Precisamos de um novo Tiradentes ou de reeditarmos os ideais do Iluminismo?
É possível que Tiradentes tenha recebido lampejos do Iluminismo. A gente fala em Iluminismo, mas muitas das pessoas não sabem do que se trata.
21-04-2023 - 09h:57
Alberto Sena*
A essa altura do dia 21 de abril de 2023, os mineiros e os brasileiros não estão de todo pensando no porquê de hoje ser feriado nacional. O que a maioria deseja é gozar o feriado, cada um a seu modo e com as suas condições financeiras, que tanto podem levar ao boteco como para alguma praia paradisíaca.
Mas ninguém é capaz de passar uma borracha para apagar o que se deu neste dia fatídico, quando um camarada simples de origem, que perdeu os pais cedo e ficou sem uma profissão e acabou cuidando da boca dos outros e por isso ganhou o epíteto de Tiradentes.
Não tinha grande instrução, mas ao que tudo indica, era um homem antenado, consciente da necessidade de dar um jeito na situação, o Brasil não podia ficar mais sob o jugo da coroa portuguesa.
É possível que Tiradentes tenha recebido lampejos do Iluminismo, que na ocasião grassava pela Europa. A gente fala em Iluminismo, mas muitas das pessoas não sabem do que se trata. Se se refletir sobre a palavra, entende-se que seja algo referente à luz.
E era isso mesmo, dentre as várias ideias que circulavam pela Europa, o Iluminismo defendia “a liberdade, o progresso, a tolerância, a fraternidade, governo constitucional e separação Igreja-Estado”.
Enquanto muitos recebem a “Medalha da Inconfidência” em solenidade presidida pelo governador Romeu Zema 2, em Ouro Preto, na Praça Tiradentes, convido a quem interessar possa refletir sobre dois pontos: o Brasil precisa de um novo “Tiradentes” ou de reacender os ideais do Iluminismo?
No nosso caso, liberdade nós temos. Mas não pensem que liberdade seja a gente fazer o que impulsivamente vem à cabeça. Não, liberdade é o camarada estar livre para fazer as coisas, mas com responsabilidade. Liberdade para respeitar o direito dos outros, e assim por diante.
Progresso – temos progredido de lá para cá, mas foi tudo a qualquer preço e com espírito de imitação. O Brasil não é uma laranja chupada, mas muito já se chupou daqui e ainda chupam, mas os brasileiros hão de saber um dia que precisamos exercitar a nossa dignidade apregoada e apreendida por um dos melhores brasileiros, o professor Darcy Ribeiro, de quem celebramos o centenário.
Nenhum país tem a diversidade racial que temos, forjada a sangue, ferro e fogo. Milhões de índios foram, como diz Darcy, moídos; outros milhões de negros foram escravizados e tudo isso misturado ao sangue português, gerou essa raça maravilhosa, de gente talentosa, alegre e digna, que só precisa de um prumo.
Tolerância e Fraternidade são o que mais precisamos no momento para, inclusive, retirar da mente e do corpo o negativismo que fez adoecer uma banda mais do que a outra da população brasileira.
Governo constitucional e separação Igreja-Estado são dois pontos importantes. Governo constitucional é o que se passa nesse momento com Luiz Inácio Lula da Silva, eleito democraticamente e pela terceira vez presidente, e ainda há quem, de maneira tacanha, queira criar cizânia levantando dúvidas quanto a lisura das eleições.
Por último, Igreja é igreja e Estado somos todos nós. Não dá para misturar uma coisa com a outra. Tivemos a comprovação recente de que podem andar lado a lado, mas não misturado, para nunca mais dar no que deu.
Para concluir, precisamos tanto de Tiradentes para nos dar coragem, destemor, e amor ao nosso torrão, fazer de tudo para que o País dê certo, para o bem de todos os brasileiros. Com distribuição de renda menos injusta.
E precisamos reeditar o Iluminismo dos nossos tempos para enfim nos conscientizarmos de que cada um de nós é parte de um todo e não há por que viver fechado em si mesmo em um regime que estimula o ter em vez de ser. Ser tolerante, praticar a fraternidade.
*Editor Geral do DM, jornalista e escritor.