Venezuela pode ser invadida - crédito: Zé Altino
28-12-2025 às 08h28
José Altino Machado (*)
Início década dos setenta, chega ao comando do Comar-1 em Belém, o Tenente-Brigadeiro do Ar Camarão, João Camarão Telles Ribeiro. Assumiu com gosto e gás. Frequentador abelhudo, naqueles tempos notáveis de aviação sem radares e GPS, volta e meia, lá buscava algum apoio. Principalmente, porque àquela ocasião, os militares eram os únicos companheiros das poucas atividade extrativistas no interior amazônico.
Contam como lenda que, tendo o governo Central, militar, em 1967, depois de ter criado o primeiro grande parque indígena, o Tumucumaque, que abrangia zona fronteiriça, necessitavam com urgência lá construir uma pista de pouso.
Porém, à época, como ainda hoje, quem sabe fazer aeródromos, se assim os podemos chamar, de machados, pás e picaretas em selva bruta, são os garimpeiros. Os milicos os queriam fazer a tratores. Aí, começou uma história um tanto confusa, valendo o talento e esperteza do tenente-brigadeiro Camarão.
Olhem bem gente, dizem… dizem que, como a Boing havia lançado os famosos helicópteros CH 47 Chinook e que corriam mundo para vendê-los. Nosso Brigadeiro, logo, pediu uma demonstração. Só para ver se eram bons como apregoado e tal e tal…
A amostragem dos bichões, seria transladar com segurança os tratores Caterpillar D-6, ilesos, para o coração do parque recém-criado. A comunidade originária envolvida era a dos Tiriós.
Os dragões voadores da Boing se saíram muito bem. Nenhuma falha, pane ou risco corrido.
Agora gente, outra vez “dizem”, tratores na mata, pista de pouso iniciada, o tenente-brigadeiro do Ar sem nenhum sorriso, sequer amarelinho esclareceu:
– Bem laika nós laikou muito, mas money que é gud, nóis num rave.
A fabricante foi-se um tanto aborrecida, mas a pista ficou pronta e Camarão tomou gosto.
Como seu comando abrangia toda a Amazonia, se mandou para Roraima, que também como o parque, o território estava entregue aos cuidados da Força Aérea Brasileira.
Primeira providência, atendendo aos desafios adquiridos, construir uma pista na fronteira com a Venezuela. Nem mais nada tão novo nessa “engenharia”. Com a ajuda de melhor geografia e homens experientes, nada demorou. Beleza de pista para aviões de até médio porte.
A comemoração do feito durou pouco e a Boing se não riu, sentiu-se um pouco vingada. O brigadeiro, às expensas do erário brasileiro, construíra a pista em território venezuelano.
Não muito, mas reconhecidamente era deles o território e a nova pista, uma vez que o tratado de limites elaborado e assinado por Dom Pedro bem dizia, água correu para cá, nosso, correu para lá de vocês. Quer dizer, sempre o divisor hídrico.
Assim, perdemos uma excelente obra de engenharia, perfeita aos propósitos doa guardiões de fronteiras, que transpôs espaço, tempo e custo.
Se ao Brasil proveito não houve. Ao país vizinho teve, que assentou a base Parima B e a mim, também. Poucos anos mais tarde pude aprender o valor e a importância desta pista venezuelana.
Quando voando baixo tempo, ruim, não conseguia meio, aos montes, de entrar para pouso em uma pista por mim construída, conhecida pelo nome de Cassiterita, seu minério mais presente, a três quilômetros daquela mesma fronteira.
Carregado, pesado mesmo e não querendo retornar hora e meia, conhecedor da Parima, 10 minutos, para lá alternei, acreditando ter explicações a dar e ainda tolerar a usual arrogância venezuelana. Que surpresa…
Embaixo de chuva intensa me recebe à porta do avião, um ainda desconhecido coronel, comandante militar do Estado do Amazonas, venezuelano, de nome Hugo Chaves.
Esclarecimentos dados de porquê estar ali, avião vistoriado, minha arma recolhida, fui “invitado” ao café. Lá aconteceram mais de duas horas de um papo construtivo e esclarecedor do mundo instituído por Simon Bolivar.
