Rússia ultrapassa Brasil e fica no Top 10 das maiores economias do Mundo - Créditos: divulgação
06-12-2025 às 08h16
Breno Mendes Araújo*
Nos últimos anos, o Brasil, embora ainda esteja entre as maiores economias do mundo, tem demonstrado sinais evidentes de perda de dinamismo, o que compromete sua permanência entre os países considerados em situação econômica favorável. A trajetória recente revela um país capaz de apresentar momentos de expansão, mas incapaz de sustentar um ciclo duradouro de crescimento — um padrão que especialistas classificam como “voos de galinha”. Muito em função deste quadro, o Brasil foi ultrapassado pela Rússia e saiu do ranking das dez maiores economias do mundo em 2025, segundo FMI – Fundo Monetário Internacional.
Em 2024, o Produto Interno Bruto registrou alta de 3,4%, resultado que parece expressivo e chegou a colocar o país entre os mais crescentes naquele ano. No entanto, esse desempenho não se converteu em avanços estruturais; ao contrário, manteve a percepção de que o crescimento brasileiro segue aquém do necessário para acompanhar outras economias emergentes mais dinâmicas. Já em 2025, os sinais de fragilidade se intensificaram diante de juros elevados, inflação persistente e indefinição fiscal, fatores que inibem investimentos produtivos e comprometem a capacidade de planejamento de longo prazo.
A perda de fôlego tem raízes profundas. Há décadas, a economia cresce a um ritmo modesto, inferior ao de países como Índia e China, o que limita avanços em renda per capita, infraestrutura, mobilidade social e bem-estar — aspectos essenciais para ingressar em um ciclo de desenvolvimento consistente. Somam-se a isso a baixa produtividade, o atraso educacional, a falta de mão de obra qualificada e a insuficiência de investimentos em tecnologia e inovação. Rankings internacionais de competitividade refletem esse quadro, colocando o Brasil entre os últimos colocados em indicadores relacionados à qualificação profissional, gestão e capacidade de inovação.
A infraestrutura deficiente — seja em logística, transporte, saneamento ou conectividade — agrava o problema, tornando o ambiente de negócios mais oneroso e limitando a competitividade internacional. O cenário se complica diante dos juros elevados, que encarecem o crédito, aumentam o custo de capital e desestimulam empresas a investir em expansão ou modernização. Ao mesmo tempo, o desequilíbrio fiscal e o crescimento da dívida pública reduzem a atratividade do país para investidores estrangeiros, criando um ciclo de incertezas que compromete a previsibilidade econômica.
Outro ponto crítico é a forte dependência das commodities. Em vez de avançar rumo a uma economia diversificada, baseada em tecnologia e em setores de maior valor agregado, o Brasil se mantém vulnerável às oscilações externas e aos choques de preços internacionais, o que dificulta a consolidação de um crescimento estável. Relatórios internacionais mostram que o país ainda está muito atrás em exportações de serviços sofisticados e em inovação industrial, elementos que hoje impulsionam as nações emergentes mais bem-sucedidas.
Esses entraves explicam por que o Brasil não consegue se manter no grupo de países em desenvolvimento com perspectiva sólida. Em economias que evoluem de forma consistente, fatores como aumento real de renda, educação de qualidade, inovação tecnológica, infraestrutura eficiente, ambiente de negócios previsível e menor dependência de commodities são determinantes. No caso brasileiro, cada um desses pilares enfrenta limitações estruturais que se acumulam e impedem que a economia avance de maneira sustentável.
Ignorar reformas profundas tem um custo cada vez mais alto. A estagnação na melhoria da qualidade de vida, a vulnerabilidade externa, a fuga de investimentos de longo prazo e a perda de oportunidades estratégicas — especialmente em áreas como energia limpa, industrialização avançada e inovação — tornam o país menos competitivo em um cenário global extremamente acelerado. A insistência em soluções superficiais, por sua vez, perpetua um ciclo de crescimento curto e instável, incapaz de transformar potencial em desenvolvimento real.
O Brasil ainda dispõe de atributos valiosos, como mercado interno robusto, diversidade produtiva e recursos naturais estratégicos. Mas, sem enfrentar de forma decidida questões estruturais — da educação à produtividade, da infraestrutura ao ambiente de negócios, da inovação à estabilidade fiscal — continuará distante do grupo de economias emergentes capazes de construir um futuro concreto de prosperidade. A crença de que “em algum momento o país voltará a crescer” não basta: é preciso uma agenda firme de reformas para impedir que o atraso se torne irreversível.
*Breno Mendes Araújo é empresário e administrador de empresas

