Violência nos estádios: até quando?
Muitos torcedores e até jogadores rotulam as pessoas que amam os seus clubes que jogam contra o deles, como inimigos.
03-12-2023 às 17:37h.
Flávio Albuquerque*
Sabe-se que a sociedade necessita de uma conscientização ao tratar do respeito alheio. A violência nos estádios é um desses exemplos negativos.
Muitos torcedores e até jogadores rotulam as pessoas que amam os seus clubes que jogam contra o deles, como inimigos.
Falta respeito e sobra ódio em muitas ocasiões.
O caminho percorrido ao estádio parece mais uma batalha, uma guerra. Cenas de confrontos, podendo chegar até a morte, já se tornou comum nesse meio. Torcida única ou apenas 10% do visitante: essa medida é adotada em vários lugares do Brasil. No entanto, brigas também acontecem em bares e até mesmo entre familiares. A falta de tolerância resulta em agir por impulso, sem pensar nas consequências.
Por falar em consequências, as punições devem servir de exemplo, precisam ser rigorosas e colocadas em prática de uma maneira mais eficaz. Na Inglaterra, os Hooligans mandavam e desmandavam nas cidades. Em vez de tentar conter os baderneiros depois do início dos confrontos, a polícia inglesa passou a identificá-los previamente. Todos os times ingleses tiveram de instalar em seus estádios sistemas de monitoramento por câmeras.
Ao localizar um hooligan, ele é retirado do estádio. O embate entre policiais e torcida foi substituído pelo trabalho discreto de inteligência. Há um oficial escalado para estudar o comportamento dos torcedores de cada clube profissional inglês. Ele informa à polícia a identidade daqueles potencialmente mais perigosos.
Na temporada 2012-2013 do futebol inglês, houve 2 456 prisões de torcedores. A maioria dessas detenções resultou em Ordens de Banimento do Futebol (FBO, na sigla em inglês). O torcedor que brigar, receberá uma FBO e é obrigado a ficar de três a dez anos afastado dos estádios. Para garantir o cumprimento da pena, ele tem de ficar em uma delegacia enquanto seu time joga.
Quando a seleção inglesa atua fora do país, o vândalo é obrigado a entregar seu passaporte cinco dias antes do jogo. Quem desrespeita a regra, é preso e processado. Só com leis severas e punições exemplares que isso se deu ao fim. Atualmente, o público fica próximo ao campo de jogo e, se alguém invadir o gramado, é preso e banido do estádio por vários anos.
Para algumas torcidas que são chamadas de organizadas, no Brasil, burlar regras, praticar uma ação contrária ao senso comum, representam status e isso acaba ganhando um reconhecimento fora do comum. Brigar e pegar alguma vestimenta do torcedor adversário como camisas e bonés acaba sendo visto como um troféu.
Infelizmente, enquanto algumas medidas são exemplares na Europa; outras são ignoradas, como os inúmeros casos de racismo na Espanha, com o Vinícius Júnior como principal vítima, e ninguém faz nada para cessar esses atos lamentáveis.
Na semana que estava elaborando esta coluna, aconteceram cenas deploráveis no Maracanã, na partida das eliminatórias da Copa do Mundo, entre Brasil x Argentina em que as autoridades não se preocuparam com a rivalidade desses países no universo futebolístico e houve setores no estádio com as respectivas torcidas juntas, ou seja, não tomaram os devidos cuidados para essa situação. Observamos inúmeros conflitos, mães preocupadas até com crianças no colo; enfim, mais um exemplo negativo em campos de futebol. Foi a gota d´água desse quesito que abordamos por várias vezes. Até quando, teremos que conviver com essa calamidade?
Assim, enquanto leis severas e punições exemplares não forem colocadas em prática, muitas famílias deixarão de ter os seus respectivos momentos de prazer, além de perderem seus entes queridos nos próprios estádios e em seu cotidiano.
*Flávio Albuquerque, professor de Língua Portuguesa e jornalista esportivo, é colunista do Diário de Minas.
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