
O homem molda a natureza pelo trabalho - créditos: divulgação
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01-05-2025 às 12h12
Daniela Rodrigues Machado Vilela (*)
O trabalho tem valor central na vida humana, é dualidade, de um lado, proporciona riqueza, de outro, mantém o sustento. Seus sentidos e significados variam no tempo de acordo com os valores e percepções atinentes a cada momento histórico.
Trabalhar é modo de transformação da natureza, é ambiguidade permanente, se perfaz como castigo, mas é também salvação, é produtor de riqueza interna e externa do homem, elemento humanizador, constrói valores éticos.
Instrumentos e máquinas mecanizam o trabalho, que pode ser remunerado ou voluntário. É esforço muscular, movimento, dispêndio de energia. Provoca fadiga, enfraquece, é cansativo, repetitivo, demanda energia vital, força mental. Por outro prisma de análise, dignifica, promove criações artísticas, é libertador e fruto de inspiração. É ao mesmo tempo conformação e efervescência. Não se define em palavras, mas realiza-se na práxis.
É atividade laborativa, esforço empreendido objetivando algo de efeito prático ou intelectual, compreende a esfera de transformação da natureza. É domínio da ação, comportamento, movimento ativo. Se perfaz como um “fazer”, que pode conceder orgulho intelectual, é forma de mais aperfeiçoadamente domar o tempo.
O homem molda a natureza pelo trabalho, transforma matéria bruta em objetos. Por seu labor, não só é construtor, como transformador da própria realidade, tem poder para o bem e o mal, age sobre a natureza para satisfazer a si e aos demais.
Trabalho é técnica, inspiração, criação de obras de arte, quebra de paradigmas, modo de interpretar o mundo. Ligação do homem à natureza e mecanismo de concessão de instrumentos para transformá-la. É atividade criadora da práxis. O indivíduo devora a natureza, mas a cria, recria, humaniza-se, encontra-se e reconcilia.
O trabalho é fator de possibilidade do “ser” e “agir” no mundo. A mercadoria e o dinheiro são denominadores comuns, criam progresso, oprimem e libertam. A dicotomia do trabalho nunca cessa.
Trabalho é mão que executa, espírito e intelecto que dirige, direciona. É realizado por mãos e cérebro, ação e pensamento. Há atividades manuais e intelectuais, a obra produzida pelo sujeito pode ser de ruptura ou continuidade, esforço muscular ou mental, criação ou libertação.
Executar um trabalho, pode se dar mediante o uso da máquina, estar assessorado pela tecnologia.
Laborar pode ser condição para enriquecimento do espírito. Trabalhos artísticos, geralmente, não são utilitários, são formas de extravasamento do meramente linear e objetivo e, por isto, alargam a existência, concedem experiências outras, são movidos pela sensibilidade do artista, que se desliga de um mundo meramente utilitário, que escapa aos domínios da razão.
Trabalhar satisfaz urgências humanas. É mecanismo produtor de objetividade e subjetividade, é meio de produzir o alimento e a arte, de transformar a si e ao mundo, adaptar a natureza e lhe conceder sentido.
O trabalho artesanal é modo de reconhecimento social do artesão, que se orienta por aptidões e destrezas próprias, também, serve à coletividade que tem diante de si um objeto diferenciado.
Não obstante, as atividades executadas pelo trabalhador da indústria, se decompõem em tarefas menores, o que dinamiza a produção, mas torna o sujeito refém de técnicas que lhe fazem especialista na “parte”, mas desconhecedor do “todo”. A especialização excessiva faz do sujeito engrenagem do sistema de produção.
Um trabalhar que apenas satisfaz necessidades práticas, objetivas, é alienante, perde seu sentido de extravasamento em possibilidades e de tomada de consciência. Assim, impede o sujeito de afinar o próprio espírito.
O trabalho não se revela de todo, sua importância máxima reside no imediatamente imperceptível, é o homem que o executa quem lhe confere os contornos essenciais. Vive-se tempos de técnicas, modelos prontos, utilitarismo exacerbado, necessidades cotidianas inúmeras, consumismos. Porém, é urgente refinar o espírito, elevar as percepções e se integrar ao que produz.
A abstração do trabalho que o transforma em mercadoria, fixa preço e se revela num mercado de oferta e procura, de trocas comerciais com necessidades diversas, é elemento limitador da vida.
Portanto, o sujeito que trabalha deve reformar-se cotidianamente, porque a mesma atividade laborativa que eleva, pode embrutecer. Remodelar-se é urgente, rumo a uma humanização permanente. O operário deve ter consciência de si e do que produz. Trabalho é domínio da necessidade que almeja a liberdade, a potencialidade.
(*) Daniela Rodrigues Machado Vilela é doutora, mestra e especialista em Direito pela UFMG. Residente Pós-doutoral pela UFMG / FAPEMIG. Professora convidada no PPGD-UFMG. Diletante na arte da pintura e da vida.