Reflexão sobre Carnaval desde quando aqui a folia era dentro dos clubes sociais
Neste 2023 que dá os primeiros passos, se pode concluir que a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) encontrou a receita certa para o Carnaval. Para o próximo, é só aprimorar uma coisa e outra.
23-02-2023
09h:17
Bento Batista*
Quem se der ao trabalho de refletir sobre o que está à frente ou por trás do carnaval irá encontrar um leque de questões que se foram aglutinando a ele. Questões essas que, se por um lado atraem muitos, por outro afastam a maior parcela da sociedade e esta busca alternativa para fugir do barulho carnavalesco.
Originariamente, o carnaval surgiu como uma manifestação popular mais ao nível do folclore, quando as famílias, os vizinhos e os amigos se juntavam para formar blocos caricatos, e não havia malícia, ou pelo menos não era evidente. Era alguma coisa para descontrair sem querer agredir ninguém.
Daí o carnaval passou a ser vivido nos clubes, em ambientes fechados, onde se usava lança perfume, que deixava os foliões em alta temperatura de alegria.
Jogavam-se confetes e serpentinas e tinham-se uma animação quase pueril.
Até bem pouco tempo, Belo Horizonte era o melhor lugar para quem não gosta de carnaval passar os dias de reinado de Momo. A cidade ficava vazia.
Mas, de uns anos para cá, o panorama mudou e a cada carnaval tende a evoluir de modo que quem não gosta tem duas opções e uma alternativa para fugir dele. Ficar em casa ou viajar para encontrar um vácuo em algum lugar onde escutar o silêncio.
No entanto, o carnaval não passa de uma válvula de escape. Os políticos se apossaram dela e usam-na em proveito próprio a fim de aliviar as tensões sociais.
No caso particular de Belo Horizonte, depois de sofrer os estragos por não estar preparada para receber volume pesado de chuvas, talvez fosse o caso de nem ter carnaval. Imagina isso, depois de dois anos de pandemia!
Mas, claro que teve só terminou na Quarta-Feira Cinzas, com dois mortos, um esfaqueado no pescoço e outro atropelado por um caminhão, na Praça da Estação
Tirante isso, o Carnaval de BH foi sucesso total.
E ao que parece a prefeitura investiu pesado, armando toda infraestrutura para facilitar a farra momesca, mesmo causando incômodo para quem não estava a fim de carnaval, fechando ruas limitando o tráfego, entre outros dissabores.
Mas tudo é carnaval. Não, nem tudo.
A prefeitura precisa encontrar uma maneira humana de tratar da questão social. É triste para quem a pé anda pelas ruas da cidade constatar a quantidade de gente dormindo nas calçadas, debaixo de viadutos e de marquises.
É um disparate.
Enquanto muitos se divertem nas ruas, outros que nela e dela vivem são obrigados a buscar novas paragens porque nesses dias o palco deles é entregue a Momo. O resto, bem, o resto fica, se ficar, para depois de acabada a farra.
*Jornalista e escritor.