
Créditos: Divulgação
10-09-2025 às 08h34
Rufino Fialho Filho*
- A luta política espalha poetas por todos os cantos. São os sonhadores, os utópicos. A tragédia está na consciência, quando o homem assume o destino. Os limites não são o labirinto e nem realidade. O limite é o destino. Os limites não são o labirinto e nem a realidade. O limite é o sonho, que não acaba, e é a permanência do sonho que faz o homem revolucionário, o cidadão indignado.
- O que nos dá a política? Dá-nos o sonho. Dá-nos a realidade (também sonho?). O que nos dá o romance? Sonho e realidade. Assim a poesia. Guimarães Rosa mostra em razões explosivas toda a nossa tragédia contemporânea e joga a consciência e com o que faz a consciência: as palavras.
- Seria inútil o rio Urucuia? Seria inútil o Riobaldo? Seria inútil o personagem? Quem é mais forte, o criador ou o personagem criado? Assim, Manuelzão escapuliu, saiu das páginas e está por aí, nos rondando, falando sua filosofia, nos versos do seu poetar de todo dia. O personagem está solto, vivo e fazendo política, dizendo que é cidadão também, que vota, que sonha. Cidadão e personagem. Vice versa. Não importa a ordem, o nascer e o ser. A palavra exige pensar, exige filosofar, exige procedência. Quem são Diadorim e Riobaldo?
- Na chave deste enigma de dupla face, de única razão, está o enredo. Na tradução do filólogo, o personagem duplo é palavra, tem raízes, tem sedução, tem explicação e ele (s) é o próprio romance de Minas, do homem e é, sem frases construídas, síntese de nossa história como homem-cidadão. É, enfim, dia dor in, rio baldo – um estranho caminho, que nos leva até o fundo de um rio inútil, rio baldo, um rio perdido. E o novo caminho é este rio.
- Assim é o sentido da luta cotidiana que nos traz a explosão das águas e das palavras de Guimarães Rosa, poeta, filósofo, o revolucionário. Sonho inútil, a arte poética é arte política. Há que se entender, então, a alma deste mineiro e buscar na política, na vida, o caminho da revolta.
- O romance Grande Sertão Veredas começa com a antropofagia, o homem deve devorar o homem, mesmo que isto o inquiete. Como Guimarães Rosa, começa seu Grande Sertão? Começa com uma cena de canibalismo. Um engano? Os sertanejos pensaram que avistaram um macaco correndo no campo. Abateram o macaco visto. Destrincharam o macaco imaginado, capturado e morto. Comeram o macaco saboroso. Tudo vencido, a fome aplacada, descobriram o engano: haviam comido um homem, um ser humano, uma criança. A antropofagia está no relato dos sobreviventes do desastre aéreo da década de setenta nos Andes, está a antropofagia no relato de Cabeza de Vaca.
“do último fizemos charque...” (1)
- A caminhada que durou dez anos, da Flórida à Cidade do México, continuou, depois das fartas e saborosas refeições, e Alvar Nunez Cabeza de Vaca venceu.
- A antropofagia, mais que realidade, é símbolo, transmutou-se em linguagem. Hoje, o homem devora o homem, permanentemente. A estatística e a história recente nos permitirão, em breve, calcular quantos são devorados por segundo com a nova escravidão, com os novos recursos da culinária antropomórfica.
- Como se devora um homem?
Rosa trabalha com pesquisa e com a construção a partir das palavras, com sons recuperados, com um gravador a tiracolo e com seus conhecimentos etimológicos e filosóficos, um hegeliano sem opiniões, carregado de verdades do seu povo, razão radical de seu existir. Estamos frente a frente com o escultor pigmaleônico. Vide Manuelzão. Ele está ai. Está solto, fala e tem opinião. Vota. Ressurreição diária.
- Seria o personagem que escapou do autor? Depois do autor, qual a trajetória do personagem senão a vida? O que faz Manuelzão é isto. Ele pulou das linhas do livro, como de um trampolim, para a vida. É o inverso e é a grandeza de Guimarães Rosa. Ele não limita o homem, ele não perpetua o ritual antropomórfico. Ele não consome. Ele não confunde. Ele possibilita a vida. Faz nascer. É o inverso, mas não é a verdade única. Haverá um momento em que o trampolim deixará de existir e em que as páginas do livro se fecharão sem reservas sobre o personagem, onde ele ficará, mais uma vez, limitado a pontos e vírgulas, num diálogo de imagens e sons com os novos homens.
