Cada vez mais ao professor é negada a palavra, a palavra que o trabalho de resgate salvara. O professor, tal qual palavra no tempo, está sendo soterrado. De onde virá o ar, quem irá resgatá-lo?
28-11-2024 às 09h:34
Alexandre Magno Teixeira de Carvalho*
Cabe ao [à] professor [a] a empreitada de trazer à tona, recuperar, resgatar palavras perdidas, esquecidas, olvidadas, alienadas, estranhadas, soterradas, camada sobre camada de palavras.
Cabe a ele/ela, tal qual arqueólogo cuidadoso e debruçado, com escova e pincel, remover, palavra por palavra, camada por camada, os sedimentos que encobrem as palavras perdidas, esquecidas, olvidadas, alienadas, estranhadas, soterradas.
O trabalho de professor é também um trabalho de remoção de escombros para quem sabe, salvar alguma palavra ainda viva, alguma palavra que ainda respira embora soterrada.
Todavia, ao se deparar com a palavra morta, assassinada, cabe ao professor resgatar sua ideia alienada, sua memória estranhada e, ao menos, diante de e contra as forças de massacre simbólico, conceder-lhe a honra de um rito fúnebre e guardar-lhe um lugar na história, como se fora um Príamo diante de Aquiles e de Heitor, o corpo.
O professor que se furta a esse trabalho aceita que lhe furtem a dignidade.
Hoje, porém, cada vez mais ao professor é negada a palavra, a palavra que o trabalho de resgate salvara.
O professor, tal qual palavra no tempo, está sendo soterrado. De onde virá o ar, quem irá resgatá-lo?
*Alexandre Magno Teixeira de Carvalho é Psicólogo, psicanalista e sanitarista. Professor associado lotado no Departamento de Psicologia/ICH/UFJF. Membro do Grupo de Pesquisa Trauma e Catástrofe (PPG Teoria Psicanalítica/UFRJ). Membro do Espaço Brasileiro de Estudos Psicanalíticos (EBEP-Rio). Membro do Conselho Editorial da Revista Círculo de Giz.