
A história, no Brasil, se repete como tragédia para impedir a qualquer custo o desenvolvimento do povo brasileiro. CRÉDITOS: Divulgação
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30-04-2025 às 09h27
Rogério Reis Devisate*
Nas ruas, os sinais vermelhos poderão não mais indicar o dever de parar, como ocorreu na China comunista em certo momento, “quando a Guarda Vermelha decretou que os semáforos vermelhos não poderiam mais indicar a obrigação de parar, já que essa era a cor da revolução. Agora, as pessoas parariam no sinal verde e seguiriam no sinal vermelho!” como registra Amin Maalouf, na obra O labirinto dos desgarrados, página 220.
A absurda medida até fazia algum sentido no âmbito da comunicação da mensagem pretendida, já que não nos comunicamos apenas por palavras e gestos. Somos movidos por símbolos!
A Bandeira Nacional é um símbolo. O Hino Nacional, outro. A cor da camisa da Seleção, também, incorporada que está à nossa cultura.
É fato que traumas forçam mudanças. A seleção brasileira vestia uniforme branco quando foi derrotada no jogo da final da Copa do Mundo de 1950, realizado no Maracanã.
Para ajudar a afastar aquela imagem e superar o trauma, o jornal Correio da Manhã realizou concurso no ano de 1953, quando foi escolhida a cor amarela para nos representar nos uniformes da Seleção brasileira de futebol. Nada mais simbólico, pois é a cor vibrante, a mesma do ouro, o metal precioso e símbolo da vitória nas medalhas e taças historicamente outorgadas aos campeões.
O apelido “Seleção Canarinho” pegou e, desde 1954, ou seja, por de 71 anos, a cor amarela simboliza a identidade visual da nossa seleção.
É bom registrar que o artigo 13, inciso III, do Estatuto da CBF – Confederação Brasileira de Futebol, prevê que “os uniformes obedecerão às cores existentes na bandeira da CBF”, que são o verde, o amarelo, o azul e o branco – exatamente as mesmas da Bandeira Nacional. Para confirmar esta regra e facilitar a interpretação, o mesmo dispositivo prevê que não é obrigatório que os uniformes contenham “todas as cores existentes na bandeira”. Sobre outras cores, a norma ainda prevê a possibilidade, excepcionalmente em “modelos comemorativos” e “sempre mediante aprovação da Diretoria”.
Não parece que essa tão debatida nova camisa vermelha seria adotada em evento comemorativo, pois disso não se tratou nos jornais. Assim, viria como inovação, surpreendendo a todos e causando essa notória indignação, por não encontrar motivo para ser imposta, sem fato justificável ou “trauma” como o vivido pelo país na Copa de 1950.
Ou será que o “fato traumático” não envolve futebol? Se considerarmos, hipoteticamente, que a Nação está dividida politicamente e que parte ficou incomodada ou traumatizada por se ter associado às cores verde e amarela com outras colorações ou lideranças políticas? Se assim for, no lugar de se unir o país em torno dos símbolos tradicionais e culturalmente estruturados e aceitos, mais se dividiria, com essa noticiada implantação da cor vermelha no 2º uniforme da seleção.
Quando entrasse em campo, seria ainda a “Seleção Canarinho”? Que novos apelidos a seleção receberia?
Seleção do batom de cor vermelha?
Talvez seleção “Guará” ou “Tié Sangue”, aves vermelhas… Prefiro Canarinho, pela tradição, simbologia identificada com nossa Bandeira e pelo tom carinhoso e inspirador do seu belo canto.
Também poderia ser apelidada de seleção da raiva, do amor, da paixão ou da guerra, se considerarmos que, no Ocidente, a essas emoções se associa o vermelho… Aliás, cabe lembrar que o vermelho é a cor de Marte, o “Planeta Vermelho”, que recebeu esse nome em homenagem ao deus romano das guerras – releitura de Ares, o deus grego da mesma Arte.
Com essa cor vermelha, mataríamos a voluntária e festiva alegria do povo nas ruas? Perguntamos, pois essa vermelhidão contraria a histórica tradição das copas passadas, quando as ruas das cidades ficavam, voluntariamente, enfeitadas de verde e amarelo, com pinturas com as cores da Bandeira, os rostos dos jogadores e as mensagens de esperança por vitórias.
Somos ainda “o país do futebol”? Bem, se formos, que tudo não passe de um mal-entendido e que não se mexa com a Seleção do povo brasileiro, a quem não resta muito por se alegrar, mormente nestes tempos de carestia.
Por fim, registro que este artigo foi escrito ao som da música “Verde e Amarelo”, de Roberto Carlos, que assim diz:
“Só quem leva no peito esse amor, esse jeito
Sabe bem o que é ser brasileiro
Sabe o que é:
Verde e amarelo, verde e amarelo” …
* Rogério Reis Devisate é Advogado/RJ. Membro da Academia Brasileira de Letras Agrárias, da União Brasileira de Escritores e da Academia Fluminense de Letras. Presidente da Comissão Nacional de Assuntos Fundiários da UBAU. Membro da Comissão de Direito Agrário da OAB/RJ. Defensor Público/RJ junto ao STF, STJ e TJ/RJ.