31-12-2024 às 10h02
Paulo Roberto Cardoso*
No dia 27 de dezembro comemora-se a data magna da Marinha Mercante brasileira. Em um País cortado por hidrovias e com um litoral gigantesco; um País em que 95% de todo o seu comércio se dá por via marítima e cujo interior é cortado por rios, há séculos clamam por se tornarem hidrovias.
Hidrovias essas que possam viabilizar, por meio do transporte modal, o fim de uma questão grave de hoje, que é, claramente, de segurança nacional, a total e exclusiva dependência do transporte rodoviário.
Nunca é demais lembrar dos riscos de desabastecimento quando da greve dos caminhoneiros e seus patrões colocando o governo do País de joelhos frente ao seu poder de paralisação.
É bom lembrar as questões da história, o presidente Allende, no Chile, foi derrubado após total paralisação por uma greve de caminhoneiros, evento que levou o país ao colapso político, econômico e social.
Eis aí porque o modelo de total dependência do transporte rodoviário já é hoje uma questão de segurança nacional.
No dia 27 de dezembro, data em que celebra a criação de nossa Marinha Mercante, muitos brasileiros se perguntam sobre a Marinha Mercante brasileira – se existiu e sumiu ninguém sabe, ninguém viu como a consagrada Conceição, da letra da música do nosso cancioneiro. Um País cortado por rios, que simbolizam verdadeiras artérias, que continuam sendo ignorados como meios de transporte economicamente viáveis, sério, de desenvolvimento nacional.
Ainda agora, o governo do estado do Rio de Janeiro, a Marinha Brasileira, a Soamar e a Firjan, Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, em boa hora consolidam o “claster” naval do Rio de Janeiro como passo essencial para a retomada do nosso polo de indústria naval, criminosamente extinto com a mais que suspeita eliminação da Sunamam nos anos 1980.
É de indagar-se o que tem a ver o jornal Diário de Minas e por consequência Minas Gerais com esse assunto? Pergunta recorrente na boca dos desavisados e desconectados da vida do real. Afinal, navios dependem de aço e onde se propõe a fabricá-los necessariamente deverá existir aço, e aço é assunto de Minas Gerais e dos mineiros, cuja base histórica de sua economia é o ferro, o minério, o aço como muito bem nos tem mostrado o jornalista e pesquisador Américo Antunes em suas produções literárias.
Curioso é que a Marinha do Brasil, centenária em Minas Gerais, já com sagacidade e lucidez percebeu a necessária conexão. Todavia, é de estranhar a indiferença e o silêncio da nossa Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) que muito pelo contrário, foi na contramão de suas congêneres e extinguiu a sua Câmara de Indústria de Defesa chamada “Condefesa”. Privilegiado espaço no qual a Marinha do Brasil e os projetos de nossa Marinha Mercante ambas necessariamente estariam dialogando com a siderurgia mineira. Isso não é absolutamente trabalhar em silêncio como gostam de dizer sobre os mineiros e sim pobreza e total falta de imaginação institucional.
O Diário de Minas e a Soamar em Minas não se omitirão em levantar a bandeira da conexão da siderurgia mineira com a retomada do polo naval no Rio de Janeiro e em Vitória no Espírito Santo. Esta é uma bandeira digna das lutas tradicionais de Minas Gerais e dos mineiros.
*Paulo Roberto Cardoso é Diretor Executivo do Diário de Minas e Presidente da Soamar/BH