
Beneficiamento de lítio no Vale do Jequitinhonha compromete a saúde de crianças e idosos - créditos: divulgação
19-08-2025 às 14h00
Soelson B. Araújo(*)
A vida no Vale do Jequitinhonha mudou — e para pior. Em Araçuaí, o hospital está em colapso: os atendimentos aumentaram mais de 30% em poucos meses. São crianças com dificuldades respiratórias, idosos intoxicados, trabalhadores feridos pelas explosões diárias. A poeira tóxica de sílica que cobre casas, corpos e plantações não é acidente — é consequência direta de um modelo de exploração que se esconde por trás do discurso de transição energética.
Enquanto vendem ao mundo uma “energia limpa”, aqui o que chega é destruição. As detonações não racham apenas as paredes das casas — racham também o tecido social, a saúde mental das comunidades e o direito básico de viver com dignidade. Tudo isso em nome de um sistema que, mesmo sob a máscara verde, segue poluindo, violentando e matando.
Em diálogo com moradores da região eles disseram que não aceitam que o futuro dos povos do Vale continue sendo tratado como descartável e recusam pagar com suas vidas o conforto dos grandes centros urbanos, e não aceitam uma transição energética que repete as injustiças do passado.
É sabido pela mídia em geral que, a curto médio prazo, o Vale do Jequitinhonha receberá aproximadamente mais R$ 6 bilhões de reais em investimentos para extração de lítio com a instalação de novas mineradoras. Juntas estimam gerar mais 19 mil novos postos de trabalho, diretos e indiretos, mas não se cogita quais serão as compensações socioambientais e econômica para a região como compensação.
Os governos, municipais, estadual e federal precisam se posicionar a favor do povo do Vale ou a região estará fadada a virar uma “terra arrasada”.

As pessoas impactadas pela ação da mineração reagem e propõe um outro caminho: investimento em tecnologias limpas e descentralizadas, com participação popular e controle social; fomento à agroecologia e à agricultura familiar, que respeita o território, a água e cultura local; criação de empregos dignos e sustentáveis, valorizando os saberes tradicionais e as riquezas naturais do Vale; fortalecimento dos serviços públicos de saúde e educação, como base para a autonomia dos povos; infraestrutura que sirva à vida e não à mineração predatória, com acesso à água limpa, saneamento e mobilidade.
Sabemos que o governo federal, através do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social emprestou aproximadamente meio bilhão de reais (dinheiro do povo brasileiro) do Novo Fundo Clima para uma mineradora sediada em Araçuaí e Itinga. Só que, na realidade, ao em vez de investir de forma sustentável como prevê o programa, está contribuindo é para adoecer crianças e idosos com doenças respiratórias.
O que o povo do Vale do Jequitinhonha quer é simples: desenvolvimento com justiça socioambiental, onde a vida esteja no centro e as decisões sobre o território partam também de quem vive nele.
No ano da COP30 em novembro de 2025 em Belém do Pará, aqueles que amam o Vale em corpo, voz e afeto no coração, seguirão firmes: denunciando, articulando e sonhando outro futuro. Um futuro que não será dado — será conquistado com luta, coragem e solidariedade.
(*) Soelson B. Araújo é jornalista e escritor