
Brasil, um divino presente - créditos: divulgação
24-08-2025 às 08h28
José Altino Machado (*)
O Brasil está vivo, juro, eu vi. Tempos atrás, com mulher, e filhos, de carro, fui ao sul do país. Levava-me a saudade por tê-lo visto anos e anos atrás, década de 60, bem ali pelo Paraná, na fronteira oeste.
Na ocasião, o machado cantava solto, criando propriedades sem os chatos do meio ambiente aparecerem ou darem um pio. Motosserra ainda era novidade inexistente, assim como ganhar dinheiro apenas com a boca, como ambientalista. Lá, só trabalho e muito. Gente humilde, conhecedora do valor da terra e culto à vocação.
Pois é, após tanto, voltei lá, desprezando o avião. Queria ver, sentir e cheirar o ar, acalentado pelo aroma da terra. Que agradável surpresa me esperava! Centenas, porque não, milhares de quilômetros cultivados e desenvolvidos em lugar do inóspito matagal, infrutífero à humanidade.
Estradas, as melhores, apesar dos escandalosos pedágios cobrados naquelas paragens. E um atrás do outro, não se completava sequer 50km sem que eles aparecessem. As cidades lindas, casas rebocadas e pintadas, ruas limpas e todas extremamente arborizadas, com predominância dos Ipês.
Tanta beleza que talvez, prefeitos outros se sintam acanhados, não pensando nunca autorizar a cortá-las. (Alguns fazem isso, conheço). Inteiras e frondosas, formam florestas urbanas maiores que muitas naturais. Sinal de que o povo devolve a floresta a lugar útil, em substituição daquela que fora cortada.
Estive, vi e convivi com gente muito educada, cujo sorriso era marca da apresentação. Fomos, eu e família, tratados como visitas muito bem-vindas ao lugar. Até a Polícia Rodoviária Estadual (PM), ao nos parar e multar por ultrapassarmos em faixa contínua, foi extremamente gentil. Quase peço desculpas aos guardas pela transgressão cometida, por sinal de resultado caríssimo
O destino era e foi um maravilhoso lugar chamado Foz do Iguaçu, bem próximo da tríplice fronteira, Brasil, Argentina e Paraguai. Bom lugar, aliás, só não melhor porque a Argentina está lá e eles não conseguem mesmo gostar de nós.
Mas, repensando a história, quando estive em Cornélio Procópio e outros lugares, sem intenção pejorativa, eram apenas grandes paradas de tráfego. Cascavel, antes na lembrança da poeira e do veneno. Hoje, junto à formidável Londrina, Maringá, a melhor qualidade de vida nacional, também com lindas sedutores e cultas mulheres, formam o conjunto das mais progressistas e espetaculares cidades do Sul e, por que não, do país.
Mesmo assim, hoje no presente, em política, deles pouco se ouve falar. Se reclamam é pelo que deixaram de fazer e acontecer, nunca pelo que não veio ou pelo que não os pagam. Têm gosto, prazer e iniciativas próprias. Se ninguém lá comparece ou ajuda, eles sozinhos fazem acontecer, e como!!!
Foz, talvez seja a detentora do maior afluxo turístico do país. É o ano todo. Milhares de pessoas lá chegam, saem e mais chegam. Apesar do grande volume humano, nada congestiona. Para ir à recepção do Parque das Cataratas, a vinte quilômetros da cidade, chega-se rápido, o tráfego flui bem. Quando lá aportamos, à nossa frente 400 ou 500 pessoas talvez. Entretanto, não mais que dez minutos, fila desvencilhada e já estávamos acomodados no transporte interno.
Tanta gente, que haverão de perguntar ou se preocupar com os resíduos das visitas (lixo) e a resposta é simples: não são vistos e não existem. Nem uma simples guimba de cigarro no chão, tampouco as malditas sacolas de plástico. Limpeza total. Gente educada é outra coisa.
Pode-se pensar que em Foz do Iguaçu só tenha o salto formidável do rio com sua gigantesca queda. Ledo engano… Por lá, pode-se conhecer as réplicas das maiores admirações do mundo ou um vale cheio de dinossauros, uma caverna taberna de gelo, um museu de cera algumas vezes melhor que o caça níquel nova iorquino, Madame Tussauds. Dos Transformers, além do camaro, até o Bumblebee está lá ao natural.
Mas, não posso nunca deixar de dizer que logo ali ou logo lá está o Paraguai. Gente, eita Paraguai! Melhor que os argentinos. Nos tratam bem demais e sem vergonha nenhuma. Lá tudo é livre e liberado, de brinquedos a armas de grosso calibre. Compra quem quer. Tudo muito mais barato que nos países de origem dos fabricantes dos produtos. Sem impostos lá ou cá.
Já a travessia da ponte da amizade é uma festa à parte, parece uma gigantesca bagunça, mas não é. Com um pouco de fingimento, autoridades fazem de conta que controlam e gente faz de conta que é controlada. Se bem que nesses últimos governos, imitando norte-americanos, nossa turma da vigília fardada, além de estar pela Amazonia pondo fogo em pertences e no rabo de seus ocupantes, tem até programa televisivo, mostrando que trabalham.
Ninguém pense que é bagunça geral no vizinho. Lá todo mundo anda armado, se na grande praça de Ciudad Del Leste, alguém gritar pega ladrão, é uma correria e tiro para tudo quanto é lado.
Aqui, tiros só escondido, mas pode se gritar. Entretanto, nem os políticos correm…
Embora paradoxalmente, naqueles outros tempos, em Chapecó-SC o símbolo central seja um gauchão com machado na mão e, em Boa Vista-RR, seja um puta monumento aos garimpeiros, o Brasil continua danado de bom, e além de bonito, meio safado…
Belo Horizonte/ Macapá, 24/08/2025
(*) José Altino Machado é jornalista
