Créditos: Divulgação
08-11-2025 às 08h33
Sérgio Augusto Vicente*
“Você pediu café, amiga?!”
“Não, não! Eu não tomo café.”
“É mesmo?! Por quê?!”
“Desde que soube que o café do Brasil está todo contaminado.”
“Sério?! Mas nem por isso eu deixo de tomar café. Eu não vou passar fome por causa disso não! Deixa de ser boba, amiga!”
“Você já ouviu falar que, quando alguém é esclarecido, os ignorantes o ridicularizam?”
Minutos de silêncio e checagem de mensagens no celular.
“Você está trabalhando com o quê?”
“Sou cabeleireira. Tenho um salão lá no meu bairro.”
“Menina, você sabia que, há anos, eu não frequento salão? Eu mesma corto e pinto o meu cabelo.”
“Por quê?”
“Coisas de quem estuda física quântica… Você sabia que nosso cabelo é uma espécie de antena do corpo? Ele capta as energias de quem o toca. Parei de frequentar salão!”
“É mesmo?! Mas você acha que eu tenho energia ruim?”
“Não! De forma alguma! Do contrário, eu não estaria aqui conversando com você.”
“Ah bem! Então você pode cortar cabelo comigo, uai!”
Minutos de silêncio e checagem de mensagens no celular.
“Com açúcar ou sem?” Perguntou a garçonete.
“Sem. Tenho diabetes.”
“Você tem diabetes?!”
“Sim.”
“Menina, é só você comer aquela frutinha vermelha que isso acaba. Uma frutinha vermelha… Esqueci o nome… Só sei o nome dela em francês… Aquela!… Ah!… Esqueci…”
“É mesmo?! Eu tomo insulina. Meu médico disse que não tem como escapar dela.”
“Menina, faz anos que eu não sei o que é ir ao médico.”
“Por quê?!”
“Só tem mercenários. E eu sei do que estou falando, pois trabalhei na área de saúde.”
“Sei.”
“Então… médicos só inventam doenças pra vender remédios”.
“É…”
“Você sabia que foram os illuminati mais ricos do mundo que inventaram o remédio indutor do sono?”
“Não.”
“Pois é… Estão viciando todo mundo. Foi assim que eles ficaram ricaços.”
Minutos de silêncio e checagem de mensagens no celular.
“Meu marido vai comprar carne hoje. Churrasco no domingo.”
“Deus me livre de carne! Não sou vegetariana nem vegana, mas tenho nojo de carne desde criança. Quando eu morava na roça, em São João Nepomuceno, meus pais matavam porco e ficavam insistindo pra eu comer carne, mas eu repugnava. Por conta disso, se cansaram de me levar ao médico. Achavam que eu estava doente.”
“Olha só! Você sabia que eu também não ligo muito?!”
“Menina, talvez você nem saiba disso, mas é mais quântica do que imagina. Só precisa se informar melhor sobre as coisas.”
“Sei… Um dia, terei um pouquinho do seu conhecimento, amiga!”
“Fácil não é, mas você tem potencial.”
“Quem sabe…”
Minutos de silêncio e checagem de mensagens no celular.
“Um amigo lá dos Estados Unidos acabou de enviar mensagem aqui no grupo do Whatsapp. Sempre me envia novidades. Com isso, vou aprendendo, né amiga?! É assim que a gente vai ficando mais sábia a cada dia.”
Minutos de silêncio e checagem de mensagens no celular.
“Desculpa! Tenho que ir agora. Mais tarde eu tenho faculdade.”
“Taí outra coisa de que eu me desapeguei.”
“O quê?!”
“Faculdade.”
“Por quê?!”
“O caminho para o verdadeiro conhecimento e libertação, amiga, é a autonomia. Esses professores só doutrinam os alunos com um monte de mentiras. Hoje em dia, pela tela do celular, a gente conhece os mistérios do mundo e pode escolher como se informar. O resto é bobagem.”
Minutos de silêncio e checagem de mensagens no celular.
“Agora, tenho que ir. Obrigado por compartilhar comigo seus conhecimentos quânticos tão profundos! A gente sente, de fato, uma mudança de vibração e energia só de estar ao seu lado.”
“Por nada, querida! Estamos nesse mundo pra isso mesmo. Pra ajudar uns aos outros.”
“Beijão!”
A amiga passa no caixa, paga a conta do cafezinho e segue seu destino. Na mesa, a mulher quântica espera o tempo passar à frente do celular. De repente, é interrompida.
“Moça, tem um farelo de pão no seu cabelo!” Alertou a garçonete.
“Onde?”
“Aqui ó! Pode deixar que eu tiro pra você!”
“Não precisa!”
“Eu tiro!”
“Não precisa!”
“Pronto! Tirei!”
Minutos de silêncio.
“No débito ou no crédito, Senhora?”
“No crédito.”
“Cartão bloqueado, Senhora!”
Segundos de silêncio. Queda de energia quântica. Não pode ser outra coisa!