Com avião e arma, de lá sai com uma compreensão totalmente diferente do que imaginava ser apenas uma inteira e esnobe Venezuela.
Só então percebi que o maior problema deles para conosco, inclusive nos considerando miscigenados de segunda classe, era tal qual o deles próprios. Onde descendentes dos submetidos povos originários, 76% da população, nenhum acesso tinha às riquezas, educações aprimoradas e sequer a oficialatos superiores a coronéis nas forças armadas.
Acontecia controle total de eurasianos, descendentes de europeus e seus parceiros norte-americanos. Nenhuma abertura maior a eles de escolas de níveis superiores, sequer ensino para lida da economia, trabalhos e cultivo do campo.
País bastante modernizado e povão com pouca cultura para dirigi-lo. Modelo apropriado da abandonada África colonial, em plena América do Sul e em tempos ditos modernos.
Quanto a isso, Deus deu-me a oportunidade de conhecer tal problema em Moçambique. Campo de refugiados, mais de vinte mil almas a morrerem de fome, em uma fazenda com tratores, arados e colheitadeiras. Tudo parado ao tempo, faltando apenas a sapiência humana para a operação de produção ao sustento.
O revolucionário Chavez, não chegou ao poder, mas aninhos à frente, o candidato Hugo Chavez, eleito, o fez. Um pouco dosado pela vingança, ameaça constante à prudência humana, partiu para cima. Tangidos, eurasianos dominantes da economia escafederam-se e, com eles, os até então intocáveis norte-americanos.
Estes últimos, com o sentimento que nada deles é tomado, declararam incontinente bloqueio ao país e ao seu novo sistema. Acompanhando a América, do saudoso Lincoln, aderiram todos, sob controle econômico do dólar; restando apenas seus ditos oponentes, não em economia, mas na política, conhecidos como comunistas e esquerdistas.
Fazer o que, o que fazer?
Se lhes falta até cultura para ser um ou outro.
Até a grande diáspora, tão explorada, é resultado e produto, não só do bloqueio, mas da inoperância cultural. Por sinal, como todos, não tinham presidentes, nem ministros e tais, hoje, tão corruptas formas de dirigir uma Nação.
Eles tinham sim, chefes, conselhos, guerreiros e respeito aos mais velhos.
Algo que aqui tantas Ongs, “artistas e cantores, ditos intelectuais” para fazer bonito, dizem defender. Mas, lá é a Venezuela, com a maior reserva de óleo combustível e gás do mundo. O que deu a vacilo ao ingresso, em questões de política, a secular premiação de valores a serviço da humanidade.
O mais grave é a inércia política e presencial das conduções latinas-americanas perante as ameaças externas até da ORDEM MUNDIAL, na base do, se não me der, eu tomo e ainda oferecer prêmio à morte daquele que acredita ser seu empecilho.
Quanto a nosso país, também uma pena sua condução não haver encontrado, embora os tenhamos, executivos com cultura e saber para adentrarem a questão e trazer, não só ao espaço sul-americano, mas ao mundo dito organizado, o que é tão necessário à paz mundial, O RESPEITO.
Não só os Estados Unidos, mas bem parece que muitos não se apercebem que Venezuela é uma perigosa questão explosiva de etnia e que toda e qualquer solução ao aventado conflito, deverá sim, ser internamente resolvido e observada a latente realidade venezuelana.
A simples e brusca queda de aparentemente, um único homem, imposta por forças estrangeiras, movidas por particulares interesses, não promoverão retorno ao passado. Deverá ainda criar absurda e longeva desestabilização, não somente internas, mas com estilhaços a todo o continente.
Tempos e gerações haverão de correr trazendo consequências algo parecidas às provocadas pelas diferentes etnias e culturas árabes/judaicas. Como lá, surgirão, de vez:- GUERRAS SEM HONRAS, COM ÓDIOS E DESORDENS…
BH/GV/Macapá, 28/12/2025
(*) José Altino Machado é jornalista
Nota: O Tenente-Brigadeiro do Ar João Camarão Telles Ribeiro (08/06/1906 +07/04/2000) foi um dos melhores comandantes militares, em sua passagem pela Amazonia.

