
Créditos: Divulgação
17-09-2025 às 10h52
Raphael Silva Rodrigues*
O suicídio representa um dos mais complexos desafios de saúde pública global, impactando não apenas indivíduos, mas famílias e comunidades inteiras. Longe de ser um tema a ser evitado, abordá-lo de forma responsável e empática é fundamental para construir pontes de apoio, respeito e compreensão para aqueles que enfrentam um sofrimento psíquico profundo.
O ‘Setembro Amarelo’ surge como um convite anual e persistente à reflexão coletiva, promovendo informação segura, desmistificando preconceitos e combatendo o estigma associado à saúde mental e ao suicídio. Falar sobre suicídio, com sensibilidade e conhecimento, é um ato primordial de cuidado e prevenção.
Historicamente, o suicídio foi envolto em um manto de tabus, medo e julgamento, resultando em um silêncio opressor. Muitas famílias, envergonhadas ou incompreendidas, viram-se obrigadas a esconder a dor da perda, enquanto pessoas em intenso sofrimento não encontravam um espaço seguro para expressar seus pensamentos e sentimentos mais sombrios. Não é incomum que sinais de alerta, como falas de desesperança, sentimentos de inutilidade, isolamento social, mudanças drásticas de comportamento, perda de interesse em atividades antes prazerosas, ou menções indiretas ao desejo de não existir ou de “sumir”, passem despercebidos ou sejam minimizados.
O suicídio é um fenômeno multifatorial, resultante da interação complexa de fatores biológicos, psicológicos e sociais. Envolve questões de saúde mental (depressão, ansiedade, transtorno bipolar e etc.), histórico familiar, situações socioeconômicas, violência, abuso de substâncias e até a forma como a sociedade lida com o sofrimento psíquico e o acesso a tratamento adequado. Por trás de cada tentativa ou morte por suicídio, existe um apelo desesperado e negligenciado: o desejo de ser ouvido, compreendido e amparado, enfim, o desejo de cessar uma dor insuportável.
O silêncio, ao contrário do que se pensou por décadas, jamais será protetor. Evidências científicas demonstram que conversar de maneira responsável e empática sobre o assunto não aumenta o risco, mas sim o diminui. Quando as pessoas percebem que podem pedir ajuda sem serem julgadas, estigmatizadas ou vistas como “fracas”, o caminho para a prevenção se abre. O acolhimento inicial pode ser o ponto de virada decisivo e, literalmente, salvar uma vida. É fundamental validar a dor do outro, mostrando que ele não está sozinho e que a ajuda é possível.
É importante reconhecer que a prevenção do suicídio transcende os consultórios e as campanhas institucionais. Cada indivíduo e cada segmento da sociedade têm um papel ativo a desempenhar. Saber identificar os comportamentos de risco, acolher sem julgamento, orientar para os serviços adequados e manter-se disponível são atitudes essenciais. A ausência dessas ações pode contribuir para a invisibilização do problema e para o agravamento do sofrimento.
Organizações como o Centro de Valorização da Vida (CVV), que oferece apoio emocional e prevenção do suicídio por telefone (188), chat e e-mail, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e os serviços de saúde mental do Sistema Único de Saúde (SUS) compõem uma rede fundamental de suporte gratuito e sigiloso.
Buscar ajuda profissional nunca deve ser interpretado como um sinal de fraqueza, mas como um ato de coragem, autoconsciência e maturidade. Para quem percebe sinais de sofrimento em alguém próximo, abordar o tema com sensibilidade, oferecer escuta ativa e qualificada, e sugerir apoio especializado podem ser atitudes transformadoras. É importante lembrar que não somos responsáveis por “curar” o outro, mas por oferecer suporte e conexão com recursos profissionais.
Além disso, a promoção da educação emocional desde a infância, a construção de ambientes seguros e inclusivos em escolas e locais de trabalho, e o combate efetivo à discriminação e ao bullying são pilares preventivos relevantes. Ao capacitar crianças e adolescentes a nomearem seus sentimentos, a desenvolver habilidades de enfrentamento e a pedir ajuda, lançamos as bases para uma geração mais consciente, resiliente e empática. A mídia também tem um papel vital na divulgação responsável de informações, evitando sensacionalismo e fornecendo recursos de ajuda.
O ‘Setembro Amarelo’ simboliza a mensagem poderosa de que ninguém precisa sofrer sozinho. O simples gesto de escutar com atenção e sem interrupções, de perguntar sinceramente “Como você está se sentindo?” e de permanecer presente pode ser o começo de um novo sentido para quem está à beira do desespero. Cada pessoa que encontra esperança e decide continuar é uma vitória coletiva, um testemunho de que a empatia e o cuidado nunca são tempo perdido.
Mais do que uma campanha sazonal, ‘Setembro Amarelo’ é um chamado contínuo à humanidade. Iluminar nossos dias com um olhar atento, um ouvido disponível e um coração aberto é uma das formas mais poderosas de prevenção. Esperança, informação e cuidado não podem ser restritos a um único mês: devem ser disseminados todos os dias, em todos os ambientes, como um compromisso inabalável com a vida.
Se falar sobre a sua dor é difícil, ouvir o outro pode ser o primeiro e mais importante passo. Se sofrer em silêncio é um peso insuportável, compartilhar e buscar apoio pode ser o alívio que salva. ‘Setembro Amarelo’ é, em sua essência, um convite para nunca desistir da vida (nem da própria, nem da do outro).
*Raphael Silva Rodrigues: Doutor e Mestre em Direito (UFMG), com pesquisa Pós-doutoral pela Universitat de Barcelona, na Espanha. Especialista em Direito Tributário e Financeiro (PUC/MG). Professor do PPGA/Unihorizontes. Professor de cursos de Graduação e de Especialização (Unihorizontes e PUC/MG). Advogado e Consultor tributário.