O que nos entristece sobremaneira é a falta de atitude dos prefeitos que não têm coragem de liderar um movimento a fim de trazer para o Vale os empregos que poderiam ser gerados aqui
Não é de hoje que a nossa região do Vale do Jequitinhonha vem coexistindo entre a riqueza e a pobreza. Desde antes do Império nossas cidades já eram ricas em reservas minerais diversas. A extração de ouro e diamantes em Minas Novas, Diamantina, Serro, Turmalina, Berilo, Pedra Azul, Itamarandiba, Rubim, Itaobim, São Gonçalo do Rio das Pedras contribuíram com Portugal para honrar suas dívidas com a Inglaterra.
Após a confirmação de que o Vale do Jequitinhonha detém a maior reserva de lítio do Brasil, chegando a 85%, nossa população assiste, desolada, a falta de atitude de nossos governantes para reparar esse passivo socioeconômico com uma região por demais sofrida.
Justiça seja feita. Temos assistido o deputado e médico, Jean Freire defendendo, dentre outras coisas, a fixação de uma fábrica de baterias no Vale do Jequitinhonha.
Desde o início das instalações de beneficiamento do lítio em Araçuaí e na Grota do Cirilo, em Itinga, o Diário de Minas manteve contato com a senhora Ana Cabral, CEO da multinacional Sigma Lithium, por mais de um ano, tentando manter um canal de comunicação aberto em busca de resultados sociais para a região. Quando o jornal começou a elencar demandas de impacto social relevantes nas pautas de reuniões, abordando questões graves na área da Saúde regional, quando pedimos a participação deles no projeto do hospital regional do câncer em Capelinha, apesar de terem se comprometido, o canal de comunicação foi fechado.
O Diário de Minas ao assumir parceria em defesa da construção do hospital do câncer de Capelinha e região e ter se esforçado para conscientizar a Sigma Lithiun e outros grupos empresariais que atuam na região para participarem desse projeto, percebemos que era só mais uma empresa como as demais, à qual importa somente o lucro.
Empresas que irão sugar até o último resquício de espodumênio para beneficiá-lo e retirar o lítio pronto diretamente para a indústria de baterias e deixar o meio ambiente destruído e os rios sem água.
O que nos entristece sobremaneira é a falta de prefeitos que tenham coragem de liderar um movimento para que os milhares de empregos que poderiam ser gerados no Vale do Jequitinhonha e reparar este passivo social, vão ser localizados na Bahia e em outros estados. Não que a Bahia não mereça, mas neste caso, é questão de bom senso.
É isso mesmo! Minas Gerais acaba de perder para a Bahia a instalação da Bravo Motor, fábrica de baterias de lítio. Os investimentos previstos são de mais de R$ 25 bilhões em sua construção. A fábrica seria em Nova Lima. Triste! Nem era no Vale. Tudo na surdina, vindo à tona somente agora.
Vale lembrar que o povo do Vale é muito grato por tudo que o presidente Lula fez por ele no passado, que teve como destaque a criação da UFVJM, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Nas últimas eleições, mais de 80% dos 700 mil eleitores de lá, deram pela terceira vez o seu voto a Lula. Pergunto-me! Tem gratidão maior que essa?
Por isso, não é plausível que os prefeitos do Vale do Jequitinhonha não se levantem para ir até Brasília, no mínimo, para lembrar ao presidente Lula desse detalhe.
É evidente que a decisão da Bravo Motor deixar Minas e ir se instalar na Bahia para fabricar suas baterias deve ter partido do presidente Lula corroborado pelo ministro e senador, ambos da Bahia, que coordenam as tomadas de decisões das políticas de governo.
É preciso urgentemente, que os políticos alinhados com o governo federal, pelo menos, relembrem o presidente Lula, que é sensível às questões como essas, que este é o momento e a forma mais justa e legítima de redimir a triste realidade socioeconômica de nosso povo.
Depois da decisão de reativar a ferrovia Bahia/Minas, em vez de levar lítio beneficiado para o porto de Ilhéus, esta ferrovia levará as baterias fabricadas no Vale do Jequitinhonha para o embarque. E poderia até levar o nome e a marca de: “Baterias Vale Mais.”
O presidente Lula precisa entender que esta decisão, caso tenha sido tomada por ele, não atinge o seu opositor Zema. Atinge no coração e na alma este povo que demonstrou, por três vezes, o quanto o ama.
*Soelson Araújo é empresário, político, escritor, comendador da “Soberana Ordem do Mérito do Emoreendedor Juscelino Kubitschek” e diretor presidente do Diário de Minas.