
Ministra do Meio Ambiente Marina Silva abandona discussão no Senado Federal - créditos: Senado Notícias
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01-06-2025 às 09h49
José Altino Machado (*)
Semana que passou, de casa, todos pudemos assistir teatro de horror, peça não escrita, sequer ensaiada, nos palcos do Senado Federal.
Que tristeza…
Alguns dos atores desafinaram quanto a um comportamento parlamentar mais ético, enquanto a ministra presente, demonstrou claramente seu despreparo para o cargo.
A ministra, então, convidada, era ninguém menos que Marina Silva, junto a senadores do Amazonas emocionalmente envolvidos e bastante contrariados.
O assunto, indiscutivelmente, o mais polêmico dos últimos tempos. Meio ambiente… e como não poderia deixar de ser, na Amazonia.
Imaginando o que escrever sobre aquele não muito educado episódio no Sacro Santo Senado Federal, dei-me ao cuidado de telefonar a um xará, quase homônimo perfeito que tenho lá no Acre. Jornalista consagrado naquela unidade “federativa”, se é que somos uma federação. O cara é bom na comunicação, quiçá melhor que eu, mas com coração ferrenho torcedor pelas sementes brotadas em terras acreanas. E sabe como é, análise de torcedor vê até o que juiz de futebol bem perto não vê.
Ao atender o telefone, tão meu comprimento, já foi logo dizendo que o motivo de minha chamada não seria outro, se não criticar o mal comportamento da acreana Marina.
Sem nenhuma dúvida o brasileiro é um sentimentalóide. Herança boa de latinos, mas que faz com que se perca a necessária praticidade do raciocínio e princípios de observação a tudo e todos que nos cercam.
Existe comigo guardada em memória, uma declaração da Ministra Marina Silva que afirmava “trabalhar para a humanidade”. Desde lá, tenho procurado entender qual foi a “Divindade” que lhe delegou tal representatividade. E se foi este algum ser supremo, ele está sacaneando o povo brasileiro, que não só a honra com o cargo, como lhe paga para tal. O salário e mordomias são até bons…
E talvez isso o homônimo acreano não tenha percebido; também talvez por gentis olhos a sua coestaduana.
O grande erro na verdade, pairou na caneta presidencial ao indicá-la para administrar organismo tão importante quanto este. Por ela até que não. Boa gente, honesta e verdadeira como diz o bom Jose lá do Acre. Porém, ah este, porém…
A administração de um ministério para tal cuida, jamais deve ou pode ser entregue a um ambientalista ativista, ainda mais com matizes radicalistas. A cuida ambiental mais que qualquer outra deve priorizar a busca de uma perfeita conciliação entre ambientes e seres vivos. Ainda mais a àqueles que raciocinam. Se é o homem que pode conservar ou destruir o meio ambiente, mais inteligente investir no homem.
O bem-estar de um não pode nem deve ser totalmente prejudicial ao humano, comprometendo sua vida, dos seus e de descendentes.
Bem por isso, a primeira observação a ser feita realmente, pelo poder nomeador, é estar atento ao equilíbrio ponderador, prudente e cauteloso do administrador ambiental. Este sim, deverá estar sempre cercado pela formação de conselhos, onde estarão os mais criteriosos ambientalistas, técnicos e representantes das áreas alvos de ordenação.
Razão existe no desespero dos senadores. O que tem acontecido hoje, tão somente na Amazonia é o espelho da covardia humana, principalmente quando escudada por alguma forma de poder. Tem transformado conquistas quase centenárias de vidas em cenários de terror – agravado mais ainda pela permissividade em tornar impunes crimes letais de agentes de Estado.
E este mal é contagiante… por toda a experiência a mim dada pelos anos que lá se vão, não poucos, mas algo mais de oitenta, posso bem compreender que deveremos perder o dom da paciência e, principalmente, o respeito às autoridades regentes em nosso país.
