
Viver com serenidade faz toda diferença - créditos: José Roberto Marques
23-08-2025 às 10h00
Daniela Rodrigues Machado Vilela*
Existem na vida, elementos de grande valor como: uma amizade verdadeira ou mesmo um diálogo rico em elementos para crescimento humano e espiritual. Relações enriquecedoras do ponto de vista intelectual e pessoal permitem um ressignificar da vida em meio ao caos de acontecimentos diários e concedem um grau de serenidade e inteligência prática aplicada, ou mesmo teórica, para lidar com as questões cotidianas. Ninguém nasce pronto, mas pode com esforço, dedicação e observação aprender a viver de modo mais ético, sereno, tranquilo, quiçá, feliz.
Paz e serenidade de ação são atributos importantes de serem cultivados cotidianamente.
Tratar com tolerância e empatia as questões, inquietudes, desejos e sonhos que afetem aos outros e aceitar o que foge ao controle, são fulcrais para uma vida serena. Seres humanos devem buscar o controle das paixões desarrazoadas e vis. Enfim, sempre é tempo de busca e encontro com uma sabedoria aplicada.
A filosofia estóica apresenta lições sobre a importância da autodisciplina, autocontrole e da aceitação do que foge ao domínio do ser. Sêneca, autor estóico, tem algumas obras interessantes que condensam grande sabedoria, dentre estas: “Sobre a Brevidade da Vida”, “A tranquilidade da Alma”, “A Vida Feliz”, entre outros. Nestas obras, o autor, convida o leitor a uma reflexão aprofundada sobre a possibilidade de cultivar uma vida feliz, sábia, autêntica, equilibrada, tratando em seus textos da condição humana, suas limitações e potencialidades.
O autor citado, trata dos vícios e da difícil tarefa de se livrar da escravização que estes impõem. Retrata pessoas presas em um horizonte de lamúrias, que reclamam constantemente. Acentua a importância da contemplação, dos propósitos, de fortalecer o senso de justiça, cumprir deveres assumidos, cultivar a paciência, a piedade com as dores que afligem o mundo e o valor elevado de se manter uma consciência tranquila.
Sêneca afirma que a idade fala do tempo vivido, mas que nada diz da qualidade do que se viveu. Reforça que há uma importância acentuada em se buscar impactar positivamente os outros por meio das ações praticadas, silêncios e falas assertivas, enfim, é preciso cuidar do modo como se conduz a própria vida sempre com propósitos de instituir o bem do coletivo e o próprio.
A adaptação a certas circunstâncias incontornáveis, o aproveitamento de oportunidades que a vida oferece para amadurecer, aprender e superar obstáculos, evitando ficar inerte, são comportamentos sábios.
Outrossim, estar em movimento é vital, porque a vida é ação e atuação. Não se deve paralisar diante de erros, dúvidas, dificuldades ou medos. Não se abandona a vida, se luta sempre, avaliando as alternativas esboçadas no caminho.
É gesto de sabedoria buscar parceiros de caminhada inteligentes, companheiros presentes, ou seja, relações que agreguem e partilhem. Conversar com quem contribui com ideias renovadas alivia, pois visões de mundo diferentes das que se possui é enriquecedor. Por outro lado, é sensato se afastar de gente tormentosa, viciada em reclamar, que não estuda, não lê, não se abre para o novo e só fala sandices.
Abandonar exibições vazias, ornamentações de performances e não se importar demais com a opinião alheia, para além, evitar uma vida de arroubos e excessos são gestos de maturidade por parte do indivíduo. Os instintos devem ser moderados, o prazer não deve ser buscado de modo desenfreado. Por outro prisma, cultivar generosidade, gentileza, trato suave e humanidade. Deixar saudades por onde passar, agregar.
Administrar bem o que se possui, sejam relações pessoais como amizades, vínculos e até mesmo posses materiais, assim como os dons que Deus concedeu, realizando com prudência as tarefas diárias é de valor ímpar. Ninguém é detentor de uma conduta irretocável, mas nem por isto, precisa ceder a toda categoria de vícios, nem ser um carrasco para outrem ou para si.
Ter propósito de vida e trabalhar com objetivos bem delineados é um horizonte indispensável ao homem que pretende uma vida sábia, assim como dimensionar um “tempo médio” para conquistar o que se pretende.
Que o indivíduo não se acomode com uma vida inútil, tampouco, ocupada demais. Nem se atenha com futilidades em demasia, de outro lado, não se levar a sério demais também é salutar. Ou seja, é imprescindível deter tempo e olhar apurado para apreciar e vivenciar as sutis belezas e acontecimentos diários.
Tranquilidade demais atrapalha, muita agitação igualmente, ter um passo particular, equilibrado e estar aberto às mudanças, deter um certo grau de obstinação e se dispor a realizar concessões ajuda no alcance de uma vida mais serena. O maior tempo a se dedicar deve ser para as próprias questões, sonhos, angústias e desejos de modo a que se possa significar e ressignificar positiva e prospectivamente a existência que se possui.
Enfim, levar uma vida superficial e falsa, disfarçar o tempo todo para impressionar a outrem é desgaste hercúleo. É gesto sábio relutar em usar máscaras, despojar-se de ser o que não se é, afinal uma vida de hipocrisia é exaustiva para se manter, um fardo.
Portanto, organizar-se, ter momentos de descanso e recarregar as forças, equilibrando tempo livre com o de trabalho de modo a se desenhar os próprios sonhos e se direcionar rumo a concretizá-los, são propósitos de uma existência sábia. Finalmente, aplicar o que se aprende e não aprender como mera ornamentação intelectual, eis o segredo.
*Doutora, Mestra e Especialista em Direito pela UFMG. Atualmente, Residente Pós-doutoral UFMG / FAPEMIG. Professora convidada no Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Minas Gerais. Autodidata na arte da vida e da pintura.