É o que o Museu Mariano Procópio, de Juiz de Fora (MG) está fazendo. Trabalho esse da maior importância, porque se trata de organizar um espaço chamado “Hemeroteca”
28-12-2024 às 09h09
Sérgio Augusto Vicente*
Levante a mão quem sabe o que é uma Hemeroteca. Apesar de ainda soar estranha a muitas pessoas, a palavra “Hemeroteca” designa o espaço físico ou virtual onde se faz o depósito de jornais e revistas de diferentes períodos da história.
Assim como em diversos museus e instituições culturais do Brasil e do exterior, a Fundação Museu Mariano Procópio possui uma Hemeroteca. A formação dessa coleção se iniciou com o fundador da instituição, Alfredo Ferreira Lage, cuja preocupação era a de salvaguardar informações de seu interesse, relativas à Proclamação da República, ao exílio e ao falecimento de D. Pedro II, ao Centenário da Independência do Brasil, às doações de objetos que compõem o acervo, aos eventos e às solenidades envolvendo o referido equipamento cultural.
Com a criação do setor “Biblioteca-Arquivos” em 1939, consolida-se a preocupação do colecionador em preservar esse acervo de importância histórica e de caráter documental. Sua sucessora, Geralda Armond, que dirigiu o museu entre os anos 1944 e 1980, deu continuidade a essa iniciativa. Incorporando outros exemplares ao setor através da aquisição de títulos regionais e nacionais, a então diretora, assim como o fundador, tinha por hábito grifá-los e/ou deixar em suas páginas registros manuscritos, cuja finalidade era destacar informações de seus interesses e da instituição.
Atualmente, esse acervo está distribuído entre oito estantes de aço e conta com aproximadamente 350 títulos de jornais e revistas da segunda metade do século XIX até os dias atuais, dentre os quais se pode destacar o carioca Jornal do Comércio, bem como as famosas revistas ilustradas da Belle Époque, tais como Fon-Fon, O Malho, Careta e Revista da Semana. De Juiz de Fora, fazem-se presentes diversos números da Gazeta Comercial, do Jornal do Comércio, do Diário Mercantil, das revistas O Lince e Marília, etc.
Mas vale ressaltar que a intenção original nunca foi – e continua não sendo – a de acumular todos os números desses títulos, mas apenas aqueles que dialoguem diretamente com o Museu Mariano Procópio, seu acervo e assuntos de interesse da instituição. Através desses periódicos, conseguimos rastrear a trajetória do Museu e de seus eventos (exposições, mostras, inaugurações, visitas de celebridades da política, das letras e das artes ao parque e aos prédios históricos), além de identificar a procedência de diversos objetos que se encontram em exposição ou nas áreas de reserva técnica.
Atualmente, a Hemeroteca está em processo de reestruturação em todos os sentidos. Em linhas gerais, podemos dividir as ações em curto, médio e longo prazos. Diversas ações de curto prazo já foram efetuadas, como a transferência dos periódicos para uma sala específica e mais adequada à sua conservação, a higienização das 185 caixas que armazenam esses exemplares, o levantamento geral dos títulos existentes no setor e a reorganização/ redistribuição das caixas nas estantes por ordens alfabética e cronológica.
Das ações de médio prazo, podemos destacar o projeto de elaboração de um catálogo de revistas, cujas implementação e conclusão estão previstas para 2025. Das ações de longo prazo, por sua vez, destacamos a catalogação individual dos itens em planilha contendo os seguintes campos: título, data, local, estado de conservação, descrição de marcas e vestígios e indexação dos assuntos atinentes ao Museu Mariano Procópio. O objetivo é que a referida ação, que está em curso desde o início de 2024, facilite a recuperação de informações de interesse dos pesquisadores internos e externos e que tais informações estejam disponíveis à consulta pública no futuro, através de ferramentas digitais. Essa planilha vem sendo “alimentada” diariamente e já encerrou o ano com cerca 2000 exemplares fichados. O estagiário do curso de História da UFJF, Lucas Costa da Castro, sob a orientação dos historiadores da instituição, Dra. Rosane Carmanini Ferraz e Dr. Sérgio Augusto Vicente, deu prosseguimento a essa atividade em setembro desse ano e encara essa empreitada como uma excelente oportunidade de complementar a sua formação de historiador, através do contato empírico com as fontes primárias, que são consideradas matérias-primas da pesquisa histórica.
*Sérgio Augusto Vicente: Professor de História e Historiador. Doutor, Mestre, Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Escritor de ensaio, crônica, memória e biografia. Colunista do jornal “Diário de Minas” e colaborador de outros periódicos. Membro correspondente da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil (Mariana – MG). Trabalha na Fundação Museu Mariano Procópio (Juiz de Fora – MG), onde desenvolve atividades relacionadas à conservação, pesquisa e comunicação de acervos históricos dos séculos XIX e XX.