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No piloto automático a conquista antes tão desejada já não tem o mesmo brilho, e o desejo se desloca para outra coisa - créditos: divulgação
08-02-2025 ÀS 08h08
Por Raphael Rodrigues*
“Apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida”
(Sêneca – Filósofo Estoico)
Vivemos em uma sociedade que glorifica o sacrifício e, desde cedo, nos ensina que precisamos traçar grandes objetivos e fazer o que for preciso para alcançá-los. Isso nos coloca em uma condição de “piloto automático”, na qual definimos o objetivo e simplesmente seguimos em frente, engolindo sapos, passando por cima de tudo e de todos para “fazer acontecer” e “ser alguém na vida”.
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Os objetivos são extremamente importantes, mas o problema é que muitas situações podem ocorrer durante a jornada e frustrar os planos: você percebe que aquela faculdade não era a que desejava após três anos de curso, descobre que aquela ideia genial não era tão viável quanto acreditava, precisa parar para respirar porque está cansado e exausto ou, até mesmo, pode morrer antes de ver qualquer coisa se concretizar. Então, ou você já está com mais anos do que gostaria e se sente um fracassado por não ter mais tempo para alcançar a tão sonhada glória, ou segue infeliz, aos trancos e barrancos, atrás do “American Dream”.
A questão é que talvez os objetivos sirvam apenas como combustível para nos fazer pegar a estrada da vida, e o que realmente importa é fazer tudo aquilo em que se acredita, conhecer vários melhores amigos, aproveitar as oportunidades de curtir momentos incríveis e refletir sobre a jornada nos momentos nem tão legais. Além disso, é essencial ter uma confiança inabalável no próprio potencial e a certeza de que, se você não chegar aonde queria, pelo menos aproveitou o processo.
Uma prova dessa teoria está na psicologia, que explica que a nossa mente não deseja apenas o “objeto” em si, mas sim o processo de desejar. É por isso que, quando conseguimos algo, a conquista antes tão desejada já não tem o mesmo brilho, e o desejo se desloca para outra coisa.
Por isso, apenas siga em frente. Curta a paisagem que você está criando na sua vida sem se preocupar com a chegada. Pare para contemplar a beleza do momento quantas vezes achar necessário, desacelere quando estiver indo rápido demais ou até faça paradas se for necessário, e, se tiver vontade, vire à direita no meio do caminho só para ver o que há lá. E, principalmente, não se preocupe com a chegada – provavelmente, ela será frustrante.
Raphael Rodrigues
Filósofo, Terapeuta e Graduando em Psicologia