- Como Guimarães Rosa, o poeta político devora homens e a cerimônia, sem o rito religioso, é simples. Disto, o melhor exemplo, por símbolo, é o escritor Autran Dourado (in A serviço Del Rei) e o seu outro: Juscelino Kubitschek. A obra é a dor e a mágoa. O escritor quis ser escultor, criador, dono. O personagem sempre escapa, sempre é maior, cresce muito, mas deixa inumeráveis e inúteis complicadores. A relação do político com o intelectual é, deles, o mais significativo complicador. Os limites das responsabilidades políticas dos dois cidadãos se confundem e há apenas um em linha de risco.
- O outro será sempre o escriba, como lembra Régis Debray (2). O escriba, um braço. Parte do corpo. Do outro lado, o outro braço, o arquiteto, o braço esquerdo. O escriba e o arquiteto complementam a ação imagística do líder político. O canibal é um único. O conteúdo da ação política fica por conta do discurso. A forma de ação política por conta dos Colossos (3) necessários. O Colosso, uma obra sempre grande, majestática, imponente, cuja matéria prima será sempre a pedra (uma outra palavra, nas mãos do escultor).
- Hoje, para o cidadão é importante saber identificar na produção literária, na poesia, radicalmente, os caminhos da liberdade, tão grave e importante quanto o caminho da dúvida, das verdades axiomáticas e das belezas estabelecidas pelas formas e pelas sugestões. Às vezes tudo se resumirá num múltiplo caminho holístico que, inegavelmente, pode nos levar a um rio inútil – ao permanente Urucuia (de todas as palavras). Sempre será um novo caminho, uma nova interrogação, um novo superar, um novo vencer, um nascer de desafios, com a imperiosa imposição da aventura radical. Ser radical como essencial à vida, ao homem, o procurar permanentemente, como nas revoluções, a procura da raiz e do homem, da nossa natureza essencial.
- No filme Revolution (4) que conta a história da revolução americana, a epopéia do cidadão e do seu filho – criança se tornando adulto vivendo símbolos, empunhando bandeira, se arriscando para a vida e para a morte – é a epopéia de todas as lutas e de todos os romances. É o sempre indagar da nossa farta loucura, onde a razão, louca razão, onde o possível. Tudo é possível, tudo é história e história é romance, é luta, é poesia. Termina o filme e a luta não acaba. O narrador não é dono da verdade, da vida. Democraticamente, ele tem opiniões. Não há como registar final feliz, não há final, nem mesmo quando se acaba o filme e nem mesmo quando se acaba uma revolução – uma revolução que se preza não se limita em cursos e em fins políticos.
- Revolution termina com uma nova luta começando em um ringue, com uma luta de boxe, onde se defrontam selvagens um branco e um preto. A revolução americana vencera.
O personagem fizera um empréstimo à revolução, cedera seu patrimônio, fé é cessão de algo, agora aquela revolução acabara. No acerto das contas, o pagamento do barco requisitado pelo exército rebelde, agora exército da nova nação, valia metade. A terra, prometida do alistamento, não mais existia. Aí nasce a profunda irritação e indignação do cidadão da nação nascente. A sociedade começava por uma revolução (?) terminal. Começava mal. Em meio à festa, à alegria do fim da luta, no ringue explodia o racismo. Os homens, companheiros de luta pela liberdade da pátria (que pátria?) agora se dividiam em pretos e brancos, em superiores e inferiores, em poderosos e fracos, em aqueles que sabiam ler e os que não sabiam ler.
- É a frustração da luta revolucionária? É uma nova etapa de uma luta que traz a humanidade em guerra permanente, séculos por séculos? É a vitória do certo revelando, ainda no instante mesmo da vitória, corpo suado, mão inchadas e doloridas, pés pesados, que o certo guarda – não muito bem escondido – muitos erros, muitos desacertos. É uma nova etapa, superior, da luta que revela o novo certo e o novo errado, tornando a luta mais trágica e cansando os heróis, desesperando os comandantes?
- Por que Che Guevara deixou Cuba e seguiu para as montanhas da Bolívia? Qual foi a grande interrogação do homem revolucionário, rebelde e revoltado?
- Por que a necessidade de continuar a luta?
