Ou os políticos mudam a maneira de fazer política ou continuarão a enricar os empreiteiros
Ao invés de soluções paliativas que não resolvem os recorrentes estragos das chuvas aqui e no Estado, as administrações gastam os tubos sem irem diretamente na causa.
24-12-2022
09h:59
Bento Batista*
O problema dos desalojados – cerca de sete mil – nesta temporada chuvosa e principalmente as mortes, que chegam a oito, além dos estragos causados pela água, tudo isto e um tanto mais devem ser debitados na conta dos políticos, no primeiro momento, na dos administradores das respectivas cidades.
Por quê? Porque tudo abaixo de Deus está relacionado à política. A política é definida como “a arte de governar os povos”. Entretanto, muito do que vemos no dia a dia – nós, eleitores dos políticos – é a falta da arte, ou a arte transformada em desastre.
A começar da maneira como as relações políticas acontecem no próprio meio deles. Comum é um fazer e o outro desfazer pelo simples capricho de vingar porque ambos se veem como inimigos.
Em verdade, falta espírito público em nossos políticos. Quando assumem uma administração, seja ela qual for, passa a achar que é dono dela e não raro acontece de pensar e trabalhar para si e o povo que se dane.
Desde que me reconheço como gente, gente humana, acompanho e chego enfim à conclusão de que no imaginário das pessoas, as chuvas são negativas, porque quando caem causam destruição, matam homem, mulher, criança, animais irracionais.
E, no entanto, as chuvas não têm culpa alguma. Devem ser reconhecidas como dádivas caídas do céu para todos, como as bênçãos de Deus derramadas o tempo todo, sem acepção de pessoas.
Isto posto, as chuvas são usadas pelos políticos tanto quanto as secas. Bastasse parar de chover – e por mal dos pecados da má política, estamos correndo o risco de testemunhar isso – para fazermos procissão, como acontece no Norte de Minas e no Nordeste brasileiro, pedindo aos céus uma gota d’água.
E a imprensa de modo geral repercute os problemas, entra ano sai ano, quando tinha de concomitantemente cobrar soluções. Mostrar que os prefeitos têm de preparar as cidades, com bastante antecedência, para evitarem os problemas. Afinal, cada um ocupa o cargo para esse fim, se esquecem do dever, as consequências são as recorrentes.
No caso particular de Belo Horizonte, os países que têm recursos hídricos correndo debaixo dos pés, como nós, todos se utilizaram da experiência de fechar os rios. Com o tempo, com as enchentes e as consequências do ato, perceberam que era necessário deixar tudo aberto, como antes.
Aqui, nós não aprendemos com eles a lição e fechamos tudo. É de se imaginar a quantidade de ruas de BH que tem córregos sufocados pelo asfalto. O que testemunhamos na Rua São Paulo, quando o Córrego do Leitão não suportando mais o sufoco, estourou tudo em busca de ar.
Tudo isso tem a ver com a política. Enquanto os políticos se limitam a enriquecer os empreiteiros, com soluções paliativas, as chuvas fortes serão vistas como drama. Para solucionar os problemas, temos de fazer como fizeram os países que fecharam os rios e fazer obras nas cabeceiras.
Quem sabe um dia as gerações do futuro poderão fazer prainhas às margens do Ribeirão Arrudas, no Centro de BH, como Paris fez às margens do Rio Sena?
O que os políticos têm a fazer é buscar soluções definitivas e deixar de falácias. Caso contrário, as chuvas, se continuarem caindo assim, farão os mesmos estragos, se a maneira de fazer política não mudar.
*Jornalista