
A chance de liderar pelo exemplo, não pela submissão. E isso começa por abandonar a vergonha de si mesmo e assumir que o futuro — se for justo — será coletivo. CRÉDITOS: Reprodução
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11-04-2025 às 09h27
Claudio Siqueira*
O mundo muda enquanto uns seguem distraídos com memes e os gritos de sempre. A guerra tarifária iniciada por Trump — ressuscitada com ares de política de Estado sob Biden — acelerou o que já era inevitável: a reorganização do tabuleiro global.
A China, longe de se dobrar, endureceu. E ao lado do Japão e da Coreia do Sul, dois gigantes da manufatura e da inovação, selou acordos silenciosos que apontam para uma Ásia cada vez mais autônoma. A tríade oriental, antes distante por feridas históricas, agora se aproxima com os olhos voltados para o século XXI — e não mais para as fronteiras do século XX.
Em meio a esse realinhamento, o Brasil tem nas mãos mais que commodities. Tem voz, mercado, território, energia e um assento no BRICS que nunca foi tão estratégico. O novo banco dos BRICS avança. A desdolarização das trocas entre países do Sul Global começa a ganhar tração. E se o Brasil souber abandonar o papel de vassalo das metrópoles financeiras, pode liderar uma alternativa real ao modelo de exploração que sempre nos coube. Mas é preciso querer ser cabeça — e não cauda.
O mundo conhece ciclos. Impérios que pareciam eternos ruíram por dentro: Roma, Londres, Washington. Todos caíram quando passaram a ignorar suas contradições internas, quando a pilhagem deixou de sustentar a máquina. Agora, o império neoliberal, com sua retórica de eficiência e meritocracia, se desfaz por excesso de mentira. O crescimento da extrema-direita, burra, racista, entreguista, é um espasmo do velho mundo tentando se preservar.
Neoliberalismo não é ciência, é doutrina. Criada para transformar o Sul em colônia de novo tipo: sem tropas, mas com juros. Sem correntes, mas com algoritmos e agências de risco. Vendeu a promessa de liberdade enquanto concentrava riqueza. E agora, em colapso moral e logístico, revela que o rei está nu. Cada plano de austeridade, cada privatização, cada arrocho imposto à classe trabalhadora escancara sua falência.
Ainda assim, entre os escombros, nascem caminhos. O Brasil tem a chance de se reconectar ao seu destino sul-americano, latino e afro-atlântico. A chance de liderar pelo exemplo, não pela submissão. E isso começa por abandonar a vergonha de si mesmo e assumir que o futuro — se for justo — será coletivo.
* Claudio Siqueira é jornalista, editor de vídeo, acadêmico de antropologia na UNILA, trabalha no H2FOZ portal de notícias de Foz do Iguaçu.
Fontes: Veja /UOL Economia