O sonho político tem o seu despertar. A luta política, a erde a. O desafio do poder está na capacidade do homem de exercê-lo. Todos sonham. Todos lutam pelo poder, sendo que o vencedor, a ideia vencedora, o partido vencedor, o grupo vencedor, desperta, vence. E os vencedores são vencidos, acabam-se, evaporam-se, metamorfoseiam-se. Novos sonhos se apresentam, chegam crianças; novos inimigos se apresentam, todos nus. Sem inimigos concretos à vista, como exercer o poder? O exercício do poder não é o exercido da força? Contra quem? – A favor da sociedade.
- A sociedade são muitas pessoas. Quem luta por direitos, conquista-os e não vê razão em quem concede, não dispõe da visão do outro lado, não fala em magnanimidade e nem aceita mais a submissão. A sociedade é um ser plural.
- É a luta que mobiliza a sociedade. Quem está no poder corre o risco de erde-lo. O risco é permanente para qualquer um, numa visão maniqueísta do poder ou no jogo da dialética. Tendo o poder, pode-se erde-lo. Perde-se o poder até mesmo no seu exercício, na omissão, no abuso. Quem está no poder pode ser afastado do poder. Há que mantê-lo. Há que exercê-lo.
- Exemplo da conquista do poder, do exercício do poder e da manutenção do poder, JK passou a ser a nossa concreta lição de política como lição de tolerância – a anistia permanente de revoltosos, com a negação à tortura, ao assassinato político e à perseguição. JK personagem é o homem político, sua essencialidade é a vida política. Ai o grande talento de Francisco de Assis Barbosa, o escriba.
Na história de João Alemão, de João César de Oliveira, segundo Newton Cardoso a principal via de acesso a Contagem, na história do menino e do jovem JK, uma juventude que nunca se perdeu, coube ao escriba perquirir a obra prima e realizar o possível. Paralela a esta obra se confunde e se integra a obra de Autran Dourado, o segundo escriba de JK. O primeiro escriba, o escriba enquanto Minas. Em Autran Dourado (A Serviço del Rei) explode o inverso, o duelo. É a fúria do escriba no duelo com o personagem. Houve a revolta. De um lado o escriba. Do outro o político, o personagem.
Na relação JK/Autran Dourado as divisões são falsas, nem sempre JK é o político, nem sempre JK é personagem de Autran Dourado. Por outro lado, como escrevem os jornalistas, JK não teria criado o escriba e o seu espaço para, por sua vez, criar JK o político? Qual seria a verdade? Haveria o conflito? Qual o papel de Juscelino na relação com Autran Dourado? Insistindo, JK fez Autran escritor?
Saturnino de Brito, o personagem de Autran, revela a indignação do próprio escritor. É quando a indignação contém a fragilidade do escriba, seu ciúme, seu sonho de não prender nas vírgulas e nos pontos, nas páginas e na brochura, o personagem. JK foi o Manuelzão de Autran. Só que os dois se entestaram em vida. Choque brutal, violento, doloroso.
O contraponto é dado pela condição de caça ou quando os pais, vivendo uma situação crítica, sem perspectivas de vida, semi-escravizados ou escravizados, não admitiam aquele padrão de vida para os filhos. Nestas duas situações, os Bororós comiam os filhos ao nascer e, segundo os degustadores de carne humana, o gosto desta carne é mais doce e saboroso do que o vitelo bovino.
- O canibal era também o personagem. Juscelino Kubitschek também como mágico, na sobrevivência política, era devorador de mulheres e de homens, sendo que com o talento lhe sobrando, como Guimarães Rosa, dava sobrevida a criadores de personagens (6).Era a radicalização permanente, a razão violenta e o amor ao belo, mas fugaz, com Belo Horizonte explodindo, como as palavras, como cidade e aqui Eduardo Frieiro, o salvado pelo canibal e médico cirurgião JK, é o crítico mais contundente e mais autêntico, quando o moralismo udenista, que explodiria duas décadas depois, nos anos 50, ainda mamava apenas em mamadeiras (7).
- O Grande Sertão Veredas é assim, no pensar roseano, o poema maior do povo que se faz brasileiro e universal, revela a luta, corta os lutadores, divide as forças multiplica as razões e tira a roupa do homem morto – Diadorim. E Diadorim, o homem morto, é mulher. Enquanto homem, Diadorim era o sonho pesadelo do sertanejo Riobaldo. Não se fez sexo e ele era possível dentro daquela vida sertaneja, onde homem e mulher formam o casal viável. Diadorim e Riobaldo é sexo puro, tenso, sonhado, desejado, represado, combatido, porque ali, nas terras do Urucuia, antes de serem homem e mulher eram dois lutadores, dois heróis, dos gigantes, um homem e uma mulher.
