
A filosofia é a arte de questionar, se indignar e inquietar. CRÉDITOS: Reprodução
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30-05-2025 às 09h34
Daniela Rodrigues Machado Vilela*
A filosofia é uma ciência artística, repleta de indagações acerca de questões controvertidas. Causa amedrontamento, espanto em alguns indivíduos por arvorar-se em busca do conhecer os fenômenos da natureza, inclusive da humana.
O filósofo indaga sobre os desdobramentos dos fatos, assim como, os contornos do real, do subjetivo, do explicável e do indeterminável. Almeja compreender a si e ao mundo, é inquieto, às vezes, descrente. Admira-se e espanta-se diante da realidade, compreende de modo múltiplo e incerto as significações de tudo que o cerca e atravessa.
Diante da realidade, o filósofo é curioso, por vezes, ao se deparar com o sofrimento humano deprime-se, de outro lado, deslumbra-se com tantas formas possíveis de ler o mundo.
O amante da arte de filosofar está em constante busca por diálogos que alarguem sua compreensão sobre as grandes questões. Busca renovar as discussões, incluir novos elementos, atualizar paradigmas, atravessar os conhecimentos sedimentados utilizando-se de outros prismas de análises.
A filosofia é a arte de questionar, se indignar e inquietar. É genuína forma e possibilidade de abertura para respostas renovadas, pois ao interpelar as questões fundamentais como: ética, moral, justiça e tantos outros temas que lhe são caros, busca ampliar horizontes, e desta feita, se projetar rumo a novas interpretações.
Ao buscar conhecer o mundo, o homem compara, descobre, concorda e discorda de teorias e formas de compreensão dos fenômenos e acontecimentos.
Cada filósofo tem sua forma de percepção sobre o que se debruça a pesquisar.
A consciência filosófica é inquieta: busca-se, descobre-se, compara-se, e novamente diante das respostas esboçadas, são realizadas novas perguntas.
O filósofo vocacionado tem predisposição para a dúvida, admira-se com o mundo e sua complexidade. É curioso, tenta decifrar os fenômenos. É um maestro que busca novas sinfonias. Recusa-se a simplificar demais: questiona e reflete, tem olhar diferenciado, pois estranha o mundo e problematiza-o. A perplexidade o invade e a verdadeira reflexão filosófica se faz de modo investigativo, científico, humano e artístico, não havendo, portanto, espaço para o senso comum ou o achismo.
A profusão de temáticas envolve muitos prismas possíveis de análises, pontos de vista diversos e teorias inúmeras, porém, não é inalcançável a reflexão filosófica, trata-se de uma questão de deslocamento do olhar, de observar a realidade por outras dimensões. Estranhar, ver por ângulos outros os fenômenos, amplia horizontes, descortinar novas possibilidades de compreensão.
Filosofar é se abrir para outros posicionamentos, pois ao se indagar algo, se abre para um leque de novas opções e possibilidades de respostas. Afinal, cada ser percebe e sente o mundo de um modo que lhe é particular.
O filósofo por meio da dúvida, amplia sua compreensão e conhecimento, descobre novos significados, tem abertura para outros pontos de vista e visões de mundo, projeta-se para além de suas conceções e visões.
Compreender é “aprender com” e para isto é fundamental estar receptivo ao outro. É preciso duvidar, estranhar, sair da familiarização excessiva, perguntar, considerar um necessário distanciamento histórico para perceber com mais nuances o objeto de estudo. Compreender é ser interpelado, sair do porto seguro.
Quem tem real abertura para o debate, sai de si e se deixa tocar pela perspectiva do outro. Diálogo é momento de reciprocidade de falar e ouvir, de expor argumentos e ser atravessado por outras realidades e pontos de vista, visões de mundo.
São basilares do debate filosófico: indagação, mistério, diálogo, abertura para o novo, para a transformação e a dúvida. Seu oposto são: a certeza cristalizada, a verdade endurecida e a ausência de abertura para a mudança.
Enfim, tudo que existe flui, modifica-se, movimenta-se e é inconstante, pois não há certezas. Portanto, filosofar é um retirar-se das ilusões, um polir das perspectivas, expectativas e percepções, um despertar para o bem-viver, que por meio da arte do questionar, permite o conhecer e compreender de modo sempre crescente. A filosofia apresenta-se enquanto um lampejo diante das dores do mundo e do homem.
(*) Daniela Rodrigues Machado Vilela é doutora, mestra e especialista em Direito pela UFMG. Residente Pós-doutoral pela UFMG com financiamento público da FAPEMIG. Professora convidada no PPGD-UFMG. Autodidata na arte da pintura e da vida.