
Presidio de Ilha Grande, ("Caldeirão do Inferno") RJ - créditos: divulgação
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23-03-2025 às 08h08
José Altino Machado (*)
Acredito que, nestes tempos, todos tenham notado o avassalador crescimento da criminalidade extremamente organizada em nosso país. Esse negócio de Máfia, Cosa Nostra, Gangues de Nova York e velho Sindicato de ladrões, modelitos antigos, ficaram esquecidos e desaparecidos, no passado. Deles, “in memoriam”, só mesmo velhos e fantasiosos filmes; embora em um deles, naquela ocasião, espectadores, torcessem pelo velhinho mafioso, matador de gente e cavalo.
Neste período de tantas modernidades, nem quadrilhas são mais, alcançando o título de facções. E cada uma com nome mais bonito que a outra. E todas se referindo a Comando… de que, sabemos todos.
O que muitos ignoram, é que o modelos organizacionais modernos, implantados por elas foram todos aprendidos e absorvidos de presos políticos reacionários ao regime imposto na ocasião. Estes sim, verdadeiros maestros das artes que deram o excepcional espírito de corpo, hierarquia, proteção mútua e principalmente a visão de força de grupos e maiores lucros nas ilegalidades.
Pelos idos da década dos sessenta, repressão brava, o fundamento “legal” no comando estabelecido da Nação, era “tretou relou cana”. E foi um período em que muitos jovens e intelectuais um tanto açodados na atuação política, “tretaram” e muito. Assim, cadeia neles.
Não sei se poderia considerar azar deles por não estarem em lugar ideal a militância política com frutos, ou sorte dos ainda pés de chinelos presos e recolhidos a penitenciarias nacionais comuns. Mas, aconteceu…
Cárceres a seguir, se transformaram em verdadeiras universidades pagas pelo Estado, para diplomação de titulares a serviço de organizações criminosas. Melhores professores, ativistas, não poderiam existir àquela época, com altos sentidos e entendimentos do que fossem operações clandestinas. Ainda mais que naquelas “casas de descanso”, já estariam chegando com sangue nos olhos estando bastantes revoltados com o Estado não democrático, sequer de direito – segundo eles.
O exemplo dado, por “parecença”, da francesa ilha do Diablo nas costas da Guiana, abrigando condenados com algum fundamento político, não foi suficiente para os militares, então no governo brasileiro, observassem que tal mistura em clausura, seria eminentemente tóxica para a sociedade.
E outra não deu…
Criminosos se transformaram em excelentes administradores de atividades ilegais, priorizando inteligentemente o uso de informações em todos os redutos penais, agrupando metas e objetivos, bem dosando a violência quando necessária.
O resultado está presente e explosivo. O Brasil além dos estados federados, abriga um autêntico estado do crime, com domínio em extensas áreas habitadas, com obedientes eleitores, mais seguro, mais organizado, mais lucrativo, IDH mais elevado e seus componentes gozando de maior segurança e proteção de qualquer outro brasileiro fora de sua guarda.
Como também os intelectuais politizados, alguns até sem maiores merecimentos, anos mais tarde, ficaram economicamente abonados por leis indenizatórias de anistia geral para minha decepção.
Interessante registrar, que a tudo foi estabelecido uma comissão da Verdade, sem, entretanto, dizerem aos brasileiros qual seria ela e sua a inteira verdade contada e procurada.
Notável é que hoje os dois segmentos estão constantemente na mídia.
Na juventude tive a graça em ter um grande amigo, que por jocosos motivos políticos foi parar na Ilha Grande, esconderijo forçado à época dos grandes bandidos. Uma casa de detenção famosa nos mares costeiros do Rio de Janeiro. Para lá só iam mesmo malfeitores da “pior espécie”. E esse amigo, Carlos Imperial, hoje já falecido, foi parar lá por uma desrespeitosa brincadeira. Vale dizer que foi uma fenomenal cagada.
Início de ano, que mantinha chumbo continuado, ele produziu um cartão postal para o ano que chegava e os enviou a muita gente e entre eles, a quem não achou graça. Cartãozão bonito, com sua própria foto, bem num vaso sanitário. Nos dizeres: “feliz ano novo, cagando e andando”.