Mostra bastante, que também essa mesma semana, um dos, ainda confiáveis aparatos de segurança em nosso país, a tempo e hora desmantelou, segundo o apurado, toda uma unidade de execução de crimes, ou melhor, assassinatos políticos na Nação brasileira. Logo entre nós brasileiros, que nunca nos permitimos a sanha de ódios.
Com certeza será este os caminhos ou veredas que haveremos de trilhar. Homens envergando uniformes, aos quais por si só deveríamos respeitar, portando armas pesadas, para as quais sequer foram treinados a seus usos, tem matado com total despudor, até para suas satisfações. As razões, avalizadas pela ministra ativista sempre as mesmas, “foram atacados”.
Interessante que jamais um deles, como declaram, de surpresa atacado, foi ferido ou se feriu em ação. E pelo visto, dos inocentes órgãos envolvidos, inclusive o Supremo Tribunal, do qual dizem cumprir ordens, mesmo havendo mortos, sequer a obrigatoriedade de abertura de inquéritos, fizeram acontecer.
Em 1983, no Vale do Tapajós, foi criada uma reserva legal para os extrativistas do setor de mineração cujo número chegava a 250.000. Todos perfeitamente legais com carteiras e tudo mais requerido. Constituição de 1988, estabelece e ordena que cabe ao governo administrador legalizá-los. Algo que jamais procurou cumprir.
Em 2004, estes mesmos administrativos que ainda hoje se tornam presentes, por decreto criaram uma reserva florestal exatamente sobre a mesma área, turbando os direitos daqueles trabalhadores. Sem maiores explicações.
Durante toda a década de 70, o governo federal não só construiu rodovias para integração nacional da Amazonia, como remanejou a muitos para assentá-los na grande região a ser conquistada. E foram muitos…
Ao longo das estradas que se abriram, centenas de milhares de colonos ocuparam suas margens e construíram seus castelos de sonhos.
A própria estrada Br-119, citada na tragicômica audiência pelo senador manauara, tem história própria e singular. À época, a engenharia a dizia como uma das mais difíceis obras de então. Por sinal uma das empresas construtoras, quebrada, a abandonou e, com “amigos” poderosos, partiu no pescoço dos garimpeiros de cassiterita em Rondônia e ficou rica, rica.
Porém suas margens ocupadas se tornaram excelentes produtoras agrícolas, num Brasil que ninguém vê…
Entretanto por ordens e planejamento da ministra que não consegue enxergar além de paus e verdes copas, vão com medidas de força, os tornando desocupados, com o ócio os aproximando muito dos sentimentos de revolta,
Talvez por isso, muitos discutam hoje, é a transferência de poderes decisórios quanto a licenciamentos ambientais, para os estados e possivelmente até aos municípios. Algo que o Xará lá no Acre abomina, não acreditando nada nada, nas pessoas que mais próximas estão de tudo aquilo que os atingem diretamente.
A senhora ministra do Meio Ambiente nacional tem arrasado com a vida e paz de algumas milhões de pessoas diretas e indiretamente na Amazonia. Aquela própria, que ela mesma abandonou.
Mas, pela carinha dela e pedido de socorro ao grande clã feminino, não sabendo o que dizer, ataca todo um ideário discordante com a apelativa classificação de “machismo”, mostra mesmo que ela não tem é razão de “porra” (do Lula) nenhuma em sua defesa.
Realmente este discurso de “feminista” tem sido muito usado por incompetentes que desilustram a capacidade das mulheres em qualquer função. E delas até em área política, o mundo possui exemplos magníficos de administração pública, como Margaret Thatcher e Ângela Merkel.
Também semana passada publiquei uma crônica em que afirmava que toda a questão nacional, sua solução se resume em descentralização e revisão do pacto federativo retornando àquele destruído e turbado por uma ditadura caudilhesca.
Enfim, o velho ditado “de quem pariu Mateus que o embale”. Então, ao colega Altino, a quem D. Marina abandonou, indo ser bancada pelos cofres paulistas, para ser deputada federal com alívio do eleitor acreano, é desejo meu, que fique para ela “pro C” e com cuidados.
Belo Horizonte/Macapá 01/07/2025
(*) José Altino Machado é jornalista