
estudo línguas para ter o prazer de desbravar o patrimônio literário de um povo. CRÉDITOS: Freepik
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06-05-2025 às 09h34
Sérgio Augusto Vicente*
Quando me perguntam por que escrevo, respondo que escrevo, primeiramente, para mim. Caso sirva ou interesse alguém, ótimo. Mas, antes de mais nada, tenho fome de palavras que organizem meus pensamentos e a minha relação com o mundo. Isso acontece com a escrita acadêmica, com um conto, uma crônica, um poema etc.
Da mesma forma, estudo línguas para ter o prazer de desbravar o patrimônio literário de um povo, construir novas formas de pensar e enxergar o mundo, dizer e pensar de forma diferente aquilo que naturalizamos como óbvio em nossa cultura.
Sei que morrerei sabendo muito pouco, nem levarei nada disso comigo. Não tem problema! Quero aproveitar o percurso e a caminhada me alimentando de repertório que me torne mais humano e consciente da minha insignificância diante do universo, para que não me deixe facilmente escravizar pelos tolos que pensam diferente. Que, ao invés de investirem em algo que os liberte e emancipe, perdem tempo com moralismo tosco e piegas, cargos, status, dinheiro e moda. Nada mais cafona do que isso!
Chique mesmo é ter tempo para gastar com você e com os seus. O resto é tolice, cafonagem e perda de tempo. Ao invés de perdermos tempo pedindo a Deus “bons cargos”, ótimos salários e coisas extravagantes, por que não nos abrirmos pra Ele e tentarmos nos deleitarmos com as delícias da criação, que o dinheiro está longe de comprar, muito embora muitos pensem que podem fazê-lo?!
Quantas vezes não vemos pessoas ostentando roteiros de viagens completamente programados por agências de turismo, sem conhecer e ter menor sensibilidade para história, arte e coisas afins? Será mesmo que um simples voo a Paris faz alguém mais conhecedor de Paris? Se eu não estou preparado para ouvir e apreender boas histórias em um ponto de ônibus, na fila da pipoca ou na mesa do restaurante, estou realmente preparado para conhecer a cultura de outro povo, com toda a sua diversidade, nuances e complexidade?
Sinto-me mais feliz conhecendo o mundo de meu cantinho do que viajando pelo mundo sem conhecer minhas raízes. Como dizia Alberto Caeiro, da minha aldeia eu sei o quanto da terra posso enxergar do universo. Ou, segundo Manoel de Barros, posso desbravar o mundo no meu quintal. Entre uma página e outra de literatura e de história, os passarinhos têm tanto para me contar…
É dessa forma que procuro me renovar a cada dia, enquanto envelheço. Sem isso, perdemos o viço, o encantamento, a sensibilidade, o humano e a presença de Deus em nossas vidas. Sem isso, transformamos Deus em frases soltas, desconexas e alienadas, simplesmente decoradas fora de contexto, como objetos prontos para matar, perseguir, violentar.
Como boa semente que precisa de terra adubada e irrigada para germinar, Cristo precisa que nossos corpos sejam templos fertilizados com amor, sabedoria e conhecimento. Cristo não é ignorância, não é treva, não é moralismo cego, não é ódio de classe. Cristo é compreensão, misericórdia, amor e empatia. Será por que Ele viveu como um de nós?
*Sérgio Augusto é Professor de História e Historiador. Doutor, Mestre, Bacharel e Licenciado em História pela UFJF. Colunista do jornal “Diário de Minas” e colaborador de outros periódicos. Membro correspondente da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil (Mariana-MG). Trabalha na Fundação Museu Mariano Procópio (Juiz de Fora-MG).