O pequi bom de ser consumido é catado no chão, quando está no ponto o fruto cai do pequizeiro. E é consumido pelo sertanejo que, bem alimentado, promete “um filho do pequi” nove meses depois.
Bento Batista*
A minha relação com o pequi, fruto do pequizeiro, árvore considerada como o “esteio do Cerrado”, como diria o poeta catrumano Téo Azevedo, se vivo fosse, é uma relação sensorial até. E eis que o pequi já está no mercado de Belo Horizonte, a R$ 12 a bandeja.
Para quem ama o pequi, o preço alto não faz diferença porque os primeiros são mais caros mesmo, mas vale a pena saborear enquanto os maiores e mais baratos não chegam.
Se o leitor do Diário de Minas não sabe, vai ficar sabendo agora: o pequi é o alimento mais rico em vitamina A e do complexo B, sem falar dos sais minerais e das gorduras naturais e boas. É por isso mesmo que no Sertão das Minas Gerais o pequi é tido como afrodisíaco, apesar de que não contém nenhuma substância do tipo, mas porque proporciona encontros com famílias na tarefa de catar pequi no mato.
O pequi bom de ser consumido é catado no chão porque quando está no ponto o fruto cai do pequizeiro. E é consumido pelo sertanejo que, bem alimentado, promete “um filho do pequi” nove meses depois.
Por tudo, o pequizeiro é a árvore mais importante do Cerrado desde a boa sombra, porque se abre em copa, passando pelas flores, que atraem enorme quantidade de insetos e até mesmo a casca, que os animais consomem. Só às vacas não é permitido o consumo, porque o sabor do pequi vai para o leite.
Há no Brasil uma lei que impede o abate de pequizeiro em todo o território nacional. Evidentemente haver uma lei só não impede que isso aconteça, porque precisa haver também fiscalização por parte do Ibama, o que não acontece como devia. E pequizeiros são abatidos para virar carvão.
O pequizeiro é cantado em prosa e verso no Sertão e pode ser encontrado em vários municípios de Minas Gerais. A árvore é do Cerrado, mas não é encontrado nele todo. O melhor fruto vem do Norte de Minas, da região de Mirabela e Coração de Jesus.
Há na região uma cidade chamada Japonvá, onde quase toda a população vive do pequi, que é da melhor qualidade e além de ser comercializado “in natura”, vira xarope e até mesmo doce. Mas o melhor mesmo é consumir o pequi no arroz, o que aumenta o apetite do consumidor.
Particularmente, defendo o reflorestamento de pequizeiros, devido à sua importância socioeconômica e cultural, porque ele povoa a poesia, a crônica literária e a literatura de modo geral. Em Montes Claros, todo ano, mais para o final da safra, é realizada a Festa Nacional do Pequi, o que é uma grande atração festiva para a cidade e municípios vizinhos.