
Foto de família - créditos: arquivo pessoal
14-09-2025 às 08h00
José Altino Machado (*)
Em Sete de Setembro de 2017, escrevi uma crônica que hoje volto a publicar. Deveria tê-lo feito no 07 passado, mas não o fiz. Por mais que desejasse homenageá-lo em um dia especial a ele, não consegui deixar em dividir sua experiência e sabedoria com a sociedade e políticos nestes presente anos.
Meu pai tinha dez anos quando inauguraram a ferrovia chamada Estrada de Ferro Vitória-Minas, ou seja 1916. E eu também tinha dez, 1952, quando o questionei o porquê existindo uma ferrovia há tanto tempo, mais o fato de séculos passados nossa colonização, Porto D. Manuel, ter-se iniciado por decreto real, ainda assim desenvolvimento e progresso custaram tanto a chegar.
Ainda mais que benefícios externos aconteceram. Saúde pública, trazida por norte-americanos, assim como água encanada e desenvolvimento econômico. Energia elétrica, motorizadas e vermelhas, só em nossos puteiros (melhores do interior mineiro; herança dos gringos em reforma a ferrovia, também onde perdi a virgindade e muito baguncei).
Quanto aos moradores, famílias normais do município ainda embrionário, tiveram também comigo, de esperar Juscelino chegar ao governo do Estado para brilharem em nossas ruas darem friozinho útil em nossas geladeiras.
Sua experiente resposta educou-me bem mais que as casas de tolerância havidas com grandes ensinamentos em cada palavra.
“Ferrovias são vias que interligam pontos em desenvolvimento. Bem diferente das rodovias que o são para penetração, que permitem ocupação, exploração de comercio e riquezas às suas margens. Preste atenção, nem tantos anos passados, após a construção da Rio-Bahia (Br-4/Br-116), quantos municípios e fazendas surgiram. Nossa agropecuária explodiu e é o maior fornecedor próximo a grandes centros consumidores, a observação há que ser a interesse da Nação”; e foi por aí afora…
Hoje quando não só leio como escuto as estultices quanto a ferro-grão, desaguadouro mais que emergencial de riquezas do interior do país, olho ao céu e pergunto:
– “Tá vendo isso pai?”
Mas, o que poucos veem, é que seria a “morte matada” da indústria rodoviária abastecedora da estrada ao uso da maior potência motorizada do mundo, uma ferrovia sobre pneus. E mais, lançaria ao vento o maior lobby político do país, o do transporte rodoviário, destruidor de tantas estradas de ferro, construídas desde tempos do Império.
Aquele mesmo que ajuda juntar índios, maioria com penas de araque, em Brasília.
Melhor ficar por aqui e continuar com Pai:
O meu caro Coronel
Por conta do destino, você foi por aqui o meu pai. Para você nem sei se foi tão bom, mas para mim foi um prêmio, algumas vezes até imerecido, tanto trabalho lhe dei. E hoje, agora, pela primeira vez estou lhe chamando de você, pois sempre foi senhor. Ai de todos nós, onze irmãos, se assim lhe tratássemos em vida. Castigo não haveria, mas o desagrado bem cortaria o interesse ou brilho da conversa.
Completam-se nesta data 24 anos que nos despedimos de você. Anos e anos de ausência sentida, não só por nós, mas também por muitos na comunidade, que bem ainda se lembram de você. Alguns outros dão para perceber, procuram crescer ou aparecer ainda através de sua figura ou da marcante personagem que em vida você foi.
Lá pelo ano passado, o comportamento de alguns jovens bem açodados, tangidos que foram por professores em busca de afirmação, expressão, ou mesmo procurando reconhecimento que nunca lhes chega, trouxe as minhas memórias inúmeras de suas participações vividas ao longo de sua presença neste mundo de tantas gentes.
Assim, fui abrindo escaninhos cerebrais e elencando recordações sobre você. Suas conquistas, formação e criação da família. E, por que não, de suas proezas. Esses jovens, ao buscar presença na sociedade, deram-se ao trabalho de em um ônibus de sua escola, portanto, do poder público, ir ao aeroporto de nossa cidade se manifestar e questionar por que a ele deram seu nome. Até proposta e exigência de outra denominação levaram, para mim, um desconhecido da história, possível ser, entretanto, aquele que seus mestres desejariam.
Ao que eu saiba e voltando no tempo, a primeira vez que veio por aqui já foi num treco que voava e parecia com avião. Seu pouso deu-se numa rua, hoje chamada Marechal Floriano, ali bem em frente onde hoje, fica a Rodoviária. Assim, um povoado emergente chamado Figueira do Rio Doce conheceu um conjunto homem-máquina que se permitia voar. Dois lugares, um na frente outro atrás. Marca do dito: Potterfield.
Carteira ou licença de motorista de aeroplano sequer existiam ou eram exigidas. E a que o senhor (daqui para frente será senhor) ostentava era do recém-criado aero-club de France.
Aliás ainda a guardamos com carinho.
Pois bem, a partir desse acontecimento, foi assim que todos os demais lugares embrionários, como Teófilo Otoni, Itambacuri, Jequitinhonha, Joaíma, Rubi, Almenara, Aimorés e, enfim, praticamente todas as cidades existentes no Leste mineiro conheceram avião, com um capitão PM, à época Altino Machado D’Oliveira, pilotando. Em acidentes o senhor foi campeão: nove. Sorte que nenhum deles sobre a pujante floresta do rio Doce, senão nem mãe te acharia mais e outros irmãos não nasceriam.
Ainda se permitiu disputar em 1938 o Rally aéreo daquele ano, mãe esperando recebeu nos braços um vice-campeão, meio a mais de centena de concorrentes.
Com o advento da Segunda Guerra, o senhor foi requisitado pelo Exército para, voando com o general Falconiery, auxiliar na demarcação, acompanhar e prestar vigilância à urgente construção da estrada Rio-Bahia, uma vez que submarinos alemães traziam insegurança à nossa costa. Missão essa que lhe tomou mais de ano de vida, causando-lhe ausência de casa e do amor de filhos e de nossa mãe.
Ao terminar tal guerra, instituída a regulamentação na aviação, lá estava o senhor entre os primeiros pilotos licenciados das Minas Gerais.
Seu primeiro avião aconteceu em 1929 e em seu último fui nele ao Rio de Janeiro para buscá-lo no hospital da Beneficência Portuguesa em Niterói, para que viesse morrer em nossa cidade, nossa casa e nosso lar.
Se o 7 de setembro aniversaria sua passagem, felizes ficamos ao relembrar quando se deu, pois em seu funeral se encontravam mais policiais presentes que marchando pelas ruas da cidade.
Quanto à meninada do aeroporto, ligamos não, alguém, muito mais importante disse:
“Perdoai-lhes porque não sabem o que fazem”. E quanto aos seus mentores, ditos educadores, que Deus lhes arranje algo mais útil a fazer junto à sociedade que lhes paga.
Portanto, você, senhor, meu caro Coronel, se para alguns em terra maiores atenções não lhes dão, nos ares foste um rei…
Nota: O Brasil está bem melhor, em conforto e realizações, mas cultura atrelada à condução política… uma bosta.
BH/Macapá-14/09/2025
(*) José Altino Machado é jornalista