Um certo par de pés de jatobás em uma praça que era chamada Praça dos Jatobás
Parecia ser um tal de progresso, progresso este que até hoje não consegui entender; pois via outros espécimes aparentados desaparecendo, e formas diferentes
03-05-2023 – 09h:53
Zé Maia Maia
Os dois pés de Jatobás que por lá habitavam, eram da espécie de vazante e estavam por lá antes dos intrusos chegarem. Prova disto era a imponência natural deles, tamanho, frondosos e em estado de clímax. Resistiram o tanto que puderam a agressividade em que foram tratados como se fossem eles os invasores.
Tenho um sentimento, como se fosse um belo e frondoso jatobaseiro que, do alto da minha copa, conseguia colocar as vistas naquela linda e maravilhosa vazante até onde meus olhos verdejantes alcançassem. Que dava abrigo a diversos pássaros e insetos; os frutos que dos meus galhos brotavam e ao caírem alimentavam outro tanto de animais.
E minha copa, que bela sombra! Em dias chuvosos e também ensolarados protegiam os animais que ali se abrigavam. Vivi por aqui mais de uma centena de anos, até que os meus olhos começaram a perceber mudanças neste maravilhoso paraíso. Parecia ser um tal de progresso, progresso este que até hoje não consegui entender; pois via outros espécimes aparentados desaparecendo, e formas diferentes em mim encostando e invadindo o meu quintal.
Apareceram uns seres estranhos e barulhentos fazendo estragos e revolvendo a terra que sustentava as minhas raízes e me davam vida. Sumiu, desapareceu aquele tapete de relva verde que acalmava a minha alma. Foi substituído por uma coisa estranha, morta, preta, parecendo restos de queimada.
Até que um dia inexplicavelmente comecei a adoecer, sentir as minhas raízes enfraquecendo, as minhas folhas secando e caindo em tempo recorde, meus galhos secando parecendo um fantasma vivo. A doença se agravou comecei a secar o meu corpo. Parecia que haviam me colocado substancias estranhas no meu tronco, me senti envenenado com algo poderoso, que não tinha cura.
Eu observador da natureza até hoje não engulo essa morte de dois imponentes pés de jatobá, não houve morte natural em duas únicas espécies sadias que por ali habitavam; simplesmente incomodavam o chamado “progresso” e precisariam dali ser retiradas, expurgadas da paisagem.
O mínimo que se pode fazer é ser plantada exemplares da mesma espécie que ali estavam e serem cuidadas como uma mãe cuida de um filho. Montes Claros possui profissionais e faculdades que podem tomar essa providência e restaurar o que o ser humano se encarregou de destruir.
A esta altura, peço, não substitua o verde pela frieza do concreto. Não deixe o concreto acabar com a razão da vida.