Uma nação na qual vale o feito - créditos: José Altino
23-11-2025 às 08h00
Jose Altino Machado (*)
Oitenta e três anos. Assumindo velhice sem, contudo, deixá-la entrar, observo a minha volta os “homens” de hoje.
Um país que tenta manter uma Nação com histórias e valores extremamente distorcidos. Personalidades moldadas, falsos mitos, narrativas de vidas mentirosas e outras coisas afins.
Grandes lendas do passado na conquista e manutenção do território, com o passar dos anos parecem mesmo, nada haver valido seus esforços e dignidade.
Uma Nação na qual nada vale o feito, e sim, como o contam, já se tornando famosos como narrativas.
Um feriado e acontecimentos recentes, atravessados na semana nos trouxe inúmeras reflexões, levando-me a confessar que em dias de hoje, aos exemplos históricos, se tem dificuldades a quem saudar ou reverenciar.
Um Fernão Dias, acreditado merecedor em ter seu nome dado a uma das principais rodovias do país, embora reconhecido escravagista que levou a morte, por fome, mais de 4.000 índios aprisionados em São Paulo e capturados ao sul.
Bandeirante fracassado, descobridor de falsas esmeraldas, comprometendo ainda seu genro Borba Gato que matou emissário do rei que viera aprisioná-lo pela tragedia ocasionada.
Fernão morreu as margens da lagoa do Cababuçu, algo próxima ao Porto das Canoas de São Manoel, hoje Governador Valadares. E quanto a Borba Gato…severo e verdadeiro líder foi indultado.
Precisavam dele para combater paulistas sediciosos em Sabará-MG…foi lá, logo ali e os botou a correr até a Mantiqueira.
Ainda noutra página da história, por outro lado, esquecido, um verdadeiro bandeirante, Diogo Jorge o Velho, que após seguidas tentativas da Coroa em debelar a sedição liderada por jesuítas, seguiu para lá e pôs ordem ou desordem nos interesses separatistas das Missões.
Também outros fracassos oficiais, levaram a que fosse enviado ao nordeste para conter as intenções “libertárias” comandadas pelo valente Zumbi, com justiça e também mérito, agora o homenageado do feriado da semana.
Lá chegando lutou, venceu e, das somadas heranças, o país permaneceu unido passando a formar a Nação.
Ah sim, em sua volta, com talento de bandeirante desbravador, achou tempo e momento de encontrar ouro no rio das Contas e em outros, que fizeram prosperar o sul baiano.
Tantos fatos verdadeiros assim narrados, bem mostram porque os brasileiros tem real dificuldade em reconhecer e exaltar seus verdadeiros líderes e valores, o que traz enormes prejuízos por suas ações e descambo a populismos, afetando não só comportamentos, mas políticas de administrações.
Também essa semana, um pedaço da história nacional, outro, foi atropelado por conhecido facínora, em nome do Estado.
O famoso garimpo do Lourenço no Amapá. Com passado tão forte, (1894) que bem por causa dele, uma herança dos irmãos Firmino e Germano Ribeiro Pinheiro a Nação se tornou brasileiro. Por ele e por causa dele Amapá é Brasil. Que o diga o coitado do tenente francês.
Em termos legais, lá é um decreto de lavra que se confunde com a história nacional. E nada disso foi suficiente em deter a absurda sanha, já por muitos conhecida como assassina, do senhor Hugo Loss, em nome de um respeitável organismo do Estado que ele hoje conduz a uma extrema rejeição e antipatia.
É sabidamente dele o resultado de algumas mortes na Amazonia brasileira, a começar a do folclórico Boca Rica no vale do Tapajós, morto a tiros de fuzil disparados de um helicóptero ocupado por Loss.
E não só o Boca, mas muitos outros, como aqueles em uma rodovia em Rondônia. Só cinco, como disseram e mais explicando as forças do governo terem sido atacadas, embora jamais nenhum deles, de farda tenha sido ferido.
Inquéritos, apurações, que deveriam ser abertas pelo próprio e conivente ministério público federal, nenhum. Também por se tratar de crimes envolvendo agentes federais, pela Polícia Federal, igual a rapidez que os fazem quando se trata de um de seus pares, honestamente os abrindo na hora, também nenhum.
Me recordo que assistindo a uma entrevista deste valente, quando com boas armas e obedientes companheiros, ele disse a que quisesse ouvir:- “TEMAM o IBAMA” uma ameaça armada a nacionais à nível nacional. Um governo com administrador ajuizado o demitiria na hora, pois o certo seria:-RESPEITEM O IBAMA.
E segundo consta, lá pelas bandas do rio Curuá, não se fez de rogado em matar bichos que embelezam os ares amazônicos, para com suas penas, enfeitar sua própria concubina, para na maior rede de televisão do país denunciar trabalhadores legítimos e documentados como invasores de áreas consagradas a originários o que não era bem verdade.
Acredito mesmo, embora não professe a crença, que espíritos do passado, com muitos dos quais também cheguei a conviver, haverá em sonhos dos muitos de agora, não os conduzir, mas induzi-los a livrar o paraíso amazônico de males infernais como estes; ou no mínimo que seja, arrancar um despertar da justiça e levar tantos assim à cadeia mais próxima.
Quanto aos argumentos de ilegalidades é de se perguntar, quais? A ninguém é dado o poder de se auto legalizar e a Constituição é clara ao impor ao governo esta obrigação e por abuso armado, leis tem se transformado em vontades pessoais na irresponsabilidade governamental.
Aliás, também já li algo histórico assim no passado, Inquisição Espanhola e Revolução Francesa… exemplos esquecidos a tantos aqui de desumanas e doentias obsessões ambientais, também juntos, que descerão aos quintos dos infernos.
BH/GV/Macapá, 23/11/2025
(*) Jose Altino Machado é jornalista

