
As festas Juninas, patrimônio imaterial do Brasil estão chegando a sua temporada com quadrilhas e guloseimas da roça - créditos: divulgação
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18-05-2025 às
Alberto Sena (*)
Quando chegava o mês de junho, em Montes Claros das décadas de 1950 e 1960, durante alguns dias a moçada da época formava pares para ensaiar a dança da “quadrilha junina”.
Cada ano era na casa de uma determinada família. Esse costume era gostoso. Éramos quase todos da mesma idade. Adolescência a flor da pele.
Geralmente o par era de namorados ou de pretendentes, o que gerava mais sensação ainda. Nessa época, as moçoilas eram mais tímidas talvez porque a televisão ainda não existia em Montes Claros e no máximo elas frequentavam os cinemas e liam fotonovelas cheias de personagens italianos.
Formados os pares, um atrás do outro, uma determinada pessoa do grupo ficava com a incumbência de ditar o que todos deviam fazer, iniciando com o primeiro grito:
– “Caminho da roça”
Os noivos iam na frente. Acontecia de a “quadrilha” ser animada por um sanfoneiro. E em meio ao arrasta pé, ouvia-se o grito:
– Anarriê…
Então as meninas e os meninos se separavam formando duas colunas.
Os meninos se aproximavam das meninas, cavalheiros, cumprimentando-as flexionando o tronco, retornando aos seus lugares de costas.
As meninas, damas, se aproximavam dos meninos cumprimentando-os espichando a saia dos lados e dobrando o tronco, numa reverência. Em seguida retornavam da mesma forma, de costas para os seus lugares.
– Balancê – todos ouviam o grito e balançavam os braços naturalmente.
Não vou esmiuçar a dança da quadrilha junina porque a intenção é só lembrar do quanto foi gostosa e bem vivida essa época, quando o clima quente de Montes Claros dava um refresco.
Não sei se isso ainda acontece na cidade.
Nas escolas, principalmente nas escolinhas das crianças ainda vemos esse tipo de manifestação, que não deveria desaparecer porque faz parte do nosso folclore.
Bom é lembrar o dia da apresentação da quadrilha, todos com a indumentária apropriada, os meninos de chapéu de palha e o rosto maquiado com carvão, barba e bigode; as meninas de saia de pano de chita, a moda caipira, e chapéu de palha também na cabeça e o rosto com ruge e batom seguiam o ritmo do sanfoneiro.
Os noivos iam na frente vestidos a caráter e ao final da apresentação se fazia o casamento deles e então a festa prosseguia com arrasta pé e os comes e bebes ao redor da fogueira.
(*) Alberto Sena autor dos livros “Retrato De Nós Mesmos”, sobre Montes Claros do passado, e “Nos Pirineus Da Alma” sobre o Caminho de Santiago de Compostela, na França e na Espanha, que podem ser enviados pelos correios.