03-03-2024 às 07h:37

Carlos Mota*

Em 1965, véspera do Carnaval, Minas Novas foi abalada por um ronco jamais ouvido na Bacia do Rio Fanado e ele começou fraco no Alto do Bentinho, na fronteira com Turmalina, e veio aumentando de volume à proporção que se descambava daquele altiplano, já tocando as penedias às alturas de nossa altanada e antiga vila.

Às vezes ele parava de roncar e alguém dizia: - “se cansou ou morreu!?, mas de repente ele zoava, pipocava, mas dava de falhar, mas, porém, todavia e contudo, corajoso algum se animava subir o Morro da Contagem e lá verificar que bicho era aquele?

-Não é o Sputinick, pois ele viria pelo ar?

?Não são os mísseis da Guerra Fria, porque também são alados?

?Não é um foguete de rabo soltado em Turmalina?

- Gentequá, Deus do Céu, será o que é?

Minas Novas não era um cuchichó qualquer, pois era acostumada a não se assustar com novidades, mesmo porque até OVNIS a visitavam, como o que quase levou pro Cosmos o Senhor Levy Maria de São Geraldo, no Alto do Ribeirão da Foha!

Mas aquele barulho era de se assustar!

Era uma manhã de sábado, dia de feira e o Mercado Municipal tinha que ser evacuado para o Baile de Carnaval naquela noite, mas o tal barulho até que ajudou, pois os burros e cavalos se agitaram e os feirantes resolveram voltar às suas roças antes do tempo habitual.

Mas não mais que de repente, uma poeira subiu na descida da ponte e em poucos minutos um aranzé estranho parou em frente à prefeitura e dele saltou um alienígena de capacete, casaco de couro e botas de cano alto, mas empoeirado e sujo de óleo feito um acarajé além do ponto.

E quem era aquele visitante tão estranho e que ninguém dele ousava se aproximar? E que bicho estranho era aquele em que nele ele veio montado?

Mas assim que ele tirou o capacete, cuspiu na palma da mão e esfregou a cara, todos bradaram:

? Nuhhhhh, gentequá, é o Artuzin de Maria de Cleomar!!!

E ele logo explicou que aquele aranzé era uma motocicleta da marca Java, a primeira em toda a história do Vale do Rio Fanado e que ele comprou em São Paulo e por três semanas mais parou para a consertar do que propriamente rodar.

E naquela mesma noite, aproveitando o óleo queimado e besuntado em sua branquíssima pele, Artuzinho se fantasiou de “Troglodita”, amarrou restos de ossos recolhidos nas bancas do mercado, pôs um enorme balaio na cabeça e, mesmo sendo mordido por dezenas de vira-latas, ganhou o concurso de fantasias da cidade!

*Carlos Mota é advogado, procurador federal, ex-deputado federal, escritor e membro da ALVA, Academia de Letras do Vale do Jequitinhonha