Vamos sair das nossas poltronas
Estima-se que 150 milhões de índios americanos foram exterminados entre os séculos 17 e 19, e não havia mísseis. Foi na base de lanças e espadas.
25-10-2023 às 09:00h.
Márcio Metzker*
O povo palestino precisa muito da nossa solidariedade, das nossas passeatas, das nossas bravatas vociferadas contra os sionistas genocidas e dos candentes apelos à desocupação da Palestina.
Devemos continuar marchando em atos e mais atos, mas na segurança das nossas ruas, claro! Ninguém está disposto a ir lá enfrentar os soldados de Israel para libertar a Palestina. Essas passeatas aparentemente inócuas poderão apressar a queda do gabinete direitista de Netanyahu e dar aos moderados a chance de discutir a paz, mas oferecem o risco de fertilizar o antissemitismo e estimular a ressurreição na Europa de grupos extremistas como o Setembro Negro e o Baader-Meinhof, que se dedicavam a sequestrar e matar judeus nos anos 70.
Temos o dever de apoiar os palestinos, porque é papel da esquerda combater as atrocidades do capitalismo e do imperialismo americano, representados no Oriente Médio pelo colonialismo judaico. Repare bem: todos os discursos e textos que nos chegam são lacrimejantes argumentos em favor dos pacíficos e indefesos palestinos. Palavras como genocídio, apartheid e campo de concentração estão sendo repetidas à exaustão, embora inadequadas à realidade. E o pior é que estamos relevando e justificando os atos de barbárie do Hamas, os recentes banhos de sangue e profanação de cadáveres que eles mesmos filmaram e divulgaram para horrorizar o mundo.
Engavetamos nossas pautas civilizatórias para tomar partido dos palestinos oprimidos. Não importa que condenem suas mulheres a uma submissão revoltante, que apedrejem as adúlteras e que matem seus homossexuais. Não importa que cultuem uma religião de ódio e vingança, que tenham uma cultura retrógrada, tão diferente da nossa. Não importa que tenham mergulhado há séculos num obscurantismo tenebroso, que almejem apenas pastorear cabras, plantar oliveiras e meter a testa no chão em adoração a Alá.
Dizemos que são um povo valente e amoroso, solidário e dedicado à família, mas o Hamas não é tão amoroso e solidário assim, quando se escuda atrás de suas mulheres e crianças na linha de tiro do exército israelense.
Se esse povo corajoso quisesse terminar essa guerra e livrar-se do sofrimento de uma hora para a outra, bastaria que descessem aos subterrâneos de Gaza City, libertassem os reféns e trouxessem os assassinos do Hamas amarrados, para serem entregues à justiça de Israel. Imediatamente cessariam todos os ataques e eles receberiam toda a assistência de que necessitam, menos aquela que nossos pacifistas teimam em reivindicar de suas poltronas, que seria a retirada dos israelenses da Palestina.
Palestina Livre é sinônimo de Palestina Livre de Judeus, desde que os fundamentalistas islâmicos juraram exterminá-los e têm feito covardes esforços nesse sentido.
O sonho de uma Palestina livre, portanto, é apenas isso: um sonho, porque dependeria de promover nova diáspora dos judeus, depois de 75 anos colonizando aquele deserto.
Seria mais justo e mais humano promover uma diáspora dos palestinos, que constituem a minoria mais fraca e oprimida naquele território. O problema é que país algum concorda em recebê-los, muito menos seus vizinhos árabes.
Aí está um bom tema de estudos: por que os palestinos são os párias do islamismo? Por que têm o desprezo de jordanianos, libaneses, sauditas e egípcios? Para quem acusa os judeus de invasores, é bom lembrar que eles são originários da Palestina. Colonizaram aquela terra há quatro mil anos, quando Abraão e seu clã saíram da Mesopotâmia com a ideia fixa de alcançar Canaã, uma terra onde louvariam o Deus Único imaginado pelo patriarca.
Depois andaram sofrendo pelo mundo, em êxodos, diásporas, pogroms e holocaustos. Os judeus também foram párias rejeitados pelos países ocidentais, até que fundassem Israel na sua terra de origem.
Se Alá suplantar Javé e conseguir a façanha de deixar em paz os palestinos com suas cabras e azeitonas, livres da nefasta presença judaica, devemos encarar em seguida um desafio ainda maior: devolver a América aos índios e voltar para a Europa e África, livrando o paraíso terrestre de nossa nefasta presença.
Estima-se que os espanhóis, portugueses e ingleses exterminaram 150 milhões de índios americanos entre os séculos 17 e 19, e não havia mísseis. Foi no manejo sangrento de lanças e espadas. Infelizmente, para fazer justiça e devolver a América aos povos originários, não bastaria orar para Manitu.
Teríamos que sair das nossas poltronas.
(*) Márcio Metzker é jornalista
1 Comentário
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Prezado Márcio Metzker, será loucura pensarmos que o Hammas tem ajuda americana? A quem interessa o uso de palestinos, como escudos humanos, nesta guerra, sim! milenar, mas que é permeada por quem vende continuidade da própria guerra? Quem são os "profissionais vendedores de guerra"? Obrigada, por fazer do jornalismo uma atividade de resistência!