- O amor é revolucionário. A luta política espalha sexo por todos os lados. É a permanente epopeia do homem e muitas vezes, pelo efêmero se torna desespero. É o não poder mais. Existiu. Acabou. Mudou. É outro. Assim como Proteu. É o drama de Pigmalião e de todo criador. “Eu posso fazer a mulher bela”. E a vida? Pigmalião não queria ser um Cerates. Ele fez a sua mulher e teve a mulher que quis. O criador e a criatura. A questão que insistimos: Pigmalião criou a mulher que quis, bela como ele imaginou a beleza. Mas este tipo de criação tem seu conteúdo de sonho, de coisa criada, de ser criado – o que gera diferenças e distorções. “Eu posso criar o político”. Entretanto, o político, criatura criada, é ser vivo. O político que nasce sobre a arquitetura de um homem, vivo, pode escapulir e ser maior do que o seu Pigmalião. O limite de sonho existe. Manuelzão pode escapulir, nem que seja periodicamente, temporariamente. Ele escapa para a vida além romance. Vota, escreve também, fala também, é ator de filmes comerciais e dá credibilidade, a partir da credibilidade do romance e da credibilidade do autor, às cenas em que apareceu ilustrando uma proposta ou vendendo um produto. Em seu trampolim, quando se lança para fora do romance, escapa para a vida, ele carrega sua própria história, sua vida, seus sonhos e, com toda a certeza, serão novos sonhos (8). Hoje, mais do que nunca, vale a revolta, o gesto revolucionário, a radicalização, o amor, a ação política e, fundamentalmente, criar o personagem e o criador, repor a fome e a liberdade no homem, que é onde está a raiz.
Notas
1) Como era novembro e encontraram ali água, lenha, caranguejos e mariscos, resolveram ficar. Mesmo assim, o frio era tão inclemente que pouco a pouco alguns foram morrendo de frio e de fome. Além disso, Pantoja, o novo lugar tenente, os tratava tão mal que um dia Soto-Mayor, irmão de Vasco Porcallo, da ilha de Cuba, que viera como mestre de campo da armada, deu-lhe com um pau na cabeça, fazendo com que Pantoja caísse morto. A situação se tornou tão crítica que, daqueles que iam morrendo, os outros iam fazendo charque. O último que morreu foi Soto-Mayor e Esquivel também fez charque dele…
Tudo isto lhe fora contado por Figueroa, com base no que ouvira de Esquivel, que, como já contei, foi morto pelos índios porque uma mulher sonhara que ele lhe matara um filho. Depois de o matarem, os índios mostraram a Andrés Dorantes sua espada, as contas, o livro e outras coisas que carregava. Matar por causa de um sonho era um fato incomum entre os índios, mas um costume. Matavam até seus filhos em função de sonhos.
Cabeza de Vaca, Alvar Nunez; Naufrágios e Comentários, L&PM.
2) “A escrita não funciona como uma mediação entre o homem e um sentido ou um objeto, mas entre o homem e o homem. O órgão ou o instrumento é de natureza intelectual. Sua função ou seu interesse, de natureza política. E Lévi-Strauss lembra, no fim do capítulo, os escritores públicos nas aldeias do Paquistão, que desempenham simultaneamente o ofício de usurários. O saber deles lhes dá domínio sobre os iletrados, mas essa ascendência tem por objetivo tomar-lhes o dinheiro. Que traz a escrita a uma sociedade? Perfídia, violência e espoliação. “As hierarquias deixam marca na pedra. Desde as origens e pelos séculos dos séculos, o detento da autoridade suprema tem um intelectual à sua direita e um arquiteto à sua esquerda. A rivalidade entre eles contribui para a força do centro comum”.
Debray, Régis – O escriba, Gênese do Político. Retour
3) “Inaugurou-se hoje o Colosso. Afinal. O povo fervia de curiosidade. Ferve anda mais, agora, porque não permitiram a ninguém entrar. Só se pôde ver o Bitelo por fora. O que se viu foi um Coisão, cinzento, de concreto. Esse monumento a coisa nenhuma, prá mim é, de fato, um monumento à Grandeza. …O Colosso é polêmico. Há quem goste, há quem deteste. A esquerda é contra, porque gastou-se ali cimento que daria para fazer casas para todos os favelados do Morro do Cabrito. A direita é a favor, porque se trata de uma iniciativa privada, de caráter cultural e patriótico, financiada pelas empresas exportadoras de minério. … Seria a primeira obra de arte de Belo Horizonte, depois da Pampulha. Mais grandiosa, sem dúvida, pouca massa física. Mas uma Bolota imensíssima de cimento, meio soterrada, que arte é que tem?