Na recordação, tenho ele a dizer frente a grupos de amigos comuns, que sequer teve tempo em aprender algo com a turma hospede original daquele lar de encarcerados “inocentes” que o recebera.
Por ainda acreditar que naquele ou qualquer estabelecimento prisional, o que sempre sobra é o tempo, questionado, disse que o empenho de todos recolhidos por problemáticas políticas, era ensinar como eles poderiam “fuder” (termo do Lula”) o governo fardado. Uma estupida estratégia idiota de vingança.
Mostraram aos apenados que público simpatizantes a eles nunca faltaria. Éramos, aliás, sempre fomos até nestes dias, um país de prisões com superlotações, e que apesar da época com ainda deficientes meios de comunicações, entre eles “pombos correios” existiam e eram confiáveis. Portanto…
Por outro lado, ainda sem existir a lei Rouanet, que anos mais tarde nosso presidente collorido sancionaria, muitos do mundo das artes buscariam participações nas resistências políticas àquele governo que diziam opressor. A estes, as melhores prisões foi de se manterem no exterior. Exilados… assim dizem eles, embora não tenha sido dada a sociedade nacional, nenhuma publicação do imperativo ato ou decreto de expurgos em nosso país.
Engraçado, que aos ditos e verdadeiros intelectuais, foram feitas reservas e consequentes ocupações logo num cadeião brabo. Aos “valentes artistas condenados a exílios”, nem Elba, Santa Helena, sequer Cuba, sendo lhes concedido o direito de morar em Londres, Inglaterra, talvez Paris e/ou outros maravilhosos lugares.
Desde seus regressos, se locupletam, sem nenhum pudor, até dias destes novos sopros nos momentos políticos, da tal lei collorida.
Teve gente que espontânea e “corajosamente” se dirigiu a um país vizinho, voltando quando lhes deram vontades. Chegando a acontecer um, que não gostando muito de vinhos chilenos, daquelas paragens rapidamente voltou, para ainda ser presidente do Brasil. Não obtendo lógico, a mesma boa sorte dos artistas à Europa.
Como resultado deste inacreditável imbróglio, mistureba de livros, pensadores, cantores, criminosos nem tão comuns se percebe que a contaminação geral se tornou enorme e de difícil contenção. Principalmente agravado pelos vírus de antagonismos nascidos em tempos de naturais revoltas e agora difundidos aos meios de comunicação, que tem abrigado informações além de maldosas, bastante danosas à tranquilidade da política nacional.
No Brasil, pós estes momentos, se confundem, artes com literatura, crimes naturais com verdadeiras milicias armadas e por que não, absurdas negociatas com disponibilidade de valores públicos.
Tudo se bem embaralhou. A qualquer tempo e hora, em qualquer meio de comunicação que se tenha às mãos ou aos olhos, na exposição do noticiário, todo este ambíguo time, ganha de goleada. Ficando bastante permitida a entrada de costumes que efeminizam necessários ânimos.
Só aparecem diuturnamente, nessa ordem, polícias, políticos, juízes, ministros, bandidos e assassinos com ferocidades jamais vistas nestas plagas brasileiras.
Nossos melhores institutos de segurança, e repressão aos verdadeiros crimes, a todo momento são invocadas a agir em pendências vingativas, herdadas dos mal-educados embates políticos.
Porém, repressão, tribunais e polícia demais, mostra sociedade doente e/ou governo incompetente. Combater a este mal, se tornou muito penoso, difícil e gerações acontecerão até que se reestabeleçam ordens mais normais a tais confusos comportamentos humanos.
Enquanto isso, uma grande maioria trabalha, em silêncio, sustentando todo este irresponsável circo mambembe. E com vergonha de serem honestos se recolhem a seus, agora mais que humilhados lares e afazeres.
Sucumbindo, nosso muito rico país, hoje se apresenta pobre, na política, na segurança e mais que nunca na própria cultura em que muitos, por isso se envergonham em serem honestos.
Pensando bem, ao progredirmos sem valores referenciais, cultuando mediocridades e sendo permissivos à ostentação de falsas identidades nacionais, nos permitimos apequenar…
Belo Horizonte/Macapá-23/03/2025
(*) Jose Altino Machado é jornalista