Sertão mineiro, ótimo lugar para viver; mais que um lugar, é um verdadeiro sentimento
Além dos minúsculos grilos, ao longe o quebrar do harmônico silêncio, o roncar de um motor de caminhão e de uma moto, lá para as bandas do 10° Batalhão.
29-05-2023 – 08h:40
Zé Maia Maia*
Por aqui, o único som que se ouvia, era o bombear do próprio coração. Dava-se para ouvir até a impulsão do sangue nas veias, tamanho era o silêncio reinante no lugar.
Os cachorros, que normalmente dão a toada, pareciam que haviam se mudado para terras distantes, os galos absolutamente incomunicáveis, sem nenhuma prova de vida.
Sem assombro nenhum o único chiado audível era de alguma espécie incomum de grilos presentes não com o cricrilar, mas como se fossem notas curtas e constantes como de alguns instrumentos de sopro; não altos, mas constantes, com semelhança ao zumbido dos ouvidos, não tenho dúvidas minha audição é excelente.
Além dos minúsculos grilos, com certeza que os são, ao longe o quebrar do harmônico silêncio, o roncar de um motor de caminhão e de uma moto, lá para as bandas do 10° Batalhão.
Os cantores por aqui, que com certeza que não são os Músicos de Bremen, meu caro Alberto Sena Batista, mas se integrariam com louvor aos famosos de lá, ainda não haviam se manifestado publicamente e nem presencialmente. Parecia que estavam se preparando para os atos de oficio matinal, à espera do sinal da batuta do maestro-mor, somente seria essa a explicação.
A vida, o que é belo de se ouvir, ver e sentir, deixando o coração se manifestar, arrancando aplausos da alma, tudo se transforma em verdadeiro passe de mágica; sim, as coisas belas que a vida nos presenteia, assim as são, verdadeiras e mágicas.
Às 6h, por aqui, no condomínio popular, na Rua Principe Regente e ruas adjacentes, o maestro se apresentou e tomou para si a fiel missão da Orquestra Sinfônica Matinal, que me deleito com ela há mais de 40 anos. Sou assíduo e as vezes solitário espectador deste espetáculo. Como não poderia deixar de ser, a primeira nota foi do motor de um caminhão ligado pelo seu condutor para aquecer e tocar rumo as estradas usando de notas conforme a marcha aplicada.
Logo após vieram os galos e os cachorros se confundindo na segunda voz. Partiu o sinal, abriu-se as cortinas, iniciou-se espetáculo, apesar da claridade já avançada. Seguiu-se o espetáculo esperado. Tomaram se as funções de oficio e o gogó correu frouxo. Espetáculo matinal sem atravessar notas, absurdamente impecável. Bem-te-vis, sabiás, quero-queros chegando de longe e se apresentando, as maitacas, os pequeninos caga-sebo, até o som de um pequenino colibri estava audível (sons diferentes dos minúsculos pássaros), os pardais largaram seus cantos variados. As rolinhas caldo de feijão não fizeram por menos, fora da curva, os motores veiculares roubando a cena expulsam os maravilhosos músicos na vida.
Quebra se a rotina, as notas ficam espaçadas e os eternos músicos, no decorrer do dia seguiram em carreiras solo ou duetos.