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03-10-2025 às 09h32
Raphael Silva Rodrigues*
Dominar a técnica já não garante mais o sucesso profissional; em um mercado saturado de conhecimento e títulos, outras habilidades passaram a ter peso decisivo para quem deseja se destacar e conquistar o respeito do público.
Durante décadas, prevaleceu a ideia de que profissionais que acumulassem certificações e títulos acadêmicos teriam automaticamente portas abertas e reconhecimento no meio social. A técnica era vista como sinônimo de excelência, prestígio e segurança. No entanto, essa crença foi sendo revista à medida que o acesso à informação se democratizou e a concorrência tornou-se cada vez mais apertada. Atualmente, dominar teorias e procedimentos é apenas o ponto de partida; é preciso ir além, desenvolvendo um conjunto de competências que transcendem o saber puramente técnico.
A consequência desse fenômeno é clara: as empresas e os clientes começaram a valorizar atributos que extrapolam o saber técnico. As chamadas “soft skills” (habilidades interpessoais, sociais e emocionais) passaram a ser imprescindíveis para quem deseja construir uma trajetória sólida e admirada. Em projetos complexos e equipes multidisciplinares, a capacidade de colaborar, comunicar e resolver conflitos é tão ou mais valiosa que a expertise técnica individual.
O mercado de trabalho moderno exige profissionais capazes de empreender, inovar, liderar e resolver problemas de maneira colaborativa. Os segmentos mais dinâmicos buscam pessoas com inteligência emocional apurada, capacidade de adaptação, empatia e criatividade, além das tão faladas redes de contato.
Mais do que diplomas, ser capaz de construir relacionamentos saudáveis, liderar equipes de maneira humanizada e cultivar boas redes de contatos são aspectos que definem o sucesso moderno. Líderes que exercem empatia, possuem habilidades sociais, que sabem ouvir e inspirar, se tornam pontos de referência. Essas habilidades contribuem diretamente para a construção de uma marca pessoal forte e para a capacidade de influenciar positivamente o ambiente de trabalho.
Na prática, profissionais que unem competências técnicas às chamadas “soft skills” ocupam papéis estratégicos nas organizações e até fora delas, como empreendedores, consultores ou formadores de opinião. Eles são os que conseguem traduzir a complexidade técnica para diferentes públicos, gerenciar expectativas, negociar e inspirar inovação, impulsionando tanto o seu próprio crescimento quanto o da organização.
Por vezes, ainda é tentador acreditar que aprender mais sobre determinada técnica é suficiente para garantir o futuro. Caímos no mito da especialização absoluta. Mas o profissional do século XXI é, na verdade, um “especialista relacional”: alguém que, além de saber profundamente uma área, consegue ser, agir e inspirar através de suas interações. Ele é capaz de conectar pontos, pessoas e ideias, transformando conhecimento em valor.
Cabe-nos perguntar: qual o real valor da técnica isolada num mundo que exige interação, liderança e propósito? É hora de ampliar o campo de visão. Domínio técnico, embora essencial, é apenas uma das peças do quebra-cabeça do sucesso. O que diferencia profissionais e empresas, hoje, é a habilidade de conectar saberes, compreender pessoas e criar soluções coletivas e significativas.
Ao se deparar com o dilema entre títulos e atitudes, reflita: quem você admira no mercado? O que, de fato, fez essa pessoa se destacar? Provavelmente, a resposta não reside apenas no que ela sabe fazer, mas em como ela interage, lidera e inspira. O futuro pertence àqueles que unem técnica e humanidade, que são capazes de inovar tecnologicamente sem perder a conexão com as pessoas e o propósito maior.
*Raphael Silva Rodrigues é Doutor e Mestre em Direito (UFMG), com pesquisa Pós-doutoral pela Universitat de Barcelona, na Espanha. Especialista em Direito Tributário e Financeiro (PUC/MG). Professor do PPGA/Unihorizontes. Professor de cursos de Graduação e de Especialização (Unihorizontes e PUC/MG). Advogado e Consultor tributário.