Copasa vai pelo mesmo caminho da Sabesp - créditos: divulgação
26-10-2025 às 09h40
Caio Brandão*
Empresas voltadas para a prestação de serviços essenciais, tais como água, esgoto e energia elétrica, entre outros, se destacam como as “joias da coroa” do poder público. No tocante ao saneamento, elas estreitam vínculo com o governo estadual e prefeituras, fortalecendo relações entre os seus dirigentes e focando melhor compreensão das carências municipais e facilitando o encaminhamento de proposta de soluções para a equação de demandas. No cenário privado, no setor de saneamento básico, é comum a empresa entender lidar com clientela cativa, dócil e passiva, que só faz crescer e arcar com as contas de pagamento mensal de forma cotidiana e resignada.
Na visão de empresário privado, com raras e honrosas exceções, este é o notório “céu de Brigadeiro”, melhor impossível, inclusive em face de os programas de investimentos contratuais, nem sempre rigorosos no tocante a prazos, serem cumpridos com parcimônia, porque os dirigentes municipais são renovados a cada quatro anos, e as negociações vão retornando ao ponto zero, para começar de novo, sempre, ou quase isso. Enfim, imaginemos livre, leve e solta a SABESP privatizada e atuando nesse cenário que, em números redondos, abriga clientela cativa em torno de 28 milhões de pessoas atendidas com serviço de abastecimento de água e cerca de 24 milhões de usuários alcançados por serviço de coleta de esgoto. Dá para viver sem água e esgoto? Não. Daí o nome de serviço essencial.
MAS, A SABESP FOI PRIVATIZADA?
Foi, foi privatizada, para a alegria de quem dela assumiu o mando de sua gestão. Referida privatização, aliás, foi medida urgente tomada no governo Tarcísio, como se estivesse a empresa às portas de debacle ou algo do gênero, o que não acontecia. Por que retirar do Estado empresa sólida, competente e líquida? Argumentos frequentemente são utilizados para justificar situações controversas, pois documentos podem registrar qualquer afirmação. Além disso, é comum que as pessoas não leiam ou não compreendam completamente o conteúdo, enquanto as palavras podem ser facilmente dispersas sem controle. Viva o Terceiro Mundo.
QUEM COMPROU A SABESP?
Em que pese o Estado de São Paulo continuar a ser o maior acionista da SABESP, ele não mais comanda a Companhia. A empresa Equatorial Participações e Investimentos arrematou 15% das ações da SABESP, tornando-se o acionista de referência da empresa e detentor do mando de gestão. No programa de privatização da Companhia foram vendidos 32% do controle acionário, sendo que 17% passaram às mãos de outros investidores, incluindo vários deles institucionais e milhares de outros na categoria de pessoas físicas.
QUEM É O DONO DA EQUATORIAL?
Essa empresa faz parte do Grupo Equatorial Energia, e tem controle acionário pulverizado no mercado. Contudo, a gestão é exercida por grupo de investidores institucionais, sendo eles fundos de pensão nacionais e estrangeiros, que possuem participações minoritárias relevantes. Dentre eles destacam-se o Opportunity Assset Administrador de Recursos de Terceiros Ltda., Squadra Investimentos, Canada Pension Plan Investment Board e Blackrock,Inc.
O Grupo Opportunity é visto como um grupo vencedor, que não joga para perder e sempre garante bons resultados para os seus investidores, tendo sido fundado pelo legendário magnata Daniel Dantas, que continua ativo, mas hoje é secundado por Verônica Dantas e Dório Ferman.
A Squadra Investimentos – Gestão de Recursos Ltda. – é uma empresa independente, competente gestora de recursos de terceiros e de capital fechado, que tem como sócios outros midas dos negócios, sendo eles Guilherme Mexias Aché, Luís Mauricio de Miranda e Silva e outros não menos relevantes.
O Canadá Pension Plan Investment Board, também conhecido por CPP Investment é uma organização profissional de gestão de investimentos, que tem como meta maximizar a taxa máxima de retorno, sem risco de perda, para o Fundo de Pensão do Canadá. Os seus diretores são selecionados pelo Governo Federal do Canadá, mediante consulta aos governos das províncias do país. Enfim, o dono do Canadá Pension é um ativo em nome de 22 milhões de contribuintes e beneficiários desse fundo de pensão estrangeiro, que, agora, para o sustento dos seus velhinhos, passa a contar com os dividendos gerados pelo lucro advindo do faturamento da SABESP.
Finalmente, também acionista da Equatorial, que agora controla a SABESP, temos o fundo BlackRock, do qual a figura mais proeminente é o seu cofundador e presidente do Conselho de Administração e CEO – chief executive officer -, LARRY FINK, cujo nome costuma ser escrito com letras maiúsculas, em face do seu prestígio e talento para multiplicar ganhos e dinheiros. Mas, os principais acionistas da BlackRock são as empresas The Vanguard Group,Inc , Capital Reseasrch and Management Company e State Stree Global Advisors, Inc.
Fica claro, portanto, que o novo controlador da SABESB tem no sangue a busca de oportunidades de negócios, mas sempre com relevância para a multiplicação de dividendos, em face de lucro capaz de sustentar os seus propósitos e metas exigidas pelo seu quadro de acionistas e investidores. Moral da história, o governo de São Paulo tira do patrimônio de seus cidadãos um bem de inestimável valor, transferindo-o a terceiros, criaturas voluptuosas e multiplicadoras de dinheiro, inclusive estrangeiras, o que não está compatível com a natureza de empresa prestadora de serviço essencial, em país em desenvolvimento.
A COPASA SEGUE O MESMO CAMINHO?
