Poder. Co-coordenador da obra Regularização Fundiária Experiências Regionais, publicada pelo Senado Federal.