
As peças estão em movimento jogo político para 2026 - créditos: divulgação
13-07-2025 às 10h00
Lúcio de Medeiros*
A corrida presidencial de 2026, embora ainda distante no calendário eleitoral, já se desenha nos bastidores do poder. O que antes parecia uma movimentação sutil, agora se revela como uma jogada estratégica e incisiva. A movimentação já chegou em Brasília e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, se tornou o novo alvo prioritário do Palácio do Planalto e do Partido dos Trabalhadores (PT). Esta guinada na estratégia governista não é trivial e carrega consigo implicações profundas para a dinâmica política e, notadamente o próprio Direito Eleitoral brasileiro.
Até recentemente, Tarcísio era visto como um gestor focado em seu Estado, com uma imagem mais técnica e menos polarizada do que outros nomes da direita. Com sua popularidade no meio da direita em alta, impulsionada por projetos e uma comunicação eficaz nas redes– onde acumula milhões de seguidores no Instagram e TikTok, e vídeos com centenas de milhares de visualizações no YouTube – começou a soar o alarme no campo governista. É cediço que Jair Bolsonaro está inelegível até 2030, conforme decisão da suprema corte eleitoral do país, o que elege Tarcísio como uma potencial “terceira via” conservadora, capaz de atrair votos do eleitorado de centro-direita e até mesmo de segmentos moderados insatisfeitos com a polarização. Tal cenário o posiciona como o adversário formidável para 2026, algo que o PT e Lula não podem ignorar.
A nova estratégia governista, portanto, é clara: neutralizar o avanço de Tarcísio. Essa implicação se traduz em esforço coordenado para desconstruir sua imagem, seja pela intensificação da fiscalização sobre sua gestão, seja pela articulação de narrativas que busquem associá-lo mais fortemente a pautas e figuras polêmicas, retirando-o da “bolha” da gestão eficiente e o inserindo no embate ideológico. É o que se vê na atuação parlamentar da oposição da Assembleia paulista. A análise de comentaristas políticos e reportagens de veículos como a Veja e o Estadão já apontam para uma intensificação das
críticas e uma maior vigilância sobre as ações do governo paulista, sinalizando o início dessa ofensiva.
Contudo, é crucial observar as implicações da referida disputa no campo do Direito Eleitoral. A linha que separa o debate político legítimo da desinformação e do abuso de poder é tênue. Um desgaste de imagem, por exemplo, se for orquestrado com o uso da máquina pública, disseminação de notícias falsas ou exploração indevida de recursos, pode evoluir para um caso de abuso de poder político ou econômico. Casos anteriores de fake news e desinformação em campanhas eleitorais, que já levaram a processos de cassação de mandatos e declarações de inelegibilidade pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), servem como precedentes importantes. A vigilância da Justiça Eleitoral sobre o uso de inteligência artificial na produção de conteúdo eleitoral também será um fator determinante, especialmente com o avanço e a acessibilidade das ferramentas a disposição nas redes.
Em suma, o xadrez político de 2026 já está em andamento. A entrada de Tarcísio de Freitas no rol de principais adversários do Palácio do Planalto redefine o cenário eleitoral e intensifica a disputa por narrativas e pela opinião pública. Para a democracia brasileira, esse embate exige não apenas a atenção dos eleitores, mas também a vigilância constante das instituições e da imprensa, para que a busca pelo poder não viole os limites da legalidade e da ética. O termômetro já está em aumento e o futuro das eleições, bem como o próprio tecido social do país dependem de como essa jogada será conduzida.
*Lúcio de Medeiros é mestre em Direito pela UFMG. Advogado palestrante, consultor jurídico, sócio proprietário do Escritório LDM Advocacia e presidente da Comissão Eleitoral da OAB Barro Preto