
Alberto Senna no lançamento de seu livro em Montes Claros
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26-05-2025 às 09h42
Alberto Sena*
Foi em Montes Claros, terra onde ele e eu nascemos. De lá, vamos lançá-lo aqui, em BH, em data a ser marcada e anunciada, além de outros lugares por onde o mestre mandar.
Sem querer contar vantagem, mas só com a intenção de narrar a realidade do lançamento do livro “Darcy Ribeiro do Fazimento”, na terra onde ele nasceu – e eu também -, em Montes Claros, Norte de Minas, foi bem-sucedido e isto estou dizendo porque ouvi e vi a quantidade de gente que ali estava para aplaudir o mestre, que neste ano de 2025, completa 103, na escalada do nascimento.
Confesso agradecido e honrado pela guarida recebida da parte dos meus conterrâneos que foram ao Centro Cultural de Montes Claros para recepcionar Darcy, por meu intermédio. Como disse eu, na vez de falar aos que ali estavam, a minha primeira palavra foi pedir uma salva de palmas para Darcy e a segunda foi “gratidão” a todos os presentes.
Gratidão pela recepção, pelo carinho, pela consideração e apoio da Academia Montes-clarense de Letras (a qual pertenço na condição de “correspondente”, porque vivo em Belo Horizonte (MG), e a Academia Feminina de Letras, na pessoa da escritora e secretária Municipal de Cultura, Júnia Rebello. Gratidão aos que compareceram ao lançamento.
Fiz questão de agradecer o inestimável apoio do amigo Eduardo Brasil, que fez por mim na cidade, em termos de divulgação; agradeci a direção do Centro Cultural; agradeci a jornalista Adriana Queiroz; a grande fotógrafa Silvana Mameluque. E agradeço também a Andreia Pereira e o cinegrafista Alexandre, da Inter TV, pela matéria no jornal do meio-dia.
Eu não tive a menor dúvida de que Darcy ali naquela noite de 23 de maio chegou, e a minha impressão, desde o início, era de que estava presente em tudo e até me autorizou a pedir ao Marcus Mendes, que produzisse para mim um “banner” contendo os dizeres: “Bem-vindos – Darcy está aqui, presente”.
E tanto ele estava presente que foi homenageado pelo presidente da Academia Montes-clarense de Letras, o professor, psiquiatra e advogado, Edson Andrade, o primeiro a fazer uso da palavra numa sessão conduzida pelo jornalista, radialista e cineasta, Eduardo Brasil, produtor do filme “U Homi Qui Casô Cu’a Mula”, história contada por Téo Azevedo.
Depois que Edson Andrade fez uso da palavra para enaltecer o personagem Darcy Ribeiro, que ali estava sentado, como espectador, mas parece que só eu o via e ouvia o professor. O doutor Edson falou também do livro, o que incentivou mais ainda este escriba que, por ser jornalista, faz agora o seu comercial.
Depois do excelente Edson Andrade, o meu ex-professor de português, Wanderlino Arruda, um exemplo de vitalidade, fez uso da palavra e, na realidade, deu uma aula em meio ao que falou de Darcy e deste autor do livro, reconhecendo o trabalho que faço ao divulgar Montes Claros e da intimidade com Darcy com quem esteve em algumas ocasiões.
Por ser um professor, escritor, historiador, Wanderlino deu uma aula sobre Darcy e sobre a nossa Montes Claros antiga, com referências, inclusive, aos acontecimentos de 1930, estrelado por Dona Tiburtina e o vice-presidente Melo Viana, que, diante de um tiroteio, teve de deixar Montes Claros no mesmo trem no qual viera, puxado por “Maria Fumaça”, de ré.
Claro, que Wanderlino falou também do livro “Darcy Ribeiro do Nascimento”. Aliás, ele foi um dos primeiros a ler, porque lhe enviei o livro para que fizesse antes uma leitura. Como meu professor, homem respeitado na sociedade montes-clarina, ele elogiou o livro. Darcy e eu ficamos felizes.
Sob o comando do eloquente “mestre de cerimônia”, o Brasil, quero dizer, o Eduardo Brasil chamou o grande Diógenes Câmara, um craque em todas as posições, desde as esportivas como as relacionadas a cultura, um artista completo que sempre admirei (ele fez o padre do filme “U Hômi Qui Casô Cu’á Mula”).
Diógenes me emocionou até as lágrimas, que tive de despistar, de modo que se logo depois dele eu fosse o próximo a falar, dentro da liturgia da solenidade, não teria a menor condição. Ele recitou um texto meu sobre o menino que sobrevive em mim, aquele que jogava bolinha de gude no chão nu e cru; jogava finca na época das águas, quando o chão mole aceitava os nossos golpes. E empinava papagaios de papel impermeável.
O texto foi brilhantemente retirado do contexto maior, pelo arguto Brasil, quero dizer Eduardo Brasil. E o camarada Diógenes Câmara, que possui memória de elefante, interpretou o texto para gáudio meu e do público, que deu a mim o imerecido prestígio, registrado pela jornalista e escritora Mara Narciso – ela disse: “Gostei do seu lançamento. Foi muito prestigiado e divertido”.
A escritora integrante da Academia Feminina de Letras, Júnia Rebello, secretária de Cultura de Montes Claros também falou sobre Darcy e sobre o autor e o livro, o que acrescentou mais calor humano ao ambiente.
O escritor Mário Ribeiro Filho, conhecido como Ucho Ribeiro, falou em seguida e por meio dele se pôde perceber a presença de Darcy no ambiente, porque em certo momento, ele até imitou a maneira do tio contar as suas histórias. Imitou a voz de Darcy como se estivesse possuído.
Ucho é autor do maravilhoso livro “Escrituras Catrumanas, com ilustrações de Silvana Soriano, que de maneira poética se embrenha pelo Sertão à semelhante do mineiro Guimarães Rosa. “Escrituras Catrumanas” é um livro que todos deviam ler antes de morrer.
Quando chegou a minha vez, até aparecia que estava incorporado por Darcy, que, possivelmente, me cutucaria de onde se encontra para cobrar a escritura que de fato se concretizou 38 anos depois da nossa convivência.
Falei sobre a experiência de sete meses de convivência com Darcy, que pediu para falar comigo e com Carlos Olavo da Cunha Pereira, assessores de imprensa dele, secretário Extraordinário da Assuntos Sociais e Desenvolvimento, todos os dias, de segunda a sexta-feira, às 8h. “Quero os dois em meu gabinete” – disse.
O que para mim foi um privilégio.

* Alberto Sena é jornalista