Aqui faltou um memorial das vítimas da tragédia de Brumadinho - créditos: divulgação
28-12-2025 às10h46
Samuel Arruda*
Causou indignação a cena presenciada dias atrás na inauguração do Hospital Regional de Teófilo Otoni. Ao lado do governador Romeu Zema, deputados disputavam espaço e atenção do público como se fossem os verdadeiros responsáveis pela realização da obra. Em meio a discursos e poses para fotos, tentava-se vender à população a ideia de que aquela conquista tinha padrinhos políticos específicos. Trata-se de uma distorção grave da realidade.
É preciso lembrar, com clareza e honestidade, que o hospital foi viabilizado com recursos oriundos da indenização paga pela tragédia de Brumadinho — uma das maiores catástrofes socioambientais da história do país, que tirou a vida de centenas de pessoas e destruiu comunidades inteiras. Esses recursos não são favores de governos nem presentes de parlamentares. São fruto de uma reparação imposta à mineradora responsável pelo crime, após intensa pressão da sociedade e das instituições.

Transformar uma obra pública, financiada por indenização de uma tragédia, em palanque político é, no mínimo, desrespeitoso. Mais do que isso: é uma prática oportunista que tenta se apropriar de um direito coletivo para fins eleitorais. Hospitais, escolas, estradas e políticas públicas não pertencem a políticos — pertencem ao povo.
Esse tipo de comportamento precisa ser repudiado pela sociedade. O eleitor não pode se deixar enganar por discursos vazios, placas com nomes ou aparições em inaugurações. O verdadeiro papel de um deputado vai muito além de estar presente em eventos oficiais. Ele se revela nas ideias que defende, nos projetos que apresenta, nas votações que realiza e, sobretudo, no impacto concreto de sua atuação na vida dos cidadãos.
Escolher um representante exige atenção e consciência. É fundamental avaliar se o parlamentar defende políticas públicas que promovam justiça social, desenvolvimento sustentável, respeito ao meio ambiente, fortalecimento da saúde e da educação, além de transparência no uso dos recursos públicos. A política precisa ser um instrumento de transformação coletiva, não um palco para vaidades pessoais.
O povo mineiro — e brasileiro — merece respeito. Obras públicas são direitos conquistados, muitas vezes a partir de tragédias que jamais deveriam ter acontecido. Usá-las como propaganda eleitoral é um desserviço à democracia. Cabe ao eleitor não apenas repudiar esse oportunismo, mas também fazer escolhas mais responsáveis e coerentes com o futuro que deseja construir.
*Samuel Arruda é jornalista e articulista

