Zagallo, o único 4 vezes campeão mundial
“Vocês vão ter que me engolir”, tornou-se um dos bordões mais famosos do futebol nacional. Isso ele pronunciou quando da parceria com Carlos Alberto Parreira
08-01-2024 às 0919h.
Direto da Redação
Mário Jorge Lobo Zagallo, ex-jogador e ex-técnico de futebol, brasileiro recém falecido, não era mineiro, mas o Diário de Minas não podia deixar de falar dele por vários motivos, afinal, Zagallo, chamado, era do tempo do futebol jogado “com arte”, muito antes, portanto, de virar “um meio de negócio”, como é praticado nos nossos dias.
Zagallo nasceu em Atalaia, Alagoas, em 9 de agosto de 1931 e foi com a família para o Rio de Janeiro aos oito meses de idade. Morreu como o único esportista a envergar quatro títulos de Copas do Mundo. Dois deles como jogador de futebol, nas copas de 1958 e 1962; um como técnico, em 1970; e outro como coordenador técnico, em 1994.
Quando recebi a notícia da morte de Zagallo, num átimo, a memória, minha companheira de todos os dias e da vida inteira, me trouxe a imagem de um menino, garoto ainda, em Montes Claros, no Norte de Minas, com os seus sete anos de idade, o ouvido quase grudado em um rádio movido a eletricidade, chiava, e por meio dele acompanhava a partida final entre Brasil e Suécia.
O menino, que ainda vive no adulto na terceira infância, acostumado a jogar futebol na porta de casa com bolas feitas de meia de sapato masculina, simplesmente ficou decepcionado porque a Suécia marcou primeiro. Mas, ele não desistiu e continuou ali, grudado à espera da reação, que, afinal, veio em série e o falecido Zagallo deixou a sua marca, aos 23 minutos do primeiro tempo, numa partida que transformou Pelé – Edson Arantes do Nascimento – mineiro de Três Corações, no “Rei do futebol”.
Foi uma festa, até parecia que o Brasil estava fazendo uma grande conquista sob todos os aspectos e isso mudaria as relações interiores brasileiras. Pelo menos no futebol, o primeiro título mundial mudou muito e se tornou de fato profissional.
Entretanto, aos 92 anos de idade, o mestre Zagallo parte numa época em que o futebol vive uma fase excessivamente violenta, quando as torcidas torcem e retorcem ao ponto de transformar as disputas em batalha de vida ou de morte.
Não se tem lembrança de cenas semelhantes mostradas pela mídia nos dias atuais quando o ponta esquerda Zagallo atuava no Botafogo do Rio de Janeiro ao lado de craques como Garrincha, Nilton Santos e Didi. Na época, a arte comandava o espetáculo do futebol. Era uma diversão. Para muitos virou paixão.
O campeão com quatro títulos mundiais deve ter morrido com uma pitada de decepção em relação ao desempenho atual da Seleção Brasileira. Tenho para mim que, depois daqueles estranhos 7 a 1 para a Alemanha, a Seleção Brasileira não mais foi a mesma. Patina na pior fase já registrada pelo menino, que, em 1958, com o ouvido grudado no rádio, ouviu o Brasil ganhar a sua primeira Copa do Mundo.
Dentre as coisas marcantes de Zagallo, ele deixou uma expressão, “Vocês vão ter que me engolir”. Tornou-se um dos bordões mais famosos do futebol nacional. Isso ele pronunciou quando daquela bem sucedida parceria com o técnico Carlos Alberto Parreira.