
CRÉDITOS: Divulgação
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29-04-2025 às 09h57
Mauro Bomfim*
Viva Alberto Sena! Viva Darcy Ribeiro!
Escrevo esse arrazoado, por coincidência, no dia 28 de abril, Dia da Educação, assim consagrado mundialmente, para dizer que eu li, num só jato, embevecido, o livro de 156 páginas que Alberto Sena escreveu sobre o professor Darcy Ribeiro, ninguém mais do que ele tresloucado pela Educação no Brasil.
Molhando sua pena na aquarela da sensibilidade, ao escrever sobre o grande educador, antropólogo e homem público Darcy Ribeiro, mineiro de Montes Claros como o autor e com o qual conviveu na capital mineira para uma missão de uma Pasta Especial, Alberto Sena nos conduz a rios de acalantos, tal o caleidoscópio de lances emocionantes que narra em sua obra, tal o preito de gratidão e de justo louvor àquele que sempre teve a Educação como das preocupações prioritárias de sua vida.
Não é à toa que Napoleão, o Grande Corso, cunhou a frase que “política e destino”. Em dado momento, Juscelino, Jango, Brizola e Darcy Ribeiro, todos políticos, travaram o mais delicioso encontro da utopia da Educação brasileira. Sempre coadjuvados pelo seminal Anísio Teixeira, que lançou a pedra fundamental da Educação e por Niemeyer, ao desenhar as revolucionárias escolas dos CIEPs, construídas em argamassa, não fora ele também o grande arquiteto de Brasília que JK chamava de seu Michelangelo.
Darcy Ribeiro está para a Educação brasileira como José de Anchieta na catequese dos índios do Brasil recém-descoberto. Povos indígenas que Darcy amou como ninguém, seguindo os passos do Marechal Rondon, alimentando aquele sonho de rasgar a barriga do Brasil no meio da selva para saber o que tinha dentro.
Adoro Darcy. Sou fã de Darcy. Me inspiro em Darcy. Coloco a Educação no patamar número 1 das políticas públicas. O cidadão sem educação não tem capacidade de usar o sistema de saúde.
Em passagens deliciosas de seu livro “Darcy Ribeiro do Fazimento”, o jornalista Alberto Sena relembra momentos do mestre vivenciados com a diamantinense Vera Brant, que antes de ser anjo da guarda de Darcy Ribeiro foi o anjo que pairou sobre a cabeceira de Juscelino, quando abatido por setores cavernosos do regime militar.
Nessa ocasião, segundo suas memórias, JK esteve à beira da loucura e do suicídio, quando retornara do exílio para morar numa pequena fazendinha em Luziânia, nos arredores da capital federal que ele construiu com Niemeyer e onde Jango, mesmo contrariando seu cunhado Brizola, não quis o sangue derramado de civis, preferindo ir para o Uruguai quando o empedernido Senador Auro Arantes declarou vaga a presidência da República, num golpe branco abominável após a renúncia do doidivanas Jânio Quadros.
Foi a única vez que, na solidão do Plenário do Congresso, o bravo Senador mineiro Tancredo Neves, também fiel a Getúlio e a seus pupilos políticos Juscelino e Jango, de dedo em riste, chamou o presidente do Senado de canalha, abandonando pela vez primeira a proverbial virtude mineira da conciliação.
O longo parêntese valeu para reviver, com Alberto Sena, essas figuras que tal Darcy Ribeiro, foram como as copas das grandes árvores da Amazônia, naquela selva continental que ele sempre amou, entoando os cantos ancestrais dos Kadiwéu, dos Terena, dos Kaiawá.
Darcy foi combatido pelas elites do atraso e da ganância, foi barrado pelos vassalos do capital estrangeiro. Teve o caminho juncado pelos políticos demagogos e retrógrados que não querem um povo alfabetizado, de modo a fazer massa de manobra dos ignorantes e analfabetos, presas fáceis da ciranda eleitoral.
O despótico Marques de Pombal, que um dia foi chamado de “Nero da Frataria”, também combateu aqueles que protegiam os índios, criando o plano diabólico que resultaria no massacre dos milhares de índios botocudos e das nações krenak na minha região do Vale do Rio Doce, além de mandar fechar os caminhos ao litoral baiano de modo a proteger as minas e as pedras preciosas. Pombal eliminou tudo de belo que Anchieta deixou dois séculos antes como apóstolo e autor da primeira cartilha tupi-guarani. Suas ditas reformas educacionais foram chinfrins, se comparadas ao portentoso modelo Darcy Ribeiro de escola de tempo integral.
Volto à Darcy Ribeiro, razão maior dessas linhas. Vulcão permanente em erupção, no período em que foi senador, Darcy deixava o Plenário de cabelo em pé, com sua metralhadora giratória e sua arrasadora argumentação de quem conhecia como ninguém as nuances da miscigenação e do encontro das raças do patropi.
Peço escusas, Alberto, pelo textão. Guimarães Rosa falava do vezo de nosso povo em ter “memória de geleia”. Por isso, quero parabenizá-lo por cultuar a memória de Darcy Ribeiro e permitir que as gerações do hoje e do amanhã não se esqueçam desse notável brasileiro.
A figura pinacular de Darcy Ribeiro, um pequeno homem na estrutura, mas um Himalaia de nossa cultura, me faz evocar uma frase do magnifico escritor peruano Mário Vargas Lhosa, que recentemente deixou a vida terrena: “O povo é melhor do que as elites”. Viva Alberto Sena! Viva Darcy Ribeiro! Viva o Povo Brasileiro!
(Mauro Bomfim: texto do tamanho de um elefante, mas que foi jorrando do teclado Mais uma vez parabéns pelo livro).
*Militante no Direito Eleitoral e Público. Jornalista, Escritor, Redator e Editor. Diretor do escritório Mauro Bomfim Advocacia e Consultoria Jurídica