Ribeiro, Darcy – Migo, Editora Guanabara
4) Revolution, de Hubh Hudson, com Al Pacino, Donald Sutherland, Natassja Kinski – 1976, A Revolução Americana – A vitória de Yorktown, 1781.
5) “Em dois anos de atividades (1928 e 29), venceria Juscelino a etapa mais difícil da consolidação do prestígio profissional, mas a verdade é que não parecia nada satisfeito com o sucesso relativo que vinha obtendo. Queria ser médico, exclusivamente médico. Não tinha outra aspiração fora da medicina, mas não lhe bastaria ser apenas um médico qualquer, como tantos outros, com boa clínica…
… Desocupado o túnel, antes de sua partida para Guaxupé, 21 de setembro de 1932, já no fim da revolução, Juscelino é homenageado no Hotel de Lourdes, com um jantar de despedida. Todos os companheiros de luta estão presentes. Preside a mesa o comandante-em-chefe do destacamento, coronel Cristóvão Barcelos, que faz o elogio do cirurgião da campanha, a quem chama “o bisturi de ouro da Força Pública Mineira”, relembrando todo o trabalho do capitão médico, desde a sua chegada ao front e a organização do hospital de sangue, por onde passariam mais de mil feridos em dois meses (1037 feridos).
… Para Juscelino, entretanto, a revolução paulista (a luta em terras do Sul de Minas, em 1932) significa a sua primeira e grande experiência política. As boas e más fadas fizeram com que se encontrassem, na zona do túnel, o coronel Eurico Gaspar Dutra, futuro ministro da Guerra e futuro presidente da República; os capitães Ernesto Dorneles e Zacarias de Assunção, futuros governadores do Rio Grande do Sul e do Pará; o doutor Benedito Valadares Ribeiro, futuro interventor e futuro governador de Minas Gerais; o doutor Juscelino Kubitschek de Oliveira, que será governador de Minas e presidente da República. Juscelino receberia, com a campanha de 1932, além do batismo de fogo, o batismo da política.
Barbosa, Francisco de Assis – Juscelino Kubitschek, uma revisão na política brasileira.
6) 20 de setembro de 1942 – Segundo aniversário da minha primeira operação. Numa Sexta-feira, às quatro da tarde, o doutor Juscelino Kubitschek (já então prefeito de Belo Horizonte) operava-me na Casa de Saúde São Lucas, de uma apendicite aguda… Feita a laparotomia, foi o doutor Juscelino surpreendido com uma peritonite. Prognóstico sombrio… A notícia de que o meu estado era desesperador correra por toda parte… A Segunda operação foi dramática… O Moacir Andrade dizia aos que lhe pediam notícias minhas: “O Frieiro? Não passa desta. Imaginem, contei oito médicos na sala de operações lutando contra ele. Oito contra um!” Depois de Ter conversado com Juscelino, Moacir Andrade foi para casa e escreveu o seu necrológio… Na manhã do dia 22 de fevereiro, véspera de Carnaval, eu deixava a Casa de Saúde, completamente restabelecido… Houve milagre, também o creio, mas a cirurgia, e meus taumaturgos foram São Juscelino e São Júlio Soares.
Frieiro, Eduardo – Novo Diário, Editora Itatiaia Ltda
7) 26 de abril de 1944 – A Pampulha é uma típica criação do capitalismo: obra do vício refinado, do luxo que acompanha essa forma aristocrática do vício e, enfim, do capital, que o luxo fomenta e alimenta. A prefeitura criou a Pampulha com o fim de dar a BH um centro de prazer e diversão para as classes ricas e remediadas. Construiu um lago artificial, um cassino e um clube aristocrático. Os terrenos da Pampulha, que pouco valiam, foram comprados pelos privilegiados da política, do governo, da indústria e da finança. Valorizaram-se enormemente, logo que a administração municipal, com o dinheiro dos contribuintes, enterrou ali milhares de contos de réis em obras suntuárias, e continua a enterrar, sem olhar a esbanjamentos.
Frieiro, Eduardo – Novo Diário, Editora Itatiaia Ltda.
8) Vide nota número 1 de Alvar Nunez Cabeza de Vaca.
*Rufino Fialho Filho é jornalista