A Família Assad esteve na condução do país árabe por 53 anos, sendo passada do pai Hafez ao filho Bashar. O governo do país vinha sofrendo desestabilizações fortes desde a primavera árabe
17-12-2024 às 09h09
Adriano Augusto de Souza*
Síria é um país de tradição milenar localizado no crescente fértil, região do oriente médio, com saída para o mar mediterrâneo ao Oeste. Suas diversas expressões de tradição são bem-marcadas em áreas como na gastronomia e na arquitetura. As contribuições do povo sírio na formação do Brasil não podem ser calculadas. Desde a época do império as terras brasileiras vêm sendo adotadas por dezenas de milhares de imigrantes siríacos para ser um novo lar. Por razões que vão de guerras a perseguições, busca por melhores condições econômicas e de desenvolvimento, diversos fluxos imigratórios se dirigiram à América do Sul, assim estima-se que haja cerca de 8 milhões de sírios e descendentes vivendo hoje no cone-sul.
Ao longo dos séculos muitas destas famílias tiveram grande sucesso em se estabelecerem aqui. Nomes como Kalil e Kassab são referências na política mineira e paulista, além destes o nome Safra (do Banco Safra) dispensa apresentações, sendo referência nos setores de investimentos, imobiliários e em ações filantrópicas. A origem dos Safra vem da cidade de Aleppo, no norte da Síria, um dos centros mais antigos e importantes da história da humanidade, com cerca de 6 mil anos de ocupação contínua. Aleppo é uma referência regional estratégica, sendo um importante polo industrial, comercial e cultural e também se destaca por ser ponto central na antiga Rota da Seda.
Desde os últimos dias de novembro Aleppo está sob comando de forças insurgentes ao regime do ex-presidente e ditador da Síria Bashar al-Assad. A Família Assad esteve na condução do país árabe por 53 anos, sendo passada do pai Hafez ao filho Bashar. O governo do país vinha sofrendo desestabilizações fortes desde o período da primavera árabe, em 2013, mas havia resistido de forma bem violenta, com bastantes repressões e perseguições a opositores, o que colocou o país em um cenário constante de guerra civil há pelo menos 10 anos. Recentemente, com os pesados ataques que a Síria vem recebendo de Israel, somado aos suportes reduzidos de seus maiores aliados, Rússia e Irã, que vêm enfrentando conflitos em seus próprios territórios, a regência de Assad foi surpreendida por uma escalada poderosa de forças rebeldes, Hay’at Tahrir al-Sham (HTS), que tomaram regiões importantes, além de Aleppo, Hama, Homs, Deir al-Zour e Latakia (nesta onde está localizada a única base da marinha russa no mediterrâneo). Mais recentemente, no dia 8 de dezembro a capital Damasco foi tomada pelo grupo HTS que pôs fim aos dias de Bashar al-Assad no poder.
Frente a toda instabilidade interna relatada, há ainda outros pontos a serem explorados. Ao Sul, a Síria está ocupada por tropas Israelenses, que seguem sua sanha expansionista sobre o território de seus vizinhos. Já ao norte, exércitos turcos dominam as terras. Para além, forças curdas têm recebido amplo apoio estadunidense, os quais denominam estes grupos de Forças Democráticas Sírias (FDC), e este pode ser um desfecho na antiga questão dos Curdos em serem uma nação sem um território.
Daqui continuamos acompanhando as investidas do destino que irão conduzir a Síria e seu povo ao futuro. Nos perguntamos até que ponto segue o brinde ao fim da dinastia al-Assad no poder e até onde a guerra civil síria se aprofunda ainda mais. O destaque final fica pelo fato de o país ser um importante parceiro cultural do Brasil, com nosso país estabelecendo iniciativas que visam proporcionar um abrigo seguro e oportunidades de recomeço para aqueles que fogem do conflito.
*Adriano Augusto de Souza é cientista do Estado