
Trump e Lula precisão ter calma nessa hora. A nação está acima das diferença políticas de cada um - créditos: divulgação
12-07-2025 às 09h29
Análise de Antônio José Alves júnior(*)
Primeiro é preciso saber se esse treco vai mesmo pra frente. Depois, há muitos contratos de exportaçao já fechados, portanto, os impactos para os exportadores serao defasados. Terceiro, se isso entrar em prática, considerando que há outros países tambem ameaçados com a elevaçao de tarifas e que haverá danos para os EUA (retaliaçao e elevaçao de preços), pode nao durar muito. Alias, começo a acreditar que Trump corre riscos de nao concluir seu mandato.
Mas, caso vá para frente, o que nao acredito que ocorrerá, os impactos estao longe de serem devastadores para o Brasil. Do total exportado, uma parte expressiva é de commodities que podem ser vendidas facilmente para outros países. O que acabará acontecendo é que haverá, inevitavelmente, alguma triangulaçao comercial, em que parte das exportacoes brasileiras sera absorvida por algum pais e, posteriormente, re-exportada para os EUA. O que nao for vendido para o exterior, pode ser absorvido internamente por meio de uma política fiscal mais agressiva, que elevasse a demanda interna. Sao 220 bi de reais, no máximo, para absorver tudo, mas a necessidade de ampliaçao da demanda interna sera bem menor, considerando que as exportaçoes para os eua não chegarão a zero. Uma expansao da demanda provavelmente será importante no caso do ferro gusa e do aço, que somam 12 bilhoes se reais!. Um aumento mínimo nas obras de infraestrutura (orçamento público) e na venda de automóveis (facilidade de crédito) ajudaria a absorver esses montantes anteriormente exportados.
E em alguns casos, como o do café, cujas exportacoes estao na casa de 6 bilhões de reais, nada precisaria ser feito. As margens estao muito altas no mercado interno. A reduçao dessas exportaçoes será até boa para o Brasil, ajudando a reduzir os preços locais. Mas o mais provável é que esses montantes sigam para outros países.
Aparentemente, ao meu ver, do ponto de vista econômico, não haveria motivo para tanto escandalo. Nao se deve nem mesmo aumentar tarifas se importaçao, pra nao desorganizar as cadeias produtivas. Importante é alterar o marco fiscal para estimular a economia a absorver parte dessas exportaçoes, fazendo uma política anticíclica.
Alguem poderia argumentar que há o problema da balança comercial. Paciencia. Uma parte do superávit externo precisará ser sacrificado. Mas nao serao 40 bilhoes, com certeza. E temos superavit expressivo e reservas.
Do ponto de vista político a coisa é mais complicada. Trump é inimigo e se alia com a extrema-direita mais vagabunda. Ambos precisam ser politicamente enquadrados e combatidos. Atos como esse demonstram a natureza disruptiva dessa gente e sugere cuidados.
Economicamente, a saída é pelo redirecionamento das exportaçoes para outros países ou para o mercado interno. Para tanto, é preciso reconstruir a capacidade do governo de expandir os gastos públicos e o crédito em condiçoes mais favorecidas. Se o Brasil quiser, Trump vira uma marolinha, pois nao tem faca e queijo nas maos.”
*Antônio José Alves Júnior é professor de economia da UFRJ