
O popular padre Fábio com sua mães - créditos: divulgação
13-07-2025 ÀS 08h48
José Altino Machado (*)
Ainda há pouco tempo escrevi algo sobre o envelhecer. Um parecer que na realidade não era somente meu. Velhos colegas dos tempos de Fundação Getúlio Vargas ajudaram e muito, até com a ideia daquela mensagem e mesmo com o escrito. Fiquei feliz com a boa repercussão. Um bocado bom de “anciões” compareceu solidários.
Só que agora já me acham velho assumido e defensor da “causa” ou porta voz classista de uma turma desunida. Assim, mandaram-me um admirável vídeo com a palavra de um Padre católico pedindo a sua divulgação. Vou tentar, evidentemente, sem a simpatia, beleza e pureza daquele sacerdote porreta, que se chama Fabio, mas vou arriscar. Ele diz mais ou menos o que se segue:
Sempre tive um carinho muito especial por velhos. Lembro-me que quando eu era criança, ficava encantado observando lá em Formiga (MG), cidade onde nasci, velhinhos que ficavam na praça jogando cartas ou conversando fiado. Quedava-me olhando e pensando: Meu Deus do céu, quando eu crescer quero ser aposentado. Na verdade, acho que o primeiro projeto que tive para minha vida foi ser aposentado, de preferência do Banco do Brasil. Ainda mais animado ficava por ver que a velhice traz direitos maravilhosos, quando a juventude é cheia de obrigações.
Há dias, pensava como é difícil você ser jovem e você ter o direito de se cansar, tão diferente do velho que pode ficar cansado a hora que quiser, pode deitar a hora que quiser, e também pode dormir a hora que quiser. O máximo que vai ter é filho batendo em suas costas dizendo: “liga não, mamãe está velha”.
A juventude tem uma agenda tão pesada que muitas vezes não se tem nem se dá o direito de envelhecer. A velhice não lhes acontece, e ainda os engana com visão de eternidade. Mas, em futuro bem próximo, por mais que se torne um pretenso velhinho esperto, muito esperto, não haverá como fugir disso, mesmo não aceitando o envelhecer. E mesmo que não a sinta chegar, por mais que seja animado, atilado e fogoso, estará se deparando com sua doce inutilidade. E na vida nós todos temos que viver essa passagem desconcertante da inutilidade. Uma ironia.
Sei que a palavra é pesada, mas este é o movimento natural da vida. Perder a juventude é de alguma maneira também perder a sadia utilidade, consequência também natural da idade em que se chega, quando o tempo sopra sobre nós essa poeira dos anos e tempos passados.
Quando se vai perdendo as habilidades e as destrezas de jovens, haverá todos que experimentar esse ócio inútil que a velhice proporciona. Veja pelo lado bom, a gente tem que ser otimista até porque ser útil a outrem é coisa muito cansativa. Está certo. Nos realiza, humanamente falando é interessante se saber fazer as coisas, mas acredito que ter utilidade aos outros é um território muito perigoso. Muitas vezes a gente acha que o outro gosta da gente, mas não, ele está é interessado naquilo que a gente faz por ele.
É por isso que passando pela inutilidade na velhice, apenas fica o significado como pessoa. Acho que é nesse momento que a gente se purifica. É o momento em que se vai ter a oportunidade de saber quem nos ama de verdade e aquele que mesmo durante a velhice descobrirá a importância de nossa presença.
“Ainda mais que muitos hoje, na busca do amor também temperado e dosado pelo sexo, são tomados pelo preconceito e seletivos, ao julgar pela idade, não dão oportunidade a si próprio, à pessoa e ao momento” (JA)
Por isso sempre peço a Deus… Sempre faço a Ele a oração de poder envelhecer ao lado das pessoas que me amem, aquelas pessoas que possam me proporcionar tranquilidade em ser inútil, mas ao mesmo tempo não perder a estima.
Quando eu viver aquela fase na vida, de coloque o Padre Fábio (e o Zé Altino) no sol, tira o Padre Fábio (e o Zé Altino) do sol, pedirei a Deus sempre a graça de ter alguém que lá me coloque. Sobretudo alguém que vá me tirar depois. Alguém que saiba abrigar a minha inserviência (sic), alguém que olhe para mim e que saiba que eu já não sirvo a muita coisa, mas que continuo tendo valor.
A vida é assim… fiquem prudentes. Se quiserem saber se o outro te ama de verdade, é só identificar se ele seria capaz de tolerar a sua inutilidade, pois é assim que se depara com o amor.
Com certeza só mesmo o amor nos dará condições de cuidar do outro, até o fim. Por isso, feliz aquele que tem, ao crepúsculo da vida, a graça de ser olhado nos olhos, e ainda ouvir com ternura alguém dizer: “Você não serve para nada, mas eu não sei viver sem você”.
PS: Legal, recadinho a vida conjugal, pois mês passado minha mulher completou 47 anos, são agora 25 de boa amorosa relação, mas é bom seguir com cuidado merecendo o amor. Família do José Altino: Oito filhos, treze netos e três bisnetos