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Vamos beber o lamento

A propósito do Dia da Água, lembrado nesta semana passada, é oportuno tratar aqui um exemplo dado pelo Prefeitura de Cambuquira , no Sul de Minas, contra o desperdício

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24-03-2024 às 07h:37

Bento Batista*

Todo desperdício incomoda. Mas entre os desperdícios, o que mais incomoda é o desperdício de água. Enquanto a água jorra das mangueiras dos condomínios da zona sul de Belo Horizonte, para tomar um exemplo, vêm sempre à lembrança dificuldades enfrentadas por famílias da periferia da cidade. Ou das cidades do Norte de Minas, do Nordeste brasileiro. Ou, para ir mais longe, a falta d’água no Oriente Médio.

Milhões de pessoas passam falta d’água enquanto a água é jogada fora no desperdício diário da “hidrovarrição”. Além da água em si mesma, que vai para a boca-de-lobo, é preciso conscientizar-se de que essa água é tratada. E só quem já foi a uma estação de tratamento de água da Copasa sabe a quantidade e o custo dos produtos químicos para tratar a água barrenta. Em período de chuva, é quase lama que vem.

Essa água é captada e passa por cuidadoso processo de decantação e tratamento até chegar às torneiras. O passeio das águas é longo, custoso, caro.

Sempre que as pessoas mal acostumadas com a “hidrovarrição” ouvem alguém reclamar do desperdício, costumam dizer: “a conta está paga”. Como se o fato de pagar a conta d’água fosse bastante para dar-lhes o direito ao desperdício.

O problema não é o dinheiro, mas a água preciosa que a cada dia fica mais preciosa ainda em várias partes do mundo.

Entretanto, um exemplo dado por Cambuquira, cidade do Sul de Minas, anos atrás podia virar moda. E se a moda pegar, os condomínios que desperdiçam água terão de reaprender a usar balde e vassoura e aposentar a mangueira, pelo menos para a “hidrovarrição”.

O prefeito da cidade baixou um decreto proibindo, por cem dias, qualquer desperdício de água. Quem desrespeitasse o decreto poderia ser multado e, ainda, ter a água cortada.

Lavar carros, varandas e calçadas em Cambuquira ficou proibido na época. A medida se fez necessária porque muitos moradores sofriam a falta d’água enquanto outros desperdiçavam.

No caso de Cambuquira, o problema do abastecimento de água estava relacionado com o fato de o sistema de captação ser obsoleto, construído em 1912. Não acompanhou o crescimento da cidade. A água é bombeada de uma nascente na serra das Águas, a 12 km da cidade.

O problema de Cambuquira é específico portanto. Assim como a decisão da Prefeitura Municipal foi inusitada. O ideal seria essa atitude ser seguida por outras prefeituras, em Minas e no Brasil, pois o problema é um mau hábito do brasileiro.

As gentes de fora em visita ao País ficam estupefatas quando veem as cenas de verdadeiros córregos descendo em alta velocidade pela sarjeta. Ninguém de bom senso é capaz de entender uma coisa desta!

Os sinais da escassez d’água estão aí para qualquer um ver. Por enquanto, aqui por estas plagas, quando o cidadão abre uma torneira sai água. Mas o dia em que as pessoas abrirem as torneiras e delas só saírem o ronco do cano vazio, todos valorizarão a água. E beberão o lamento do desperdício.

*Jornalista e escritor

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