
Super burro, mas nem tanto - créditos: Info8895
02-03-2025 às 0818
José Altino Machado (*)
Com saudades de filhos distantes, resolvi atender ao apelo de um deles, para que republicasse uma velha crônica, escrita há praticamente 20 anos. Ele dizia que nestes novos tempos, até políticas, políticos e novos agregados ao funcionalismo, estão tal e qual a experiencia universitária.
Vamos lá…
Fui visitar José Altino Machado Filho. José é meu filho, então universitário na Federal de Viçosa. Mais que prazer em ver-me, notei, gostava mesmo é de estar em seu ambiente estudantil, exibindo-o com segurança e exata noção do tamanho de seu reino. Formando em agronomia, tão logo chego, leva-me a percorrer aqui, acolá, vendo de tudo. Extensas plantações experimentais, como ele diz, que conheço como arrozal, milharal etc. Piscicultura ele diz e eu açude de peixe. Ranário diz ele, perereca, sapo eu. Enfim, seguia vaidoso mostrando tudo que eu deveria ter feito no meu tempo como rural agrícola; como diz ele: só roceiro, fazendeiro nada fiz…
O que sei é que o sentimento gerado em meu coração de pai é de dúvida. Se na verdade eu e meu pai que o precedemos, realmente erramos tanto, ou se há muita inocência juvenil nessa garotada, novos descobridores do mundo e da arte do trabalho.
Eu já conhecia bastante esta universidade. Afinal, quem nunca ouviu falar em sua fama. O mundo inteiro manda gente para lá às pencas para aprender a mais antiga arte dos homens: a LIDA COM TERRA e o sustento.
Confesso aqui, que não disse a ele, também para que o entristecer, dizendo notar, que aquela universidade está meio decaída. Houve tempo em que seu nome varria o mundo como modelo educacional, avanço tecnológico e sucesso em pesquisas.
Ela realmente infundia imenso orgulho na brasileirada.
Meu pai fez o que pode para eu ir para lá, mas o encanto da liberdade rural, da Amazônia dos garimpeiros e porque não das moçoilas que me levaram ao casamento precoce. Foi maior e o andarilho aqui não foi. Corrigi este deslize filial, conseguindo que meu filho pagasse a conta, devida, pelo pai ao avô dele. Ainda bem!
Nesses passeios por lá, dá melancolia verificar que a praga instalada em nosso Brasil também lá viceja. Confusões políticas, desajustes e a velha falta de recursos impedem que ela continue a brilhar. Professores ganham mal, vão à greve, não há recursos para pesquisas. Alunos insatisfeitos. Presentes se fazem o PT, a CUT, outros e até estudantes profissionais; há 25 anos que não querem sair. Seus servidores, funcionários federais, no rigor de suas exigências, não gostam, contrariam e toma mais greve e reboliço. É uma pena. Também ninguém mais sabe o que é mais importante para nossa nação.
Não se sabe mesmo; afinal; qual é o interesse primeiro, ela ou nós.
Nesta caminhada no mundo de ensino, numa curva da estradinha, em grande disparada, vem sobre nós uma carroça puxada por um burro gigantesco de pelagem aloirada. E sozinho, sem carroceiro nem guia. Não deu tempo nem de perguntar, pois me filho já gritava:
– “Tira o carro da frente que este é o super burro”.
Passou. Enquanto olhava assustado aquele monstro desembestado, perguntei:
– Que diabo é isto rapaz?
– Pai, isto é ciência … É o resultado de pesquisa da escola. Ele puxa uma carroça com 1500 quilos morro acima.
A este fenômeno foi dado o nome de Gaúcho. Tem um defeito é verdade, por ser da universidade é funcionário público federal, só trabalha nas horas certas. Pode olhar o relógio, são cinco da tarde. Ele deixa a pé quem estiver utilizando-se da carroça e se dana rápido e veloz para o desarreador. Seu almoço então, só na sombra, é de duas horas certas, nem minutos a menos: nas sextas, tarde em diante, refuga trabalho.
A esta altura, interrompi curioso, para saber se como os gaúchos, o dito burro também bebia nos fins de semana.
– Não pai, pelo menos isso não, respondeu explicando:
“O pai dele, um Percheron, importado, também de origem do funcionalismo público francês. A mãe, uma jumenta espanhola safada como ela só. E vai ver que isto é que deu num problema mais grave”.
Admirado, perguntei depressa, mas outro problema e mais grave, qual?
Ele meio sem graça, no maior respeito conservador mineiro:
– Pai, não se sabe por que, quando o burro Gaúcho passa pelas cocheiras arriado, todo garboso, rodando o rabo com o calor provocado pelo rabicho, o Pipoca, um mineiro de boa cepa, jumento reprodutor dos melhores, fica todo agitado e logo armado”.
“Efeito desviado da experiência ou o Gaúcho é bicha!”
Digo-lhe eu, sei lá filho, sei lá. E fomos para casa, pensativos, pois tem gente assim também…
BH/Macapá- 02/03/2025
(*) José Altino Machado é jornalista