
Tarcísio Delgado foi um político mineiro bem acima da média - créditos: divulgação
14-09-2025 às 09h39
Direto da Redação
Ontem, sexta-feira (12-09) Juiz de Fora perdeu um de seus maiores filhos: Raimundo Tarcísio Delgado. Aos 89 anos, faleceu um homem que chegou ao centro da vida pública movido por ideais — e que sempre colocou o coletivo acima do interesse pessoal. Em tempos em que a política muitas vezes é notícia por escândalos, individualismos ou vaidades, a trajetória de Delgado ressoa como exemplo necessário.
Desde suas origens humildes, Tarcísio Delgado construiu uma biografia de superação e serviço. Advogado, escritor, iniciou sua carreira política como vereador, foi deputado estadual, deputado federal, dirigiu órgãos importantes — como o DNER — e prefeito de Juiz de Fora por três mandatos.
Mas mais do que cargos, ele deixou um legado de gestão pautada na competência, na austeridade e na participação popular. Durante suas administrações, não rarearam as iniciativas voltadas à inclusão social, à saúde, à cultura, ao planejamento urbano e à dignidade para todos. Ele acreditava — de forma concreta — que cidade boa se constrói ouvindo moradores, cuidando dos pobres, planejando o futuro e organizando as finanças públicas de modo responsável.

É esse padrão que hoje se sente ausente em muitos políticos: quando se prioriza o próprio partido, a vocação para autopromoção, as alianças por interesse particular, ou quando se negocia favores ao invés de políticas públicas que transformem vidas. Em casos como esse, o legado de Tarcísio Delgado serve como antídoto.
Enquanto muitos concedem discursos bonitos mas agem segundo pragmatismos voltados ao poder imediatista, Delgado mantinha coerência. Sua vida, seus mandatos, mostraram que política séria existe — e gera efeitos duradouros: creches, programas sociais, melhorias urbanas, apoio aos menos favorecidos, instituições fortalecidas.
Num paralelo simples: quantos gestores hoje sacrificam obras de infraestrutura para garantir visibilidade instantânea? Quantos projetos sociais são deixados de lado para priorizar obras que rendem likes, fotos, mídia — ainda que pouco resolvam para a vida de quem mais precisa? Tarcísio Delgado não era esse tipo de político. Ele deixava sua marca não em outdoors, mas em famílias beneficiadas, em bairros melhorados, em instituições de Juiz de Fora que hoje ainda ecoam seus atos.
Ele foi honesto, competente, entrevistado por adversários, respeitado nos momentos de paz e nos de tensão democrática. Ele enfrentou o regime militar, foi deputado quando estava se definindo a Constituição de 1988, voz firme em momentos difíceis.

Hoje, com sua partida, ficamos com a saudade, mas também com o exemplo. Que possamos, como cidadãos e como sociedade, reivindicar mais políticos como ele: que pensem no longo prazo, que priorizem a justiça social, que tratem o erário público com reverência, que olhem para o outro — especialmente os mais frágeis — não como eleitor, mas como parte da família política comum.
Que o luto oficial decretado por Juiz de Fora seja também um luto para os hábitos ruins. E que sua memória inspire uma política diferente: mais séria, mais humana, menos centrada no umbigo, mais voltada ao bem coletivo.
Descanse em paz, Tarcísio Delgado. E que seus ensinamentos cruzem gerações.
Fonte: Pesquisa DMdata