
R5, Moeda de negociação dos países do BRICS gera discórdia com os EUA - créditos: UFF
20-07-2025 às 09h49
Luís Carlos Silva Eiras (*)
Trump, no seu show diário, voltou sua artilharia verbal contra o Brasil em 15 de julho de 2025, mirando o PIX, sistema de transferência instantânea que revolucionou as transações financeiras no país.
Em um post no X, Trump classificou o PIX como “uma ferramenta dos globalistas” e uma ameaça à soberania financeira dos EUA, sugerindo que o sistema brasileiro estaria alinhado com os esforços do BRICS para minar o dólar.
Ele também acusou o PIX de facilitar “transações obscuras” e de ser um cavalo de Troia para a R5, a moeda digital em desenvolvimento pelo bloco. Essas críticas, embora inflamadas, revelam um pânico maior: o avanço silencioso da R5, uma moeda que pode redefinir o sistema financeiro global.
Trump não sabe que o PIX foi lançado durante o governo de seu conhecido (ex-amigo) Bolsonaro.
A Ameaça da R5 e o Medo do Dólar
A R5, proposta pelo BRICS (Brasil, Índia, África do Sul, Rússia e China – três democracias e duas ditaduras), é mais do que uma moeda digital; é um projeto geopolítico ambicioso. Diferentemente do bitcoin, voltado para indivíduos, ou do dólar digital, preso às regulamentações americanas, a R5 é desenhada para nações.
Lastreada por uma cesta de moedas — rublo, rúpia, real, rand e renminbi — e potencialmente por ouro e petróleo, ela promete um sistema financeiro independente do SWIFT (rede mundial que conecta bancos e instituições financeiras), o que significa comércio internacional sem a supervisão de Washington.
Trump, em seus ataques, vinculou o PIX a esse movimento, alegando que o sistema brasileiro é um “laboratório” para a R5, uma afirmação que, embora exagerada, reflete temores reais nos EUA.
Lançado em 2020 pelo Banco Central do Brasil, o PIX permite transferências instantâneas a custo zero, conectando milhões de usuários e reduzindo a dependência de intermediários financeiros tradicionais.
Trump sugeriu que sua eficiência e popularidade o tornam um modelo para sistemas alternativos como a R5, que poderia escalar globalmente. Essa narrativa, embora alarmista, aponta para uma verdade incômoda: o domínio do dólar está sob ameaça, e o BRICS está explorando brechas na hegemonia financeira dos EUA.
A Guerra Cambial
A crítica de Trump ao PIX não é isolada. Ela se insere em um contexto de crescente tensão financeira global. A dívida americana ultrapassou 34 trilhões de dólares, e a confiança no dólar como moeda de reserva global está se erodindo. Enquanto o Federal Reserve retoma a impressão de dinheiro para sustentar a economia, mais de 40 países, muitos alinhados ao BRICS, buscam alternativas para escapar das sanções e do controle financeiro dos EUA.
A R5, com protótipos em teste e um possível lançamento em 2026, é a resposta: uma moeda programável que permite acordos comerciais diretos, sem intermediários ocidentais.
Os ataques de Trump ao PIX parecem uma tentativa de desacreditar sistemas financeiros que desafiam a centralidade do dólar. Ele acusou o Brasil de “jogar sujo” ao promover o PIX como uma alternativa que poderia inspirar outros países do sul global.
Essa retórica reflete o pânico em Washington: se a R5 ganhar tração, a demanda por dólares pode colapsar, elevando a inflação nos EUA e reduzindo a capacidade do país de financiar sua dívida.
Um Novo Sistema Financeiro
A R5 não é apenas uma moeda; é um sistema operacional financeiro que exclui o dólar, o FMI e as instituições dominadas pelo Ocidente. Baseada em blockchain, ela promete transações seguras e programáveis, permitindo que os países do BRICS controlem suas próprias regras comerciais.
Em seu ataque, Trump sugeriu que o PIX, com sua infraestrutura digital robusta, poderia ser integrado a esse sistema, uma alegação que carece de evidências concretas, mas que alimenta o discurso de ameaça. O verdadeiro temor é que, ao funcionar, a R5 transforme o BRICS em um bloco financeiro autossustentável, livre da influência americana.
O desenvolvimento da R5 ocorre em segredo, com pilotos já em andamento na Rússia e na China. Conversas sobre lastro em ouro e petróleo sugerem uma tentativa de criar uma moeda com credibilidade intrínseca, diferente do dólar, que depende da confiança na economia americana.
Para Trump, o PIX representa uma peça nesse quebra-cabeça, um símbolo de como os países do BRICS estão construindo infraestruturas financeiras, que desafiam o dólar.
O Futuro do Poder Global
Os ataques de Trump ao PIX, embora exagerados, revelam a ansiedade americana diante da desdolarização. A R5, se bem-sucedida, pode redefinir o equilíbrio de poder global, reduzindo a influência dos EUA e aumentando o caos interno em um país já polarizado.
A retórica de Trump, chamando o PIX de “ferramenta globalista”, é uma tentativa de mobilizar sua base contra um inimigo externo, mas também expõe a fraqueza de um sistema financeiro americano que não está preparado para a guerra do código.
Enquanto o BRICS avança na construção de uma nova internet financeira, os EUA parecem estar atrasados. A R5 não é apenas uma moeda; é um firewall geopolítico que promete proteger o sul global das sanções e do controle ocidental.
O PIX, por sua vez, é apenas um alvo conveniente para Trump, uma forma de atacar o Brasil enquanto desvia a atenção do verdadeiro problema: a incapacidade dos EUA de conter a ascensão de um sistema financeiro alternativo.
Preparados ou Pegos de Surpresa?
A guerra cambial está em curso, e ela é silenciosa. Enquanto Trump aponta o dedo para o PIX, o BRICS codifica o futuro do dinheiro. Para o Brasil, as críticas de Trump ao PIX são um lembrete de sua relevância no xadrez global, mas também um aviso: o país está no centro de uma disputa que vai muito além de transferências bancárias. E que o dólar começa a ficar distante do poder e da arrogância descritas por Dharshini David, em “O Poderoso Dólar: Uma Jornada Global” (Elliott e Thompson, Londres, 2018).
(*) Luís Carlos Silva Eirasé jornalista