
Exploração do lítio entre Araçuaí e Itinga no Vale do Jequitinhonha - créditos: divulgação
14-07-2025 às 10h10
Soelson Araújo*
É inaceitável que, em pleno século XXI, o Vale do Jequitinhonha continue sendo explorado sem se levar em conta a pobreza persistente, exclusão e descaso, enquanto suas entranhas são exploradas por grandes mineradoras em busca de riquezas como o lítio e outros recursos naturais. A contradição é gritante: uma terra rica, com um povo doente nas filas intermináveis das unidades de saúde.
O lítio, considerado o “ouro branco” do século, é estratégico para a transição energética global e para a indústria de alta tecnologia. No entanto, sua extração tem ocorrido sem que a população local veja qualquer benefício real. As promessas de desenvolvimento, emprego e melhoria de vida são, na prática, substituídas por degradação ambiental, deslocamento de comunidades, aumento da desigualdade, superlotação em hospitais, e um Estado ausente que não negocia compensações socioeconômicas para a região, que aparece apenas para garantir os interesses de grandes grupos econômicos.
Enquanto multinacionais e empresas de mineração lucram bilhões, os moradores do Vale do Jequitinhonha enfrentam a falta de infraestrutura básica, como saneamento, saúde de qualidade, estradas decentes e acesso à educação de qualidade. Jovens abandonam suas cidades em busca de oportunidades que sua terra natal nunca lhes ofereceu. As poucas políticas públicas existentes são pontuais, insuficientes e mal executadas.

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É urgente que se reverta essa lógica perversa de exploração sem compensação. O povo do Vale do Jequitinhonha não pode continuar pagando a conta do progresso onde só um lado enriquece. Exigimos um novo modelo de desenvolvimento: sustentável, inclusivo e com justiça social. Queremos investimentos em saúde, educação, cultura, infraestrutura, fábricas e valorização da agricultura familiar e da economia local. O lítio do Jequitinhonha não pode iluminar o mundo inteiro enquanto mergulha sua própria terra na escuridão da miséria.
Não é caridade o que exigimos. É reparação. É dignidade. É direito.
*Soelson Araújo é jornalista, escritor e empresário