Sim, porque os investidores, que descobriram os caminhos do saneamento básico, estão sempre à espreita. As obras requeridas são representativas na quantidade, mas não exigem investimentos extraordinários, no tocante a maquinário e implementos. A grosso modo, retroescavadeiras, um e outro trator de esteira, betoneiras e caminhões basculantes, além dos peões para carregar o piano, costumam ser suficientes para as obras de saneamento básico, excluídas obras de estações elevatórias e de tratamento de água e esgoto. Aliás, o básico está no nome do tipo de saneamento. Registre-se que também os reservatórios de acumulação de água bruta costumam sair baratos – sem contar as desapropriações -, porque os maciços não são de concreto, mas de material compactado por camadas, uma mistura de terra, argila e areia. Curiosamente, nessa linha de obras com baixo dispêndio com a compra de equipamentos, no SICEPOT, Sindicato da Construção Pesada de Minas Gerais, reinou, durante muito tempo, o “centrão” daquela entidade, representado por várias pequenas e médias construtoras voltadas para essa atividade e que tinham como cliente principal exatamente a COPASA.
QUEM VAI ARREMATAR AS AÇÕES DA COPASA?
Antes do leilão de privatização, o governo Zema terá que reverter artigo constante da Constituição Estadual, que exige autorização legislativa e consulta popular para alienação de bens públicos. Essa providência está em curso, salvo engano, inclusive mediante subterfúgios ora denunciados na imprensa. Mas, vencida essa etapa, no leilão deverão estar presentes os investidores nacionais e estrangeiros que tomaram gosto pela segurança oferecida pelas empresas de saneamento e pelos seus resultados financeiros positivos e garantidos. Sobre os investidores, é difícil prever, porque são como aves de rapina, que surgem de repente, saindo de entre nuvens, e ostentando bicos e garras afiadas. Mas, as cinco maiores empresas de saneamento que se encontram em operação, certamente vão se interessar pelos 11,4 milhões de usuários atendidos com abastecimento de água no Estado, em 592 municípios.
Uma carteira de 11,4 milhões de clientes garantidos e, em constante crescimento, não é um trabalho, mas uma bênção divina. As cinco maiores empresas privadas de saneamento básico, em operação, são as seguintes: AEGEA SANEAMENTO E PARTICIPAÇÕES, líder do setor, e que já absorveu várias empresas públicas do segmento, inclusive, mais recentemente, a Companhia Riograndense de Saneamento. Essa empresa tem como sócio o Grupo Equipav, seu acionista controlador, cuja AEGEA também é acionista da EQUIPAV, sendo uma empresa sócia da outra e vice-versa. Também sócia da AEGEA figura a Itaúsa, holding de investimentos do grupo Itaú, e, SURPRESA!!! O FUNDO SOBERANO DE CINGAPURA, que também possui participação acionária significativa na Aegea ( 19,08% ). Mas, quem controla a EQUIPAV, que controla a AEGEA? É a empresa Arcos Saneamento e Participações S.A. E, quem controla a Arcos? Documentos antigos, resgatados por IA, mostram que a Arcos era controlada pela LIV SANEAMENTO e pela EQUIPAV SANEAMENTO. Enfim, traduzindo em miúdos nesse emaranhado de sociedades entrelaçadas, devem prevalecer as famílias Toledo e Vettorazzo, que detêm as ações originárias.
E AS OUTRAS QUATRO MAIORES, QUAIS SÃO?
Comecemos pela BRK AMBIENTAL. Essa empresa é formada por grupo canadense de acionistas, que detém 70% de seu capital social. Os outros 30% pertencem ao FGTS, administrado pela Caixa Econômica Federal, que também procura investir em negócios de alta rentabilidade e segurança. Aliás, essa empresa Brookfiel está no Brasil desde 1899, quando explorava o serviço de transporte de passageiros através dos antigos e saudosos bondes. A empresa tem sede no Canadá, sendo uma gestora global de ativos alternativos. A terceira maior empresa do setor, atuando no Brasil, é a IGUÁ SANEAMENTO, que tem como sócio controlador o Canada Pension Plan Invesment Board, além do Alberta Investment Corporation, outro fundo de investimentos canadense, e o BNDES Participações S.A. A quarta maior empresa é a EQUATORIAL, já abordada no tópico da aquisição da SABESP, e a quinta maior empresa de saneamento é a GS INIMA BRASIL, subsidiária do grupo coreano GS, que está focada no tratamento de água e esgoto.
ESTÃO TOMANDO O SANEAMENTO NO BRASIL?
Não, não estão. O Brasil é que está entregando o seu saneamento básico para empresas privadas nacionais, com participação estrangeira, e até, eventualmente, financiando essas aquisições com dinheiro público, através de seus bancos de fomento, e permitindo a entrada de capital interessado em maximizar ganhos e ocupar espaço mediante aquisição de empresas líquidas, sólidas, com clientela garantida e lucro certo.
MAS, QUEM VAI LEVAR A COPASA?
Fato interessante: no leilão do controle da SABESP, apenas uma empresa ofereceu lance. E as outras, por que se omitiram? E agora, na COPASA, a EQUATORIAL fica de fora e quem vai ofertar? Não devemos elucubrar, para evitar processos e perda de energia. Afinal, quem parir Mateus que o embale. O saneamento básico no Brasil, mediante as informações aqui oferecidas, tornou-se negócio da China para os inúmeros e renomados investidores, que priorizam segurança e lucro certo. Contudo, Zema e Tarcísio, que parecem não enxergar o que outros enxergam, estão jogando com o mesmo baralho. Esperemos que as cartas não estejam marcadas. Alá é Grande, Alá seja louvado.

