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A obra: “O Bem Viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos” de “Alberto Acosta”, alerta sobre a necessidade de se buscar urgentemente formas de viver. CRÉDITOS: Divulgação
A história humana ensina de modo irrefutável aos que a observam. Além disto, a ciência e os dados estatísticos permitem inferir diagnósticos a partir dos indicativos presentes.
19-02-2025 às 09h48
Daniela Rodrigues Machado Vilela*
Estudos de futurologia são contraindicados. De outro lado, existe o conhecimento sobre o passado. A história humana ensina de modo irrefutável aos que a observam. Além disto, a ciência e os dados estatísticos permitem inferir diagnósticos a partir dos indicativos presentes. Exemplificativamente, na medicina, apresentando-se certos sintomas é bem provável que desenvolva o indivíduo, determinada doença, que se adequa com o quadro clínico esboçado.
Assim, não se pode negar o aquecimento solar, pois é perceptível que os dias estão mais quentes, é inegável que a cada dia são extrapolados os recordes de temperatura. Também, catástrofes climáticas são noticiadas a todo o tempo em vários locais.
Viver se perfaz como uma experiência cotidiana de processos de aprendizagem, inclusive, de convivência com pessoas, situações, conjecturas, pontos de vistas, circunstâncias políticas, sociais e culturais. Os dados se renovam, a história ensina e os acontecimentos a cada dia ganham um contorno mais específico, diferenciado e singular.
A tomada de decisões pressupõe motivações. A vida cotidiana é desafiadora, diante da repetição do fazer, desfazer e refazer contínuos.
Ao ser humano é exigido um agir de modo crescentemente justo, ético e comprometido consigo mesmo e com o outro num contexto dialogal de aceitação e convivência com as adversidades.
A obra: “O Bem Viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos” de “Alberto Acosta”, alerta sobre a necessidade de se buscar urgentemente formas de viver mais solidárias, sustentáveis e de consumo consciente. Enfim, espaços de desenvolvimento de uma relação mais harmônica e generosa entre os seres humanos e a natureza com fins de preservação do planeta e de repartição dos bens para todos, para que o viver bem seja acessível e partilhado.
Alberto Acosta, na obra citada, infere que caminhamos para um colapso enquanto civilização, pois vive-se sob a égide de um consumismo exacerbado de recursos que são finitos. Porém, parece ser inequívoco que o planeta pede socorro, já que a ação do homem sobre o meio ambiente é deletéria em demasia.
O autor adverte ainda, que repetir os mesmos modelos pode ser perigoso, pois é tempo de usar os recursos com parcimônia, de viver em comunhão e com maior equilíbrio com a natureza. Estas são tarefas para hoje. Sugere-se um pacto de convivência ambiental harmônico e de efetiva preservação.
A natureza não é uma fonte de recursos inesgotáveis e, portanto, eterna. Ao contrário, ela é finita, seus recursos se consomem e podem se esgotar. Há uma lógica perigosa e desastrosa de produção e consumo a qualquer custo.
Há um cenário evidente de crise, pois explora-se a natureza em velocidade muito maior do que esta consiga se recuperar. Rompeu-se qualquer métrica de equilíbrio. A produção de mercadorias é brutal e com isto a natureza virou um mero objeto. É preciso protegê-la.
A prática de consumo necessita ser remodelada, para um modelo que pressuponha consumir em menor quantidade e maior qualidade. Para que, em alguma medida, se contenha o excessivo produtivismo e consumismo.
A natureza possui limites intransponíveis, pois os recursos se esgotam. O individualismo ególatra, a sanha por ganhar muito dinheiro desafia a razoabilidade.
O fetiche pelas mercadorias é perigoso. No capitalismo “quase” tudo se converte em mercadorias que serão colocadas à venda. Todos almejam consumir.
Não cabe uma visão simplista dos efeitos deletérios no meio ambiente da fúria consumista. O cenário não é animador, basta se observar a devastação ambiental sem precedentes, tudo para produzir mais e mais.
Os direitos da natureza são elementares e deveriam estar previstos em todas as cartas constitucionais.
Os povos indígenas vivem em harmonia com o meio ambiente e têm muito o que ensinar. Retiram da natureza apenas o necessário à sua sobrevivência, sem excessos ou armazenamentos desnecessários, estão ligados à terra e fluindo com esta, há um sentido de coletivismo partilhado. É urgente aprender a incorporar de modo criativo soluções pensadas e praticadas por quem nos antecedeu.
Cabe ao Estado atuar para promover oportunidades de melhoria de vida dos mais pobres, pois parte das pessoas, está à margem das políticas públicas sociais. Para minimizar o sofrimento do povo os governos necessitam, dentre outras coisas, investir em educação, saúde, combater a pobreza, remodelar os hábitos de consumo e não permitir que seja deteriorado o meio ambiente.
O produtivismo, ao que tudo indica, resultará em um contexto de devastação ambiental sem precedentes, porém não estão sendo realizadas medidas eficazes para evitar esta insanidade. Isto porque, não parece haver outro modelo de produção e consumo, mas talvez, num dia não muito distante, não se tenha outro local para se habitar e sejam todos tragados pela catástrofe. As respostas e reações deveriam ser urgentes, mas o processo vigente está em letargia em virtude do fetiche das mercadorias, da sedução para consumir.
Portanto, a realidade nos traz uma tarefa inadiável para este momento histórico: há uma iminente catástrofe ambiental à vista, ao que tudo indica. Os desafios estão postos, as respostas e ações são insuficientes, os modelos não dão conta da complexa realidade, enfim, é tempo de reinventarmo-nos!
* Doutora, Mestra e Especialista em Direito pela UFMG. Atualmente, Residente Pós-doutoral pela também UFMG, com financiamento público da FAPEMIG. Professora convidada no Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Minas Gerais. Pesquisadora em Filosofia, Direito do Trabalho e Linguagem. Diletante na arte da pintura.